O First Republic foi comprado pelo JPMorgan nesta segunda, 1, após agentes reguladores assumirem o controle do banco (Getty Images/Site Exame)
Redação Exame
Publicado em 1 de maio de 2023 às 16h38.
Última atualização em 2 de maio de 2023 às 13h49.
A falência e resgate do First Republic nesta segunda-feira, 1, é um lembrete de que os bancos dos EUA continuam a enfrentar uma crise quase dois meses após o colapso do Silicon Valley Bank.
Apesar de uma rápida aquisição pelo JPMorgan, a falência do First Republic pode ser um sinal de que a crise bancária está longe de terminar.
O banco californiano First Republic Bank foi tomado pelas autoridades americanas, e a maior parte dos ativos do banco foi adquirido pelo JPMorgan, com o objetivo de pôr fim a uma crise bancária que começou em março.
O First Republic não conseguiu apresentar um plano de resgate viável e na semana passada revelou ter perdido mais de 100 bilhões de dólares (cerca de 500 bilhões de reais na cotação atual) em depósitos no primeiro trimestre, fazendo suas ações despencarem.
As autoridades tentaram apresentar um plano de resgate. O governo federal interveio através da Corporação Federal de Seguros de Depósitos (FDIC) e do Tesouro dos Estados Unidos, que entrou em contato com seis bancos na semana passada para sondar seu interesse em comprar os ativos do First Republic, informou à AFP uma fonte, que pediu para ter sua identidade preservada.
A FDIC, entidade reguladora encarregada de garantir os depósitos bancários, informou, nesta segunda, ter aprovado a medida para resguardar as contas.
O JPMorgan interveio para comprar o banco depois que os reguladores assumiram o controle, dizendo em comunicado à imprensa que adquiriria US$ 92 bilhões em depósitos do First Republic Bank.
"Para proteger os depositantes, a FDIC vai entrar em um acordo de compra e tomada de posse com JPMorgan Chase Bank, National Association, Columbus, Ohio, para assumir todos os depósitos e de forma substancial, todos os ativos do First Republic Bank", informou a FDIC em nota.
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A principal base de clientes do First Republic era formada por clientes muito ricos que raramente deixavam de pagar empréstimos. Mas isso também significava que muitos detinham muito mais do que o limite de depósito de US$ 250.000 segurado pelo FDIC.
No final de 2022, dois terços dos depósitos do First Republic não tinham seguro. Quando o SVB e o Signature Bank faliram, esses clientes ricos fugiram em massa com medo de perder seu dinheiro.
Os depósitos caíram 41%, para US$ 104,5 bilhões, nos primeiros três meses deste ano. De acordo com o portal Business Insider, esta valor deve ter caído outros US$ 12 bilhões até a aquisição do JPMorgan, com base no valor do depósito de US$ 92 bilhões citado.
Além disso, o First Republic procurou atrair seus clientes ricos com hipotecas muito baratas quando as taxas de juros estavam no fundo do poço, oferecendo empréstimos imobiliários com juros apenas em 2020 e 2021. De acordo com a Bloomberg, isso inclui uma hipoteca de US$ 11,2 milhões para um executivo sênior do Goldman Sachs.
No entanto, como a taxa de hipoteca fixa de 30 anos mais que dobrou no espaço de um ano, essas hipotecas se tornaram muito menos valiosas para o First Republic do que quando foram inicialmente oferecidas.
Essa combinação de depósitos em queda e perdas crescentes em sua carteira de hipotecas condenou o banco. Os paralelos com o SVB, onde uma grande parte dos depósitos não tinha seguro e as perdas ligadas ao aumento das taxas de juros se tornaram insustentáveis: eram gritantes.
O fracasso combinado de SVB, Signature e First Republic é um lembrete dos problemas que afetam o sistema bancário. O Índice Dow Jones US Bank caiu cerca de 16% desde o colapso do SVB por conta desta incerteza.
Embora as condições do mercado pareçam ter eliminado os três bancos mais expostos, ainda há outros que permanecem vulneráveis, segundo a Business Insider.
Os empréstimos de emergência dos credores do Federal Reserve aumentaram pela segunda semana consecutiva até 27 de abril, segundo dados divulgados pelo banco central dos EUA.
E ainda há cerca de US$ 1 trilhão em depósitos não garantidos mantidos por bancos americanos. Enquanto isso, as taxas de juros mais altas devem continuar pressionando os bancos mais fortemente expostos a títulos e hipotecas.
O resgate do First Republic deve restaurar alguma calma nos mercados. De fato, as ações do JPMorgan subiram 4,2% nas negociações de pré-mercado após o anúncio. Mas o caminho à frente é muito mais assustador do que antes do início das falências dos bancos.
O Federal Reserve de Nova York disse que as condições financeiras "se deterioraram acentuadamente" em suas regiões.
Mais cautela é provável, o que significa que provavelmente será mais difícil obter um empréstimo, ao mesmo tempo em que a oferta monetária mais ampla encolhe, ameaçando uma recessão, de acordo com uma nota da BlackRock divulgada pela Bloomberg.
Se isso impedirá que mais bancos tenham problemas, ainda não se sabe.