Conhecida como uma companhia especializada em calçados, Arezzo tem se posicionado como uma house of brands | Foto: Divulgação (Arezzo/Divulgação)
Beatriz Quesada
Publicado em 7 de janeiro de 2022 às 09h00.
As ações da Arezzo (ARZZ3) estão entre as preferidas da Norte Asset desde a fundação da gestora, há um ano. O papel sempre esteve entre as três maiores posições do fundo long bias da casa e, atualmente, é a principal aposta da gestora.
O motivo? A empresa liderada por Alexandre Birman nunca esteve tão bem. É o que defende o gestor Gustavo Salomão, ex-Garantia, ex-Credit Suisse e sócio-fundador e CIO (head de investimentos) da Norte Asset.
“A Arezzo é uma companhia que tem construção de marca, mostra um bom plano de crescimento, é omnichannel e tem um controlador engajado. Não é coincidência que tenha tido um dos melhores desempenhos do varejo em 2021”, disse Salomão em entrevista à EXAME Invest.
As ações da Arezzo fecharam o último ano em alta de 0,79%, resultado muito superior ao Índice de Consumo da B3, que caiu 26% no mesmo período. Pares como Renner (LREN3) e Marisa (AMAR3) caíram em torno de 40% em 2021, enquanto os papéis do Grupo Soma (SOMA3) recuaram quase 5%.
Entre os expoentes do e-commerce, as baixas foram ainda maiores: Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3) amargaram perdas de 71% e 67%, respectivamente.
A visão da Norte é que essa assimetria entre o potencial da Arezzo e o desempenho mais fraco de outras varejistas ainda não está incorporada ao preço dos papéis. O gestor já havia adiantado a preferência da casa por esses papéis em sua participação no CLUBE, o podcast da EXAME Invest, no fim do ano passado.
Para 2022, a expectativa da gestora é que ocorra uma revisão na expectativa de lucro da empresa, com analistas de sell side (que preparam análises para que investidores possam decidir sobre a compra de determinados ativos) elevando o preço-alvo da ação para perto de 100 reais. Atualmente, a Arezzo é negociada na casa dos 70 reais.
Para a Norte, um dos principais diferenciais da Arezzo entre as varejistas de moda é a construção de marca. Antes conhecida como uma companhia especializada em calçados, hoje ela tem se posicionado como uma house of brands, um conglomerado com diferentes grifes, que incluem marcas como Schultz, Alexandre Birman e Ana Capri.
O mais recente passo de sua rota de expansão foi a aquisição, em novembro, da marca Carol Bassi por 180 milhões de reais, que marcou a entrada da Arezzo dentro do ramo mais rentável do setor: o de vestuário feminino. Na mesma época, a Schultz também anunciou sua estreia no mercado de vestuário – segundo a grife, o ramo deve representar 25% de sua receita nos próximos dois anos, chegando à metade do faturamento em 2026.
“O consumidor normalmente compra na loja em que encontrar o produto mais barato. Criar uma marca com recorrência no consumo é muito difícil e a Arezzo está sendo bem-sucedida, entregando um crescimento bastante interessante em diversas linhas”, afirma Salomão.
Outro ponto que conta a favor da Arezzo é o seu público-alvo. Voltada para as classes A e B, de maior poder aquisitivo, a Arezzo tende a ser menos prejudicada pelos desafios do cenário macroeconômico brasileiro – em especial a escalada da taxa básica de juros, a Selic, que deve chegar aos dois dígitos até março.
O aumento da Selic, segundo a Norte, não é tão prejudicial para a Arezzo porque a varejista é uma empresa que não oferece crédito e cujo consumidor não depende disso para comprar. Outro ponto a se considerar é que a Arezzo não é uma companhia endividada, como é o caso de Magazine Luiza e Via, que terão seus balanços prejudicados com a elevação do custo das dívidas.
A comparação com players mais associados ao e-commerce – e não tanto ao vestuário – é válida na visão da Norte, uma vez que a própria Arezzo tem 25% de suas vendas atreladas ao digital. “É quase o mesmo ritmo [de vendas online] da Via”, afirma Rafael Furlan, sócio da Norte, responsável pela tese de varejo da gestora.
O que distinguiria a Arezzo nesse quesito é o componente omnichannel – experiência em diversos canais de venda. A empresa conta com quatro grandes frentes de atuação: lojas próprias, franquias, lojas multimarcas e vendas digitais. “Isso faz com que a Arezzo não tenha um risco operacional específico”, completa Furlan.
A Arezzo também estaria melhor posicionada que os pares para competir com grandes gigantes estrangeiros, como Shopee e Alibaba, que se começam a se tornar ameaças ao desempenho de Magalu e Via. No caso da Arezzo, no entanto, as estrangeiras não seriam um risco relevante. “São players que não conseguem entrar no mesmo mercado a um preço competitivo com qualidade comparativa”, explica o gestor.
Além disso, muitas varejistas brasileiras dependem de produtos importados, enquanto a Arezzo mantém toda sua cadeia de produção no Brasil. Isso permitiu que a empresa não sofresse tanto quanto os pares com a inflação de custos, além de evitar problemas de abastecimento na cadeia de produção.
Como próximo passo, a Norte espera que a Arezzo busque consolidar sua presença no mercado de moda dos Estados Unidos, onde a empresa atua por meio das marcas Schutz e Alexandre Birman. Segundo os gestores, conquistar uma participação nos EUA – país com um dos maiores mercados consumidores do mundo – é uma jogada relevante para turbinar o plano de expansão da Arezzo.
Assista ao programa completo do Clube com a participação de Gustavo Salomão: