Invest

Pix e DREX ameaçam os EUA? Dólar e empresas como Mastercard e Visa podem perder espaço

O Drex ou a possível moeda única dos BRICs são os dois fatores vão de encontro à hegemonia do dólar

US President Donald Trump speaks to reporters on his way to board Marine One on the South Lawn of the White House on July 15, 2025, in Washington, DC. Trump is travelling to Pittsburgh, Pennsylvania, to speak at the Pennsylvania Energy and Innovation Summit on the campus of Carnegie Mellon University. (Photo by Jim WATSON / AFP)

US President Donald Trump speaks to reporters on his way to board Marine One on the South Lawn of the White House on July 15, 2025, in Washington, DC. Trump is travelling to Pittsburgh, Pennsylvania, to speak at the Pennsylvania Energy and Innovation Summit on the campus of Carnegie Mellon University. (Photo by Jim WATSON / AFP)

Juliana Alves
Juliana Alves

Repórter de mercados

Publicado em 16 de julho de 2025 às 18h04.

Última atualização em 16 de julho de 2025 às 18h06.

O Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) anunciou, nesta terça-feira, 15, o início de uma investigação sobre as práticas comerciais do Brasil. Um dos pontos levantados é o Pix, que foi classificado como uma "prática desleal" pelo governo de Donald Trump. Especialistas analisam as possíveis razões por trás dessa acusação, que incluem a ameaça que o Pix representa para big techs e bancos, além do risco de à dolarização com a criação do Drex e da moeda única dos BRICs.

Os Estados Unidos alegaram os serviços de pagamento eletrônico como prática discriminatória. “Parecem se engajar em uma série de práticas desleais, que não se limitam a favorecer seus serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo e podem prejudicar a competitividade das empresas americanas que atuam no comércio digital e em serviços de pagamento eletrônico”, diz o documento.

Defesa das big techs e companhias de cartão de crédito

Para o advogado do Barcellos Tucunduva Advogados (BTLAW), especialista em meios de pagamento e fintechs, Fernando Canutto, o Pix não impacta o comércio entre Brasil e Estados Unidos, já que a ferramenta não é usada em operações entre os dois países. O impacto é indireto diminuindo a concorrência com as big techs que tem braços financeiros, como a Meta que possui WhatsApp Pay.

Em 2020, o mesmo ano de lançamento do Pix, o Banco Central liberou parcialmente os pagamentos pela plataforma da Meta, depois de um processo no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e depois de várias conversas e reuniões com Visa, Meta e Mastercard.

“Só depois de três anos após o começo do caso, a instituição anuncia a liberação total dos serviços. Assim o Whatapp Pay perdeu espaço para o Pix, que já estava popular no Brasil”, lembra Canutto.

Além das big techs, a popularização do Pix impacta o uso de cartão de crédito de companhias americanas como Mastercard e Visa, conforme explica o sócio do Godke Advogados e especialista em Direito Internacional Empresarial, Pietro Dalla Costa Cervelin. O Pix abocanhou essa parte do mercado, principalmente de transações entre pessoa física e pessoa jurídica.

“Considero que o impacto direto do Pix não seja tão forte, na verdade, é um argumento para defender o setor bancário americano, como Visa e Mastercard, e a Associação Americana de Banqueiros”, avalia Cervelin.

No primeiro trimestre de 2025, o Pix foi a forma de pagamento mais usada pelos brasileiros, responsável por 49% das transações, enquanto o cartão de crédito ficou em segundo lugar, representando apenas 14% das operações, conforme os dados do Banco Central.

O número de transações com cartão de crédito aumentou 11,2% em 2024 em relação a 2023, para 19,8 bilhões, segundo dados da Febraban. Já o uso do cartão de débito aumentou pouco menos de 3%, para 16,7 bilhões de transações.

São taxas que representam crescimento, mas muito mais modesto do que quando comparados ao aumento visto no Pix na mesma base comparativa, de mais de 52%.

Na visão do especialista em Direito Internacional Empresarial, o Banco Central não limitou a atuação de empresas como Mastercard e Visa. “A Casa Branca não detalha na investigação porque o Pix é uma prática desleal às companhias americanas, faltam subsídios. Além disso, o governo americano não pode alegar que o Banco Central boicotou empresas como Mastercard e Visa”, explica Cervelin.

DREX e BRICs ameaçam a hegemonia do dólar

 Já na visão do economista e professor da Saint Paul Escola de Negócios, Maurício Godoi, a investigação não faz referência ao Pix, mas ao Drex, a moeda digital que está em desenvolvimento pelo Banco Central, ou seja, uma representação virtual das notas físicas de real, que existirão apenas no ambiente virtual.

O professor explica que empresas de cartões são impactadas pelo Pix, mas podem encontrar maneiras para se reinventar e modernizar. Os desafios serão maiores com o lançamento do Pix garantido, que substitui o crédito parcelado do cartão e permite que outras fintechs participem do mercado de crédito. A ferramenta ainda está em estudo pelo Banco Central.

Neste momento, o Pix não é uma grande questão, de acordo com o professor. Já o Drex ou a possível moeda única dos BRICs são os dois fatores que realmente podem ameaçar a hegemonia do dólar.

Vale lembrar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou que irá cobrar uma tarifa extra de 10% aos países que se alinharem às "políticas antiamericanas" do Brics.

“No caso de exportação do Brasil para China, é necessário converter de real para dólar e, depois, para yuans. Mas daqui alguns anos, essa taxa de câmbio cruzada não será necessária, já que os meio de pagamento serão em moedas digitais, como o Drex, ou seja, bilhões de reais não serão convertidos em dólares”, explica Godoi.

O professor cita como exemplo a primeira transação com moeda digital com a China, um dos membros do BRICs, em 2023, considerada “bem-sucedida” entre as duas nações.

Acompanhe tudo sobre:PIXEstados Unidos (EUA)Donald TrumpDrex (Real Digital)BricsChinaMasterCardVisaBanco CentralMeta

Mais de Invest

Onde investir após novo tarifaço de Trump? ‘Não é hora de fazer estripulia’, diz especialista

Dólar fecha estável a R$ 5,56, em pregão volátil de olho em Trump e Tarcísio

Ibovespa interrompe sequência de sete pregões em queda e sobe 0,19%

Queda do dólar tem sido atrativo para empresas com receitas em outros países, diz Goldman Sachs