Windows: empresa lidera setor há 50 anos — mas vai c (Imagem gerada por IA/Freepik)
Publicado em 2 de julho de 2025 às 05h01.
Última atualização em 2 de julho de 2025 às 07h16.
Diz o ditado que tudo que sobe um dia tem que cair. Mas, para a Microsoft (MSFT), a máxima não parece ser verdadeira — ao menos em 2025. Com um valor de mercado que flerta com os US$ 4 trilhões, a gigante de Redmond se destaca por sua resiliência em meio às flutuações das big techs. No primeiro semestre deste ano, a companhia passou por uma valorização de quase 20% em seus papéis, enquanto outras gigantes parte do grupo das "Magnificas 7", como Amazon e Tesla, tiveram queda de 1,2% e 16,2% no período, respectivamente.
A vantagem competitiva da Microsoft (dentro e fora dos mercados) pode ser atribuída, em grande parte, à parceria com a OpenAI, que se revelou uma virada estratégica nos últimos anos. Ao investir mais de US$ 13 bilhões na empresa criadora do ChatGPT, a Microsoft não só se consolidou como líder em IA generativa — algo que outras big techs, como a Apple, parecem penar para alcançar.
Bill Gates: bilionário foi o criador da Microsoft (Getty Images)
Na virada dos anos 1970, dois jovens de Seattle, Bill Gates e Paul Allen, tiveram uma ideia que, anos mais tarde, transformaria o mundo da tecnologia.
Tudo começou quando, em 1975, o Altair 8800, o primeiro microcomputador de sucesso comercial, foi capa da revista americana Popular Electronics. Allen viu ali uma oportunidade que parecia única, mas, ao mesmo tempo, arriscada. Ele sabia que o Altair precisava de um sistema de programação, e foi isso que levou à primeira grande ideia: criar uma versão do BASIC, uma linguagem de programação, para o microcomputador. Mesmo sem ter acesso a uma máquina Altair ou a um código funcional, a dupla de amigos seguiu em frente, desenvolvendo o programa por meio de um simulador.
Foi Gates, então, quem teve a ideia audaciosa de contatar a MITS, fabricante do Altair, e garantir a negociação. Gates e Allen alegaram ter um interpretador funcional para o sistema – um risco calculado que, se não fosse bem-sucedido, poderia ter encerrado o sonho de ambos. Mas ao demonstrar o software que haviam criado, a dupla foi surpreendida pela aceitação da MITS, que concordou em distribuir o programa sob o nome de Altair BASIC.
Era o começo de uma jornada que continua até hoje. Em abril de 1975, Gates e Allen fundaram a Microsoft — um nome que mistura as palavras "microcomputador" e "software".
Em um movimento ousado, mas comum para magnatas de tecnologia, Gates abandonou a Universidade de Harvard e se mudou para Albuquerque, onde a Microsoft começaria a crescer de verdade. O software seria o fio condutor de uma revolução silenciosa, mas imparável.
Apesar de Gates ser o fundador e rosto da Microsoft, boa parte da história da companhia – e também muitos de seus piores momentos – foram protagonizados por outro CEO.
Steve Ballmer assumiu o cargo em 2000, sucedendo Gates, e viu a receita saltar de US$ 25 bilhões à época para US$ 78 bilhões em 2013.
Ballmer supervisionou algumas aquisições importantes, como a compra do Skype por US$ 8,5 bilhões e a criação do Xbox, que se tornou um pilar importante da Microsoft no setor de entretenimento digital. No entanto, o "red ring of death", um problema grave de hardware, custou à Microsoft mais de US$ 1 bilhão e prejudicou a imagem do produto.
Ao mesmo tempo, Ballmer é o responsável pelo fracasso do Windows Vista. Na época, foi amplamente criticada por problemas de compatibilidade e desempenho, o que afetou a imagem da Microsoft. Além disso, o então CEO subestimou os smartphones e acabou prejudicando a gigante de tecnologia, que ficou para trás e nunca teve um celular como o iPhone.
Foi com o combo de uma queda na participação de mercado de PCs, a perda de relevância no mercado de smartphones (lembra do Windows Phone?) e uma competição crescente de gigantes como Apple e Google que Satya Nadella assumiu o cargo de CEO em 2014.
A transformação que Nadella propôs foi profunda, com foco em uma mudança cultural e estratégica. Ele trouxe uma nova visão: "cloud-first, mobile-first", priorizando a computação em nuvem e a preferência da clientela por smartphones como motores do futuro da Microsoft.
