Petz e Cobasi: fusão entre as gigantes do setor pet cria uma potência de R$ 6,9 bilhões (Ирина Мещерякова/Getty Images)
Publicado em 13 de junho de 2025 às 05h50.
A Petz e a Cobasi estão prestes a abocanhar uma grande fatia do setor pet.
Juntas, elas têm o potencial de ter uma participação de 11% do mercado brasileiro, com um faturamento que pode chegar a R$ 6,9 bilhões. A fusão foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e promete transformar a dinâmica do setor.
Mas a aprovação não veio sem ressalvas. Apesar de notar uma maior concentração de mercado em algumas regiões, o órgão concluiu que a concorrência segue intensa, com a presença de pet shops independentes, marketplaces como o Mercado Livre e Amazon, e supermercados disputando fatias do mercado. Para os acionistas da Petz, o acordo foi vantajoso: R$ 400 milhões em pagamentos, sendo R$ 130 milhões em dividendos e R$ 270 milhões em dinheiro da Cobasi.
No entanto, a notícia não é totalmente um mar de rosas. Instituições financeiras como o BTG Pactual (mesmo grupo controlador da EXAME) estão de olho no alto múltiplo de lucro da Petz, que chega a 25x, e alertam para a pressão dos marketplaces online e as possíveis ações do Cade para manter o equilíbrio competitivo.
Por outro lado, o JPMorgan é mais otimista, projetando sinergias operacionais entre R$ 220 milhões e R$ 330 milhões e prevendo uma integração bem-sucedida em até três anos.
Enquanto alguns analistas celebram as potencialidades da fusão, outros permanecem cautelosos.
O BTG Pactual, por exemplo, adota uma visão mais conservadora. Apesar de as sinergias operacionais e os ganhos de escala serem esperados, o banco aponta que o mercado digital continua sendo um grande desafio, especialmente devido à forte concorrência de marketplaces como Mercado Livre e Amazon. Essas plataformas dominam o e-commerce e colocam pressão sobre as margens das empresas tradicionais, como a Petz e a Cobasi, que precisarão adotar estratégias agressivas de precificação para se manterem competitivas.
Outro ponto destacado pelo BTG Pactual é o múltiplo de lucro elevado da Petz, que atualmente gira em torno de 25x, o que indica uma avaliação de mercado alta. Para justificar esse valuation, a nova empresa precisará demonstrar execução eficiente e crescimento consistente, o que pode ser complicado dada a incerteza econômica e os riscos regulatórios que ainda pairam sobre a fusão. O Cade já sinalizou a possibilidade de medidas corretivas para controlar a concentração em regiões específicas, o que pode afetar os planos de expansão e o funcionamento da fusão em algumas áreas.
Por outro lado, o JPMorgan é mais otimista em relação aos impactos da fusão. O banco projeta sinergias operacionais entre R$ 220 milhões e R$ 330 milhões, e vê a possibilidade de grandes dividendos para os acionistas da Petz, com um yield de cerca de 14%. Os dividendos são particularmente atrativos para os acionistas da Petz, que devem receber R$ 270 milhões após a conclusão da operação.
O JPMorgan também acredita que a forte concorrência no mercado pet, incluindo a diversidade de players e as baixas barreiras de entrada, mantém o setor competitivo. Para o banco, é improvável que o Tribunal do Cade reverterá a decisão de aprovação, embora haja espaço para ajustes em áreas específicas da operação.
Embora o Cade tenha dado seu aval à fusão entre Petz e Cobasi, a decisão ainda pode ser contestada. A Superintendência-Geral do Cade aprovou a operação, mas a Petlove, terceira maior empresa do setor, já anunciou sua intenção de recorrer da decisão e levar o caso para o Tribunal do Cade.
Na prática, especialistas do setor não esperam que a aprovação seja revertida, mas há a possibilidade de que o Tribunal introduza "remédios" para abordar preocupações relacionadas à concentração de poder em determinadas regiões ou segmentos do mercado. Esses remédios são medidas corretivas que buscam garantir que a concorrência não seja prejudicada pela fusão, mesmo após sua aprovação.
Dentre os ajustes que o Cade pode exigir, estão: venda de ativos, como lojas ou operações em regiões específicas onde a nova empresa poderia se tornar excessivamente dominante, compromissos de comportamento, que podem incluir obrigações de não aumentar preços ou praticar estratégias que limitem a concorrência, ou condições específicas de operação que busquem equilibrar o poder competitivo na área.
Embora as expectativas sejam de que isso não deva impactar a fusão, o Cade pode impor essas medidas para garantir que a nova gigante não prejudique a entrada de novos concorrentes ou a competitividade em determinadas regiões do Brasil.
O mercado pet brasileiro continua em franca expansão, movimentando cerca de R$ 77 bilhões em 2024, o que representa um crescimento de 12% em relação ao ano anterior, segundo dados do Instituto Pet Brasil e da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet).
