Damadi, VP da Porto Seguro: "a tendência é que o nosso segundo trimestre seja melhor, principalmente por causa da queda da sinistralidade das carteiras de automóveis e de saúde" (Fernando Martinho/Porto Seguro/Divulgação)
Natália Flach
Publicado em 4 de maio de 2020 às 15h42.
Última atualização em 4 de maio de 2020 às 20h33.
Não foram apenas as pessoas físicas que viram seu portfólio de investimento ficar mais enxuto por causa da queda de 30% do Ibovespa em março. A seguradora Porto Seguro perdeu 135 milhões de reais dos 370 milhões de reais que compunham a sua carteira de renda variável. "A gente não realizou o prejuízo; na verdade, aproveitamos que a bolsa estava barata para comprar mais", afirma Celso Damadi, vice-presidente de finanças, controladoria, investimento e planejamento da Porto Seguro, em entrevista à EXAME. A companhia concentrou as compras em papéis dos setores de alimentação, bancos, celulose e energia. Essa nova safra de papéis somada à retomada de 10,38% do Ibovespa, em abril, levaram a carteira a alcançar o atual patamar de 750 milhões de reais.
Damadi estima que o Ibovespa retomará os 85.000 pontos no fim do ano - nesta segunda-feira, está sendo negociado ao redor dos 77.000 pontos. "Se não tivermos um repique da doença [novo coronavírus], é possível que o indicador volte para os 100.000 pontos em 2021. Não acreditamos em uma recuperação da economia em 'V', temos um cenário mais conservador", acrescenta. Para este ano, a projeção da Porto Seguro para o produto interno bruto (PIB) é de uma queda entre -4% e -5% e, no ano que vem, um crescimento de 3% a 4%.
Até a retomada econômica em 2021, a Porto Seguro pode enfrentar trimestres difíceis. Segundo Damadi, o resultado de janeiro a março foi pouco impactado pelo isolamento social em decorrência da pandemia. "Vínhamos com redução da sinistralidade nas carteiras de saúde, vida e automóveis e com resultado operacional bom", diz.
De fato, o resultado operacional deu um salto de 52% no primeiro trimestre para 421 milhões de reais. Já os prêmios emitidos aumentaram 2,3% para 3,7 bilhões de reais e a sinistralidade total recuou 1,5 ponto percentual para 52,6%. Com isso, o índice combinado teve uma queda de 1,1 p.p. para 94,1% - quanto mais longe de 100%, mais saudável está a operação da seguradora.
No entanto, os resultados financeiros foram bastante impactados e caíram mais de 100% no primeiro trimestre, ficando em -1,5 milhão de reais. Já o lucro líquido caiu 23,8% para 228 milhões de reais.
"A tendência é que o nosso segundo trimestre seja melhor, principalmente por causa da queda da sinistralidade das carteiras de automóveis e de saúde", diz Damadi. No caso de automóveis, o indicador deve cair por causa das regras de isolamento social e, no caso de saúde, por causa do adiamento das cirurgias eletivas. "Nossos modelos estatísticos mostram que no pós-isolamento devemos ter aumento da sinistralidade, pois tem relação com aumento do desemprego. Por isso, estimamos que no terceiro e no quarto trimestres veremos uma piora desse indicador", acrescenta.
Se por um lado o segundo trimestre deve ter menos sinistralidade, por outro, deve registrar menos prêmios vindos da venda de carros novos. Isso porque as pessoas não têm saído para ir a concessionárias. "Boa parte dos prêmios vem dos carros zero, e isso deve pressionar as despesas administrativas e operacionais que vinham em queda."
A redução das despesas deve vir do corte de serviços terceirizados de eventos, por exemplo, e da transformação digital que tornará possível que as vistorias prévias sejam totalmente digitais. "Aderimos ao movimento de não demissão e não vamos reduzir o salário dos funcionários", afirma. "Entramos nessa crise com volume de caixa muito bom. Muitas pessoas diziam que deveríamos distribuir mais dividendos, mas sempre pensamos na perenidade. É exatamente por isso que hoje podemos ajudar a cadeira de serviços, com adiantamentos e renegociações, e os nossos clientes", diz.