Uma das primeiras e mais ousadas decisões de Nadella foi apostar no Azure, a plataforma de nuvem da Microsoft, uma área dominada pela Amazon com o Amazon Web Services (AWS). A mudança para um modelo baseado em assinaturas, com produtos como o Office 365, também foi uma das grandes viradas da Microsoft durante a era Nadella, substituindo as tradicionais licenças permanentes por uma base de usuários de software como serviço (SaaS).
Em termos de aquisições, Nadella não poupou esforços. Ele supervisionou algumas das mais importantes compras da Microsoft, incluindo LinkedIn (US$ 26,2 bilhões em 2016), GitHub (US$ 7,5 bilhões em 2018) e, mais recentemente, a Activision Blizzard (US$ 75,4 bilhões). Cada uma dessas aquisições foi pensada estrategicamente para fortalecer a Microsoft em áreas-chave: redes sociais e marketing digital, desenvolvimento de software e, mais recentemente, o setor de jogos, uma tentativa de rivalizar com grandes nomes como Sony e Nintendo.
Iniciada em 2016, a parceria entre a Microsoft e a OpenAI, criadora do ChatGPT, foi um marco para ambas as empresas – e transformou a companhia liderada por Nadella em uma das maiores quando o assunto é inteligência artificial. Em um movimento estratégico, a Microsoft investiu US$ 1 bilhão na OpenAI, firmando uma aliança exclusiva para fornecer a infraestrutura de nuvem necessária para o desenvolvimento de modelos de IA avançados.
Ao longo dos anos, a parceria cresceu e evoluiu, com a Microsoft investindo mais de US$ 13 bilhões até 2024. A colaboração acelerou o desenvolvimento de soluções como o GPT, que agora alimenta ferramentas como o Copilot do Microsoft 365 e o Microsoft Azure. Isso torna os produtos da Microsoft mais inteligentes e eficientes, enquanto torna os produtos da OpenAI mais atrativos para outras empresas de tecnologia.
A integração permitiu à Microsoft atender a uma demanda crescente por IA, tanto no mercado corporativo quanto no setor de nuvem. As receitas da Microsoft com IA devem ultrapassar US$ 10 bilhões já no segundo trimestre final de 2025, posicionando a empresa como um dos maiores players do setor.
Há 25 anos, uma das maiores competidoras da Microsoft era, na verdade, sua parceira de negócios. A Nvidia foi responsável por fornecer a tecnologia gráfica para o Xbox original, lançado nos anos 2000, mas o cenário mudou dramaticamente ao longo dos anos. À medida que a Microsoft consolidava sua posição como líder no software e serviços de nuvem, a Nvidia se reinventava, focando no setor de chips para inteligência artificial, um mercado que cresceu de forma explosiva nos últimos anos.
Em 2024, a Nvidia ultrapassou a Microsoft para se tornar a empresa mais valiosa do mundo, impulsionada pela demanda crescente por seus chips de IA. A transição da Nvidia de fornecedora de placas gráficas para líder em chips de IA foi acelerada pela chegada da OpenAI, dona do ChatGPT, e a aquecida no setor de inteligência artificial. Hoje, ela é necessária em data centers e cloud computing e, a partir de 2026, deve ficar ainda mais demandada com a chegada de computadores mais avançados nas lojas.
Satya Nadella: CEO foi responsável por grandes mudanças e aquisições da Microsoft (Leandro Fonseca/Exame)
O desempenho das duas empresas foi forte no primeiro semestre — mas, nisso, a Nvidia saiu ganhando. A empresa comandada por Jensen Huang viu seu valor disparar com um aumento de 227% no preço das ações, de US$ 48,17 em janeiro para US$ 157,75 em junho. No mesmo período, a Nvidia ultrapassou a Microsoft em termos de capitalização de mercado, alcançando cerca de US$ 3,85 trilhões, um aumento de US$ 1,2 trilhões em seis meses.
O consultor Charles Fitzgerald afirmou ao The New York Times que as tensões entre essas empresas são exponencialmente maiores do que a competição habitual entre compradores e fornecedores. Embora a Microsoft e outras estejam se concentrando no desenvolvimento de chips proprietários, elas continuam competindo pelo fornecimento de chips da Nvidia e pela atenção da empresa, refletindo um equilíbrio delicado entre colaboração e rivalidade .