O Brasil, com aproximadamente 160 milhões de animais de estimação, ocupa a terceira posição mundial em faturamento no setor, atrás apenas dos Estados Unidos e China, segundo as instituições. Com isso, a fusão coloca Petz e Cobasi em uma posição estratégica para capturar ainda mais desse mercado em expansão, especialmente com as novas tendências de humanização dos pets e a crescente demanda por produtos premium, como alimentos especiais e serviços de saúde.
Além dos produtos tradicionais, o setor de pet care — incluindo clínicas veterinárias, creches e hotéis para animais — continua em forte crescimento, o que abre novas frentes para as empresas expandirem suas operações. Em 2024, o segmento de serviços veterinários movimentou R$ 7,6 bilhões, segundo a Abinpet, enquanto o grupo de "outros serviços", que abrange pet care, creches, hotéis para animais e acessórios, atingiu R$ 11 bilhões, representando 14,3% do faturamento total do mercado. Uma boa aposta para as gigantes.
Antes de unirem forças, tanto Cobasi quanto Petz estavam em momentos financeiros distintos, mas enfrentavam desafios no competitivo mercado pet brasileiro.
Embora fossem líderes no setor, estavam lidando com questões de rentabilidade, expansão acelerada e a crescente pressão dos marketplaces digitais e grandes varejistas, que aumentavam a concorrência no varejo de produtos e serviços pet.
A Cobasi, com R$ 3,1 bilhões de faturamento bruto em 2023 e Ebitda de R$ 197 milhões, tinha uma base financeira sólida, mas também estava sentindo os efeitos da concorrência crescente. Sua avaliação de mercado, na faixa de R$ 3 a R$ 3,2 bilhões, refletia um certo subvalorização no contexto do mercado, principalmente pela fragilidade da Petz no momento das negociações. Mesmo assim, a Cobasi era vista como uma empresa bem posicionada, com forte presença física e em expansão no setor de pet care, incluindo serviços como clínicas veterinárias, creches e hotéis para animais.
Já a Petz, apesar de ser maior em faturamento, com R$ 3,8 bilhões em 2023 e Ebitda de R$ 267 milhões, enfrentava um cenário financeiro mais desafiador. A queda de 50% nas suas ações desde agosto de 2023 e a perda de 88% de valor desde o pico em 2021 refletiam o impacto da sua expansão acelerada, com margens comprimidas e dificuldades para manter uma precificação competitiva.
A pressão crescente de marketplaces digitais e a presença de grandes varejistas no setor complicavam ainda mais suas perspectivas a curto prazo. A avaliação da Petz no mercado estava sendo negativa, com análises de Goldman Sachs e Citi anteriores à fusão apontando projeções neutras ou conservadoras para o futuro imediato da empresa.
A fusão, portanto, não foi apenas uma reação à fragmentação do mercado, mas uma estratégia necessária para dar mais robustez às duas empresas frente a esse ambiente de alta competitividade. Para a Petz, a união representa uma chance de consolidar sua posição no mercado, capturar sinergias operacionais e melhorar sua gestão corporativa. Para a Cobasi, é uma oportunidade para fortalecer sua presença tanto no físico quanto no digital, além de otimizar suas operações e reduzir custos.
O mercado viu a fusão como uma forma de enfrentar o avanço de plataformas digitais e grandes varejistas, que pressionavam margens e ampliavam a concorrência. Com a união, as empresas agora somam um faturamento bruto de R$ 6,9 bilhões e um total de 483 lojas — uma potência do setor. A fusão gerou expectativas de sinergias entre R$ 220 milhões e R$ 330 milhões anuais, com ganhos de escala, eficiência operacional e melhoria na negociação com fornecedores.
No entanto, a fusão enfrenta desafios significativos. A Petlove, terceira maior do setor, já expressou preocupações sobre o aumento do poder de mercado da nova gigante, argumentando que isso poderia dificultar a entrada de novos players e limitar a concorrência em determinadas regiões. Esse é um dos principais pontos de atrito que ainda poderá ser analisado pelo Tribunal do Cade.
Além disso, a fusão precisa lidar com a pressão dos marketplaces digitais, que dominam o e-commerce, e com o risco de redução na variedade de produtos e dificuldade na negociação com fornecedores, especialmente em regiões onde a nova empresa terá forte presença. A estratégia de precificação competitiva será essencial para manter as margens de lucro, dado o ambiente de preços agressivos e a alta competitividade no setor. A nova companhia precisará de estratégias eficazes para se manter competitiva, principalmente no mercado online, onde a concorrência é cada vez mais feroz.
Outro desafio importante será a necessidade de inovação constante. O setor pet está em uma transformação constante, com os consumidores buscando não apenas produtos de alta qualidade, mas também novos serviços e soluções que atendam à crescente demanda por cuidados especializados. Será preciso investir em tecnologia e adaptar-se às novas preferências dos consumidores para preservar sua relevância a longo prazo, garantindo que a fusão não apenas reforce sua posição no mercado, mas também a prepare para os desafios do futuro.
Agora, resta acompanhar para ver se quem ladra realmente morde.