Invest

Por que a Natura estuda um IPO da Aesop?

Objetivo é encontrar alternativa para financiar crescimento acelerado da marca australiana; dúvida de analistas de mercado é se a hora é certa

Natura &Co: IPO da Aesop pode destravar valor para holding (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Natura &Co: IPO da Aesop pode destravar valor para holding (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Na noite de segunda-feira, 17, a Natura &Co (NTCO3), grupo de beleza brasileiro, informou que seu conselho de administração deu aval para a administração fazer estudo comparativo entre uma oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) ou um "spin-off" (uma separação da empresa) seguido de uma oferta de ações. Pelo cálculo do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame), o valor de mercado da Aesop poderia ser de cerca de R$ 9 bilhões.

O objetivo, segundo a empresa, seria encontrar uma alternativa para financiar o crescimento acelerado da marca de luxo australiana, além de  ser uma estratégia alinhada ao objetivo da holding de proporcionar maior autonomia e responsabilidade às suas marcas e unidades de negócios, algo que Fábio Barbosa tem batido na tecla desde que assumiu a presidência do grupo, em junho.

LEIA MAIS

A marca australiana foi comprada pela Natura em 2013, iniciando a internacionalização do grupo brasileiro. Em 2017, foi a vez de comprar a britânica The Body Shop e, em 2020, a maior operação até então: a Avon. Todos esses movimentos serviram como fermente para aumentar o bolo e tornar a Natura em Natura &Co. Mas a holding estava ficando "pesada", nas palavras de Barbosa, que substituiu Roberto Marques no comando.

Barbosa, que foi CEO do Santander Brasil e presidente da Febraban, levantou a bandeira de uma holding mais leve, mais enxuta. A empresa identificou, disse em apresentação de resultados em agosto, economias que se tivessem sido adotadas em 2021 teriam reduzido em 40% as despesas corporativas recorrentes. Em outubro, por exemplo, todo o administrativo da Avon Brasil migrou da sede em Interlagos para alguns andares da sede da Natura, na zona Oeste de São Paulo.

A possibilidade de um IPO ou separação da Aesop já era ventilada no mercado há meses. A confirmação da companhia agora (segundo o comunicado o estudo só foi discutido e aprovado nos últimos dias), deve ser alavanca de alta para as ações da companhia, como observam os analistas do BTG Pactual. Em 2022, o papel (NTCO3) acumula desvalorização de 49,85%. No pós-mercado da Bolsa de Nova York, a Nyse, os recibos de ações da Natura &Co avançaram 4,71% com o comunicado sobre o aval para os estudos comparativos. 

O mercado ainda olha o momento da Natura &Co com ceticismo. Gestores que reduziram posição afirmam que a queda reflete o momento do desafio e quem está sem papéis na carteira espera mais evidências de avanço para acreditar na tese de investimento. A impressão, no entanto, disse um gestor ouvido pela Exame Invest, é de que tudo "está na mesa" e pode ser negociado. Uma das expectativas em parte do mercado é pela venda da The Body Shop e pela unificação de todos os negócios da Avon sob o guarda-chuva da Natura &Co Latam, comandada por João Paulo Ferreira.

Qual o momento da Aesop?

A empresa diz que uma oferta inicial de ações (IPO) da Aesop, que aconteceria nos Estados Unidos, pode ser uma alternativa para financiar o crescimento acelerado da marca. A Aesop é a menor receita líquida da Natura &Co, mas também é o negócio de melhores margens. A receita líquida do primeiro semestre foi de R$ 1,24 bilhão, com margem Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 19%. No mesmo período, a margem do grupo todo foi de 7,6%.

Segundo fontes próximas do negócio, a diretoria da australiana, que é presidida por Michael O'Keeffe, estaria descontente por ter sua bonificação afetada pelo resultado de todo o grupo. Depois de surfar com certo sucesso o começo do período da pandemia, a Natura &Co começou a ver seu desempenho ficar muito pressionado pelo ambiente macroeconômico enquanto precisava lidar com enormes desafios na Avon Internacional. O'Keeffe seguirá no comando da Aesop caso a listagem nos Estados Unidos aconteça, segundo o comunicado da Natura &Co. 

A situação piorou com a guerra entre Rússia e Ucrância, já que o leste europeu respondia por grande parte das vendas da marca de maquiagem e os efeitos do confronto também se fizeram sentir em toda a economia europeia, complicando o jogo para todas as marcas da empresa no continente. 

Com foco em bem-estar e valor de tíquete médio elevado, a Aesop, no entanto, continuou indo bem e os planos de entrada no enorme mercado chinês ganharam tração.

É a hora certa?

Entre os analistas de mercado a grande dúvida é se uma listagem da Aesop ou mesmo a cisão viria no momento certo. Isso porque há muita incerteza nos mercados, o que pode impactar a avaliação do negócio. Para a equipe do BTG, a estrutura  final para a Aesop ainda não está clara, mas considerando os múltiplos de empresas globais de cosméticos listadas na casa de 15x EV/Ebitda, a Aesop poderia alcançar um valor de mercado de R$ 9 bilhões.

"Consideramos bem-vindos os esforços da administração para simplificar a estrutura em meio ao cenário adverso e é sabido que um desinvestimento ou monetização extra pode destravar valor", escrevem, mas ponderam que o movimento continuação sendo "binário", com incerteza na avaliação do ativo e no momento para essa decisão.

Para os analistas da XP Investimentos, o "timing" também não é o melhor. "Apesar de acreditarmos que as duas transações destravariam valor, não acreditamos que agora seja o melhor momento para concretizá-las, uma vez que a Aesop está passando por um ciclo mais pesado de investimento para entrar na China, o que pressiona a rentabilidade no curto prazo", escrevem observando que a China é a principal avenida de crescimento da Aeosp, e o país atualmente enfrenta um cenário macro desafiador."O mercado acionário norte-americano também enfrenta desafios relacionados à alta da inflação e riscos de recessão", acrescentam. 

Baseado no exercício de soma das partes, e assumindo que todas as unidades de negócios negociam ao atual "valuation" da ação da holding (5,3x EV/EBITDA para projeção de 2023), a equipe da XP diz que possível transação da Aesop poderia destravar um aumento de até 50% contra os preços atuais. Se assumir valor zero para The Body Shop e Avon Internacional, esse aumento reduziria para até 45%. 

Acompanhe tudo sobre:NaturaBelezaAções

Mais de Invest

Banco Central adia lançamento do Pix parcelado para resolver vulnerabilidades no sistema, diz jornal

Ibovespa opera estável com PCE dos EUA no radar

Existe tabela de Imposto de Renda ideal? Entidades dizem que sim, mas não a proposta pelo governo

Ações de Azul (AZUL4) e Gol (GOLL54) disparam após comunicarem fim de negociações para fusão