Apesar do crescimento impressionante, a Nvidia enfrenta desafios significativos. Analistas e bancos alertam que sua dominância no mercado de chips de IA não é inabalável. Os principais riscos incluem restrições comerciais dos EUA, uma possível desaceleração na demanda por chips de IA, e a concorrência crescente de silício personalizado, desenvolvido por empresas como a Microsoft, além de rivais tradicionais como AMD e Intel.
Por outro lado, a Microsoft também lida com seus próprios desafios. A empresa enfrenta uma monetização mais lenta da IA, altos gastos com infraestrutura, e forte concorrência de Google e Amazon nos serviços de nuvem e IA. Além disso, está vendo um aumento na scrutínio regulatório relacionado às suas parcerias de IA e práticas na nuvem, especialmente em relação à sua aliança com a OpenAI.
O consenso de Wall Street é que ambas as empresas são fundamentais para a revolução da IA, mas a Nvidia é vista como a principal beneficiária da alta demanda por chips de IA, enquanto a Microsoft continua sendo reconhecida pela liderança em software e serviços de nuvem. A Wedbush Securities projeta que as duas empresas podem atingir uma capitalização de mercado combinada de US$ 5 trilhões nos próximos 18 meses, com a Nvidia possivelmente crescendo a um ritmo mais rápido.
Hoje, 50 anos depois do que aconteceu em Albuquerque, a gigante de tecnologia está no centro de uma nova revolução, com sua plataforma de cloud computing, Microsoft Azure, e com ferramentas de inteligência artificial, como o Microsoft 365 Copilot. E segue líder como o sistema operacional mais usado no mundo, com 69% do mercado, segundo dados da empresa alemã Statista.
A Microsoft compete com gigantes como Amazon, Google, Apple e Meta, mas sua diversificação de negócios tem dado à empresa uma vantagem estratégica.
No mercado de cloud computing, o AWS da Amazon ainda domina, mas a Microsoft tem ganhado terreno rapidamente com a Azure, que registrou um aumento de 33% na receita no primeiro trimestre de 2025, atingindo a marca de US$ 24,1 bilhões. O crescimento foi impulsionado pela forte demanda por soluções de nuvem híbrida, que permitem que empresas usem uma combinação de servidores locais e cloud, e pelo crescente uso de IA para otimizar a operação de negócios em escala global.
No campo da inteligência artificial, a Microsoft segue como uma das líderes, principalmente com suas soluções voltadas para empresas. A empresa investe fortemente em IA para melhorar as ofertas de produtos e serviços, o que coloca a Microsoft à frente de concorrentes como Google e Meta, que têm focado em IA, mas em um contexto mais voltado para o consumidor. A abordagem corporativa da Microsoft, no entanto, tem atraído grandes empresas e governos em todo o mundo.
E, enquanto algumas empresas de tecnologia sofrem, o ano tem sido bom para a Microsoft. O desempenho robusto acontece em um contexto de incertezas econômicas globais, especialmente após o anúncio das tarifas comerciais do governo Trump.
No primeiro trimestre deste ano, a empresa superou as expectativas de analistas, com uma receita entre US$ 65,6 bilhões e US$ 70,1 bilhões, um aumento de 16% em relação ao ano anterior. O lucro líquido da Microsoft também subiu significativamente, com um aumento de 10,6%, atingindo US$ 24,7 bilhões.
O Bank of America, por esses motivos, mantém uma recomendação de "compra" para as ações da empresa, ajustando seu preço-alvo para US$ 480 em 2025, um pouco abaixo da estimativa anterior de US$ 510. A revisão mais cautelosa é atribuída a uma perspectiva mais moderada para o curto prazo, mas não diminui a confiança de longo prazo nas perspectivas de crescimento da Microsoft, que continua forte com suas margens de lucro e geração robusta de fluxo de caixa.
O Morgan Stanley também aumentou o preço-alvo das ações da Microsoft para US$ 482, apontando o crescimento impressionante da empresa em todos os seus segmentos, especialmente na nuvem e nos serviços de IA. Para os analistas, a big tech está bem posicionada para aproveitar a crescente demanda por IA generativa, apesar das incertezas econômicas globais.
Enquanto a Apple lida com desafios como riscos regulatórios e uma cadeia de produção vulnerável, concentrada na China, a Microsoft demonstra uma resiliência notável. Em um mercado volátil, a gigante de Redmond segue em uma trajetória sólida. E as expectativas para os próximos 50 anos são altas.