Mercados

Por que a Bolsa caiu após a aprovação da Previdência em 1º turno

Quebrando um avanço de 5,2% em 5 dias, o Ibovespa fechou no vermelho no dia seguinte à aprovação da reforma; entenda o movimento

Câmara aprova reforma da Previdência em 1º turno. (Adriano Machado/Reuters)

Câmara aprova reforma da Previdência em 1º turno. (Adriano Machado/Reuters)

TL

Tais Laporta

Publicado em 11 de julho de 2019 às 17h24.

Última atualização em 11 de julho de 2019 às 18h36.

São Paulo - O principal índice da bolsa fechou no vermelho no dia seguinte à aprovação da reforma da Previdência em 1º turno na Câmara, quebrando uma rara sequência de 5 dias de alta. Não deveria ser o contrário? Para analistas do mercado, a ressaca já era esperada. Mesmo com uma perspectiva positiva para o longo prazo, uma combinação de fatores explica essa quebra de euforia das últimas semanas.

O Ibovespa fechou em baixa de 0,63% nesta quinta-feira (11), aos 105.146 pontos, afundado principalmente por ações do setor bancário (Banco do Brasil, Itaú e Bradesco). Já o dólar cedeu 0,19%, a R$ 3,7515 reais, acompanhando a baixa para a moeda no exterior. Foi a menor cotação desde 27 de fevereiro.

"Sobe no boato, cai no fato"

A explicação mais óbvia para a queda do Ibovespa é o famoso "sobe no boato, cai no fato", diz o especialista em ações da Levante Investimentos, Eduardo Guimarães. No último mês, o indicador acumulou valorização em torno de 8% ancorado por expectativas de que a reforma seria mesmo aprovada. No ano, o indicador subiu quase 20% na véspera.

No movimento de ajuste, os investidores aproveitam para vender seus papéis após um período de forte valorização dos ativos – seguindo a recomendação de comprar na baixa e vender na alta. "É um saudável e esperado momento de realização de lucros", diz Guimarães.

À agência Reuters, o gestor de portfólio Guilherme Foureaux, sócio na Paineiras Investimentos, lembrou que não se pode esquecer que a bolsa subiu de 95 mil para 105 mil em poucos dias.

A correção tende a ser breve, especialmente diante da perspectiva de que a reforma, assim que aprovada de forma definitiva, deve facilitar o início de um ciclo de recuperação econômica e reequilíbrio das contas públicas, principal vetor para atrair investimentos estrangeiros.

O assessor de investimentos da Improve, Luiz Mariano de Rosa, acredita que a partir de agora os investidores começam a ficar mais seletivos com os papéis, avaliando com mais atenção quais deles estão caros ou baratos. “Tudo o que aconteceu de bom até agora na bolsa já está no preço”, diz.

Risco de desidratação assusta

Outro motivo para a cautela é o fato de que os parlamentares ficaram de apreciar 20 destaques do texto-base da reforma que tratam de condições especiais para policiais e mulheres. A depender do resultado, as mudanças poderiam desfigurar parte da proposta e reduzir a economia prevista para os próximos 10 anos em cerca de R$ 300 bilhões, podendo jogar um balde de água fria no mercado.

“A vantagem por muitos votos no placar do texto base foi importante, mas a desidratação da reforma através dos destaques ainda é possível, resultado de insatisfações com o Planalto, que ainda não teria atendido às promessas que fez aos deputados”, escreveram analistas da XP em relatório.

Projeções otimistas até o fim do ano

Se as projeções de analistas e gestores de recursos se confirmarem, a Bolsa brasileira encerrará 2019 em um ciclo bastante virtuoso, atingindo patamares inéditos. Apesar da correção vista hoje, o mercado vê um potencial de forte alta para os próximos meses e ao longo de 2020.

Em relatório enviado nesta manhã, o Bank of America Merrill Lynch reforçou que projeta o Ibovespa a 120 mil pontos no final do ano. O banco destacou que a aprovação da reforma previdenciária ainda em 2019 poderia desencadear um 're-rating' do Ibovespa, enquanto o corte nos juros neste ano continuaria a transferir fluxo de recurso para ações.

A equipe da XP vê potencial um pouco mais modesto, de 115 mil pontos até o final do ano e 140 mil até o final de 2020. “Existe incerteza ainda quanto ao calendário [do restante da reforma], mas os riscos estão sendo cada vez mais mitigados, e vemos este momento como transformacional para o país”.

O Bradesco BBI revisou o preço-alvo do índice de 116 mil para 122 mil pontos até o final do ano, um "upgrade" de 15% em relação ao nível atual. "Nossa base agora prevê a implementação de uma forte medida fiscal, com o prêmio de risco em 1 ano convergindo para a média histórica", escreveram analistas a clientes. potencial oferta pública subsequente de até 1 bilhão de reais.

Destaques do dia

A ação do IRB BRASIL caiu 5,2%, após a BB Seguridade anunciar início da oferta secundária da fatia que tem na empresa de resseguros, em operação vai envolver cerca de 84 milhões de papéis. BB SEGURIDADE recuou 1,69%.

A companhia de saneamento paulista SABESP saltou 4,67%, após o governador do Estado de São Paulo, João Doria, dizer que a privatização da empresa de saneamento é a melhor opção para a companhia. Na máxima, o papel subiu 6,46%, para recorde intradia.

Os papéis da PETROBRAS ON subiram 1,89% e PETROBRAS PN avançaram 1,18%, após relatório de analistas do Goldman Sachs, iniciando a cobertura dos papéis com recomendação de compra. A empresa também abriu fase não vinculante de venda de fatia na Compañia Mega, na Argentina.

A elétrica ELETROBRAS ON ganhou 7,36%. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse à GloboNews na noite de quarta que o governo deve arrecadar cerca de 18 bilhões de reais com o processo de capitalização da companhia, que irá desestatizar elétrica.

A mineradora VALE cedeu 0,15%, com o recuo dos preços do minério de ferro na China. O Deutsche Bank elevou o preço-alvo do ADR da mineradora, de 13 para 15 dólares. O Bradesco BBI incluiu o papel da Vale em sua carteira.

O BANCO INTER recuou 0,64%, após anunciar que contratou bancos para coordenar potencial oferta pública subsequente de até 1 bilhão de reais.

Acompanhe tudo sobre:B3CongressoIbovespaJair BolsonaroReforma da PrevidênciaRodrigo Maia

Mais de Mercados

Ações da IBM têm maior alta em 24 anos após forte desempenho financeiro

Bolsas da Ásia sobem com ganhos em Wall Street, mas techs sul-coreanas caem

Apple (AAPL) tem aumento de 7,1% no lucro líquido do 1º trimestre fiscal

Ouro futuro bate recorde em meio a onda de incertezas com EUA