Estatais estão investindo “contra os interesses dos acionistas minoritários”, diz a gestora (Alexandre Battibugli/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 1 de outubro de 2012 às 15h11.
São Paulo – Juro menor, bolsa em alta. Essa frase foi por muito tempo aceita como verdade indiscutível no Brasil. Mas de uns tempos pra cá essa relação foi distorcida pela atuação do governo federal, que agora tem se esforçado em distribuir os benefícios da redução do custo de capital das empresas, a exemplo do setor financeiro e da energia elétrica.
Ou seja, enquanto se esperava que as ações de muitas se empresas se beneficiassem de uma economia com o juro menor, isso não aconteceu porque as interferências também reduziram a margem de lucro de muitos setores que seriam premiados. O fim do “almoço grátis” no país não foi dado apenas para a renda fixa, mas também para a variável, avalia a Pimco em um relatório.
A maior gestora de títulos soberanos no mundo argumenta que, apesar de o juro estar em um nível abaixo do visto após a quebra do banco Lehman Brothers em 2007 – momento aceito pela maioria como o estopim da atual crise financeira internacional – o patamar reduzido não representa mais um sinal positivo claro para a renda variável, explicam Maria Gordon, líder da equipe de ações para América Latina, e Richard A. Flax, analista para a região.
“O governo brasileiro quer os juros em baixa, mas também se reguardar dos perigos da aceleração da inflação. Como resultado, as autoridades se moveram para um caminho de medidas macroprudenciais, com uma enorme gama de implicações para os investidores em ações. Na verdade, ao passo que o custo de capital diminui no Brasil, os retornos e fluxo de caixa dos setores regulados ficam sob pressão”, apontam.
Para a Pimco, há 4 principais implicações para o mercado de ações:
1 – “As mudanças de políticas são imprevisíveis e significantes, promovendo disparadas súbitas em determinados setores e mudanças enormes em outros”, afirmam. Segundo eles, as empresas estatais estão sendo convocadas a investir “contra os melhores interesses dos acionistas minoritários”.
2 – Maria e Flax lembram que os retornos para os setores regulados da economia estão mais suscetíveis às mudanças no momento atual. “Historicamente indústrias como serviços públicos e concessionárias de rodovias têm se beneficiado da queda dos juros, mas o governo está claramente focado em dividir tais benefícios com o consumidor”, ressaltam.
Os analistas citam como exemplo o recente anúncio para a queda dos preços da eletricidade por meio de novas condições para as renovações de concessões. “Os altos retornos nas renovações de concessões desfrutados pelas geradoras brasileiras devem cair, potencialmente marcando o final do “almoço grátis” no Brasil”, destacam.
3 – Sobre o crédito, a Pimco afirma que as taxas são distorcidas pela atuação dos bancos estatais, principalmente o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Caixa Econômica e Banco do Brasil. “Os bancos brasileiros viram a lucratividade se reduzir nos últimos anos, mas os estatais aceleraram a tendência ao se tornar cada vez mais agressivos na disponibilidade de crédito com jutos baixos; os privados começaram a seguir”, pontuam.
Os analistas avaliam que encontrar um nível adequado de rentabilidade sobre o patrimônio líquido (ROE, return on equity) continua um grande debate entre os investidores. “Os bancos privados continuam convencidos que o patamar de 20% é sustentável, mas reconhecemos que isso pode ser desafiador. Acreditamos que os retornos menores podem ser compensados por maiores volumes, principalmente em hipotecas”, destacam.
4. A Pimco lembra também das medidas focadas no crescimento econômico, que deram um impulso para as montadoras e fabricantes e revendedores de eletrodomésticos da linha branca. Além disso, ressaltou o corte de impostos na folha de pagamento de alguns setores.
Por fim, a gestora ressalta que está focada em encontrar retornos atraentes em negócios que assegurem a sustentabilidade de geração de caixa e reconhece que essa combinação está mais desafiadora no Brasil. “Em alguns casos, precisamos ver as expectativas de lucro cair antes de revistar alguns setores. Em particular, precisamos ser cautelosos com os preços de ações que implicam altos retornos sobre o capital, especialmente em setores com incertezas regulatórias", afirmam.