Bull ou Bear: está cada vez mais difícil prever para onde o mercado vai (wenich-mit/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 9 de novembro de 2025 às 09h40.
Prever o movimento dos mercados nunca foi tarefa simples. Mas tentar antecipar quando a próxima crise vai estourar na maior economia do planeta parece cada vez mais impossível. Ainda assim, o burburinho em torno das altas avaliações das empresas de tecnologia americanas acendeu o alerta entre os grandes nomes de Wall Street.
“Vários ativos parecem estar entrando em território de bolha”, alertou Jamie Dimon, presidente do JPMorgan Chase, em meados de outubro. A opinião tem peso não apenas por vir do maior banco dos Estados Unidos, mas por refletir uma preocupação generalizada.
David Solomon, do Goldman Sachs, fala em “exuberância dos investidores”. Jane Fraser, do Citigroup, vê “excessiva valorização”.
O Banco da Inglaterra alertou para o “risco de uma forte correção” e o Fundo Monetário Internacional (FMI) teme uma “correção desordenada”, já que os preços dos ativos de risco estão bem acima dos fundamentos.
Os números confirmam a apreensão. Para comprar o conjunto de ações do S&P 500, os investidores hoje pagam cerca de 40 vezes o P/L (Preço sobre lucro) ajustados ciclicamente, um múltiplo superado apenas durante a bolha das pontocom, segundo reportagem do The Economist.
Nos títulos corporativos de grau de investimento, o prêmio de risco em relação aos Treasuries é de apenas 0,8 ponto percentual, o menor desde 2005, pouco antes da crise financeira global. Até o ouro, tradicional porto seguro em tempos turbulentos, tem oscilado com força: depois de atingir máxima histórica em outubro, caiu 7% em dois dias e já está 9% abaixo do pico.
Talvez uma correção já tenha começado. Mas quando virão as próximas? Essa é a pergunta que persegue fundos quantitativos e hedge funds que prometem retornos em qualquer cenário.
“O nirvana do trading macro é prever esses pontos de virada”, disse ao The Economist James White, da gestora Elm Wealth. “Mas atingir esse nirvana é praticamente impossível.”
Traders e analistas buscam identificar uma correção, mas prever quando ela virá significa, essencialmente, prever a volatilidade, ou “vol”, no jargão financeiro. A volatilidade é a propensão dos preços dos ativos a oscilar.
Para isso, eles se baseiam em alguns padrões observáveis. Um deles é que a volatilidade é “bimodal”: os preços passam longos períodos variando pouco, intercalados com curtos intervalos em que os movimentos são intensos. Em outras palavras, a volatilidade tende a saltar de um regime para outro, de baixa para alta, sem muito meio-termo. Durante os períodos de baixa volatilidade, os preços tendem a se manter estáveis ou em alta; nos de alta, geralmente caem.
Como a volatilidade costuma permanecer em um regime ou outro por longos períodos, a melhor forma de prever a “vol” de amanhã é olhar a de hoje, segundo a reportagem do The Economist.
Essa é a base dos modelos autoregressivos usados por bancos e gestoras para medir risco.
Eles também servem para precificar opções, já que esses contratos dependem da estimativa de volatilidade esperada. Mas, embora úteis no dia a dia, esses modelos não conseguem prever os saltos repentinos de volatilidade que acompanham as correções, quando há mudança de regime.
Por isso, as gestoras mais sofisticadas tentam incorporar fatores externos que possam sinalizar um aumento abrupto da volatilidade. A nova fronteira é o uso de machine learning, que analisa a interação de múltiplas variáveis, lucros corporativos, PIB, inflação, emprego, para detectar vulnerabilidades sutis. A Bridgewater, uma das maiores gestoras do mundo, é conhecida por aplicar esse tipo de modelo em larga escala.
Mas, na prática, poucos conseguem transformar essas previsões em lucro.
“Não conheço outra firma além da Bridgewater que tenha tido sucesso com modelos macroeconômicos”, admite um ex-trader de um hedge fund rival. E, mesmo os melhores algoritmos, não antecipam “choques puros”, como pandemias ou corridas bancárias — justamente os eventos mais capazes de desencadear uma crise.
Ainda assim, traders experientes recorrem a sinais indiretos. Um deles é o rompimento do “momentum”: quando um ativo que vinha em alta sofre uma queda repentina, é comum liquidar posições rapidamente.
Outro alerta é a mudança de correlação entre classes de ativos — quando ações caem ao mesmo tempo em que sobem ouro e Treasuries, sinal de que o mercado entrou em modo “aversão ao risco”.
Alguns operadores tentam combinar múltiplos modelos independentes para refinar previsões imperfeitas. Mas, no fim, o máximo que se pode esperar é identificar o início de uma correção e limitar as perdas.
Os maiores nomes de Wall Street podem até soar o alarme sobre um crash. Só não espere que saibam dizer quando ele vai acontecer.