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Por que as empresas estão preocupadas com os EUA e a China?

Duas maiores economias do mundo dão sinais de enfraquecimento em alguns setores do varejo

Consumidor está gastando menos nos últimos meses, mesmo com itens essenciais (Leandro Fonseca/Exame)

Consumidor está gastando menos nos últimos meses, mesmo com itens essenciais (Leandro Fonseca/Exame)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 6 de agosto de 2024 às 11h29.

Última atualização em 19 de agosto de 2024 às 11h27.

Passado o primeiro semestre, algumas das maiores empresas do mundo estão preocupadas com o comportamento dos consumidores em EUA e China, as duas principais economias do planeta.

Segundo o Wall Street Journal, do McDonald's à Mercedes-Benz, os executivos estão dizendo que muitos consumidores na China e nos EUA estão reduzindo os gastos. Os motivos são diferentes. Na China, a demanda está sendo afetada por um mercado imobiliário quebrado, pressões salariais e preocupações sobre uma verdadeira "tempestade econômica".

Nos EUA, algumas famílias, especialmente aquelas com rendas mais baixas, estão se sentindo pressionadas pela inflação. O Departamento do Trabalho relatou que as contratações desaceleraram em julho e a taxa de desemprego nos EUA subiu para 4,3%. Ou seja mais uma notícia ruim.

Alarme sobre o consumidor

A PepsiCo soou um alarme sobre os gastos do consumidor nos EUA e na China. Nos últimos anos, conforme os preços disparavam, muitos consumidores continuaram comprando Doritos e Lay's cortavam gastos maiores, como refeições em restaurantes ou viagens. Agora, eles também estão desistindo de batatas fritas, disse a PepsiCo. A empresa relatou uma queda de 4% no volume de vendas desse ramo do negócio no último trimestre.

Enquanto isso, na China, as pessoas estão se tornando cada vez mais cautelosas sobre gastar, disse Ramon Laguarta, presidente-executivo da PepsiCo. "O consumidor está claramente economizando — economizando mais do que gastando", disse em uma call com analistas em 11 de julho.

As ações da Heineken caíram 10% em 29 de julho, depois que a cervejaria holandesa relatou lucros mais fracos do que o esperado e reduziu o valor de  investimento na China. As ações da Procter & Gamble caíram no dia seguinte, depois que a fabricante de itens de higiene e limpeza relatou um declínio inesperado de 7% nos lucros.

Inflação 'sentida' nos EUA

De acordo com a reportagem do Wall Street Journal, embora a inflação esteja se acalmando nos EUA, os consumidores estão sentindo impacto acumulado da alta dos preços em itens essenciais, como alimentos. O alto custo dos empréstimos também está colocando mais pressão nos orçamentos familiares.

O McDonald's relatou uma desaceleração nos gastos dos consumidores de baixa renda, uma tendência que a empresa disse ter começado no ano passado e se aprofundou nos EUA. A gigante do fast food relatou uma queda de quase 1% nas vendas do segundo trimestre, o primeiro declínio desse tipo desde 2020.

E a China?

A inflação não é um problema na China, onde as empresas têm lutado para aumentar os preços por vários anos devido à fraca demanda. Em vez disso, especialistas disseram ao WSJ que os gastos por lá estão diminuindo porque as pessoas estão economizando para se proteger em caso de dificuldades futuras, pois enfrentam uma profunda crise imobiliária e preocupações sobre para onde a economia está indo.

O crescimento das vendas no varejo da China, um indicador de consumo, desacelerou para 2% ano a ano em junho - estava em 3,7% em maio. Os líderes chineses disseram  que tomariam medidas mais agressivas para impulsionar os gastos do consumidor.

A General Motors disse que a força no mercado dos EUA foi compensada por uma erosão maior na China, onde perdeu dinheiro pelo segundo trimestre consecutivo em meio à forte concorrência de marcas nacionais. Mercedes-Benz e Porsche sinalizaram um ambiente mais difícil e uma competição mais acirrada na China.

A Apple também está enfrentando problemas na China. A fabricante do iPhone disse que a receita na região, seu terceiro maior mercado, caiu mais de 6% no trimestre de junho em relação ao ano anterior.

A Richemont, dona da Cartier, relatou uma queda de 27% nas vendas na China, Hong Kong e Macau. A fabricante de bolsas Birkin, Hermès, disse que o ímpeto de crescimento das vendas continuou em todas as regiões, exceto na Ásia.

Nos EUA — um mercado que já foi um impulsionador de seu boom pós-pandemia — as vendas aumentaram apenas 2%. A LVMH, maior conglomerado de luxo do mundo, disse que a inflação e as taxas de juros mais altas consumiram o poder de compra de seus clientes nos EUA.

Mas nem todas as empresas ocidentais estão relatando uma desaceleração na China. A Domino's Pizza diz que ainda vê o país como uma oportunidade; sua operação por lá  planeja abrir sua milésima ainda neste ano.

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