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Por que o dólar caiu por 12 sessões consecutivas

Quebra das expectativas acerca de uma política tarifária mais dura de Donald Trump tirou parte da pressão na divisa

Dólar: moeda registra 12 sessões em queda (Designed by/Freepik)

Dólar: moeda registra 12 sessões em queda (Designed by/Freepik)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 5 de fevereiro de 2025 às 16h02.

A divisa americana, que atingiu um patamar nunca antes visto em dezembro de 2024 – chegando ao recorde dos R$ 6,27 no fechamento do dia 18 de dezembro –, agora perde força frente o real. Durante 12 sessões consecutivas, o dólar recuou frente a moeda brasileira, saindo dos R$ 6,04 no dia 20 de janeiro, para os R$ 5,771 no dia 4 de fevereiro. Essa foi a maior sequência de quedas desde o Plano Real.

Dentre os muito motivos que mexem diariamente com o câmbio, o ‘efeito Trump’ foi o principal. Desde sua eleição, o mercado aguardava uma política tarifária intensa, em que era ventilado tarifas de até 60% da China. Mas não foi o que ocorreu - como disse Luis Stuhlberger, Donald Trump parecia estar em uma política mais ‘paz e amor’.

Era esperado que, em poucos dias de seu mandato, a política tarifária já tivesse algum rumo, mas isso demorou para ocorrer – e, quando ocorreu, houve um vai-e-volta. O presidente americano, no dia 1º de fevereiro, assinou ordens executivas para taxar em 25% o México e o Canadá, além de 10% a China.

Poucos dias depois, o republicano voltou atrás e entrou em um acordo com os países vizinhos para suspender por 30 dias a imposição das tarifas. Além disso, as tarifas contra China, apesar de não ter havido acordo, foram muito menores do que os 60% especulados.

O resultado foi uma descompressão do dólar nesses últimas dias, não só contra o real, mas contra a maior parte das moedas. “Trump não anunciou nada praticamente na primeira semana. Neste final de semana, parecia que iria começar, mas na segunda já voltou atrás. Diante disso, o dólar foi perdendo um pouco de força, porque foi ficando claro que talvez o cenário mais adverso não fosse acontecer”, afirma Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

Outro fator determinante foi a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a expectativa para as próximas, que deve manter a trajetória de alta na taxa Selic pelo menos até março, com elevação de mais 1 ponto percentual (p.p.), assim como confirmado na Ata do Copom divulgada ontem.

De acordo com Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, esse movimento também contribui para a valorização do real. “Com juros elevados no Brasil e sem grandes ruídos políticos, o fluxo de entrada de capital aumenta, favorecendo o real”, afirma.

O movimento de alta da Selic também colabora com a valorização da moeda brasileira, à medida que aumenta a atratividade do carry trade de juros e, por consequência, aumenta o diferencial de juros entre o Brasil e o Estados Unidos, explica Marcio Riauba, head da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio.

Outro fator citado pelo especialista é a falta de vetores ligados ao tema fiscal. Embora o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tenha dito que o pacote de medidas fiscais aprovadas Congresso Nacional no final de 2024 já surtiu efeito e provocou uma contenção de despesas da ordem de R$ 30 bilhões, os fatores externos, segundo Riauba, acabaram surtindo um efeito maior para os ativos brasileiros, como o real.

Para onde vai o dólar?

Cruz se coloca otimista. Para ele, o dólar pode voltar para a casa dos R$ 5,40 – patamar que estava antes da crise com o pacote fiscal. “Mas lembrando que temos pela frente um orçamento e provavelmente algumas discussões vão levar a crer que o fiscal vai piorar”, afirma.

Essas discussões seriam, segundo o especialista, a parte da reforma tributária que irá discutir a isenção de imposto de renda, o que reduz ainda mais a arrecadação para 2026, além do próprio orçamento no congresso, com as discussões das emendas parlamentares. “Tudo isso joga contra a parte fiscal, então não sei se é tão fácil voltar para aquele patamar.”

Já Riauba responde que é tudo muito incerto. “A pergunta de até onde a taxa do câmbio pode chegar é um mistério até para os mais estudiosos”, brinca.

Entretanto, cita alguns pontos que podem contribuir com a queda da moeda americana assim como os fatores que possam levar pressão a moeda nacional e fazer com o que o dólar suba.

Como destaque principal de um ponto positivo ao real, está a redução dos ruídos frente ao tema fiscal e político no Brasil.

Já pelo lado negativo para a moeda nacional, a guerra comercial e as expectativas inflacionarias no mundo podem fazer com que as moedas que detêm um risco maior sejam penalizadas e investidores voltam a mirar em economias mais sólida mesmo com menor retorno sobre os investimentos.

No último Boletim Focus, a média das projeções do mercado reportadas pelo Banco Central (BC) indica que o câmbio deve finalizar 2025 na casa dos R$ 6, assim como em 2026 e em 2028. Para 2027, as estimativas apontam para R$ 5,93.

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