Vasta na Nasdaq: subsidiária da Cogna pode deixar bolsa cinco anos após listagem (Divulgação)
Editor de Invest
Publicado em 17 de setembro de 2025 às 06h00.
Até dois anos atrás, haviam duas empresas brasileiras de educação com ações negociadas em Nova York. E o número, que já era baixo, está prestes a ser reduzido a zero.
A Arco Educação estreou em 2018 na Nasdaq, com uma oferta pública de ações (IPO) que levantou cerca de US$ 200 milhões. A companhia cearense, dona do sistema de ensino COC, chegou a fazer 15 aquisições depois da estreia no bolsa. Mas, em 2023, a empresa fechou capital, após uma oferta de aquisição feita por acionistas que até então tinham participação minoritária no negócio.
A Vasta, uma subsidiária da Cogna (COGN3), está indo pelo mesmo caminho. A empresa chegou à Nasdaq em 2020 e levantou mais de US$ 400 milhões no seu IPO.
Agora, sua controladora avisou ao mercado que pretende fazer uma oferta para adquirir todas as ações em circulação da controlada e cancelar seu registro de companhia aberta nos Estados Unidos.
Listar ações nos Estados Unidos tem lá suas vantagens. É um mercado de altíssima liquidez, mais maduro e com investidores institucionais de grande porte, que tem como costume investir apenas no mercado americano. Fora isso, existe a possibilidade de alcançar um valor de mercado bem acima de uma empresa precificada no Brasil.
No seu apogeu, o market cap da Arco Educação chegou a US$ 2,95 bilhões, em fevereiro de 2020, ultrapassando com folga o valor de mercado da Cogna, empresa de educação mais valiosa da bolsa brasileira, que nesse mesmo período era negociada na bolsa brasileira a pouco menos de 5 bilhões... de reais.
A Vasta, por sua vez, nunca conseguiu recuperar o valor que alcançou no período de estreia, quando chegou a um market cap de US$ 1,56 bilhão. De lá para cá, a ação da empresa despencou mais de 70%.
O chefe da área de banco de investimento de uma instituição financeira com quem a EXAME conversou explica que as duas companhias chegaram aos Estados Unidos como empresas de tecnologia, na condição de edtechs.
A Arco tem a plataforma tecnológica SAS, de gestão pedagógica, enquanto a Vasta tem a Plurall, uma ferramenta digital de estudos. A subsidiária da Cogna chegou a bolsa americana com a ambição de se internacionalizar.
"Mas elas sequer tinham receitas fora do Brasil", aponta o executivo, uma condição que, segundo ele, é importante para estrangeiras que se listam em Wall Street - ter faturamento fora de seu país de origem.
Ele também nota que faltavam pares comparáveis no mercado, ou seja, outras companhias com negócios semelhantes e que os investidores pudessem ter como parâmetro em suas análises.
Quando as ações da Arco Educação deixaram de ser negociadas na Nasdaq, em dezembro de 2023, o valor de mercado da companhia estava em cerca de US$ 900 milhões, praticamente um terço do market cap máximo que alcançou na bolsa americana.
Nos últimos cinco anos, as empresas de educação listadas no Brasil também têm passeado em sua própria montanha russa. Estiveram entre as maiores baixas do Ibovespa em 2024, mas no ano anterior eram uma das maiores altas.
"O 'macro' não ajudou no Brasil. Inflação alta, taxas de juros mais elevadas afetaram o desempenho do setor. Lá atrás ninguém esperava que fossemos trabalhar com Selic a 15%", afirma Rafael Passos, sócio da Ajax Asset.
Ele vê o fechamento de capital da Vasta como positivo para a Cogna.
"Isso certamente vai trazer algum tipo de economia para a Cogna, que vai otimizar recursos no Brasil. Para ela faz sentido fechar capital por dois motivos: primeiro, a valorização do real e o segundo, a liquidez, que tem sido muito baixa lá fora para a Vasta".
O Citi tem opinião parecida. "Vemos pouco benefício para a Vasta em se manter como companhia listada, dado que tem pouca liquidez e uma falta de pares comparáveis, o que deixa a ação de fora do radar do investidor", escreveram os analistas.
Para a Cogna, diz a análise, é uma alocação de capital estratégica para um horizonte de longo prazo.
"Não apenas por simplificar o negócio e destravar economias com investimentos, mas também por trazer a flexibilidade de poder trabalhar com uma subsidiária agora totalmente internalizada", conclui o Citi.