Considerando-se ainda o que a empresa paga a Estados e municípios, o montante que entra nos cofres públicos chega a R$ 675 bilhões. (Montagem Andrei Morais/Shutterstock)
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de maio de 2022 às 17h26.
Última atualização em 9 de maio de 2022 às 11h14.
Na quinta-feira, após a Petrobras (PETR3/PETR4) anunciar lucro de R$ 44,5 bilhões no primeiro trimestre, o presidente Jair Bolsonaro veio a público reclamar do número, que considerou um "estupro" ou um "crime". Mas, como o governo federal é o maior acionista da empresa, talvez o mais correto fosse comemorar, já que, quanto melhor o desempenho da empresa, mais dinheiro entra nos cofres públicos.
Entre janeiro de 2019 (início do governo Bolsonaro) e março deste ano, a Petrobras já injetou nos cofres federais R$ 447 bilhões, levando-se em conta, além dos dividendos, os impostos e os royalties pagos. Os números constam dos relatórios fiscais da companhia. Nesse período, o lucro líquido foi de R$ 200 bilhões. Se a conta considerar o faturamento (R$ 1,16 trilhão), o valor transferido corresponde a 38,5% do total.
Considerando-se ainda o que a empresa paga a Estados e municípios, o montante que entra nos cofres públicos chega a R$ 675 bilhões. Para se ter uma ideia do que isso significa, só o montante pago à União corresponde a aproximadamente cinco vezes o orçamento do Auxílio Brasil previsto para este ano, em torno de R$ 89 bilhões. O dinheiro também chega perto do desembolso feito pelo governo em 2020 com gastos relacionados à covid-19, de R$ 524 bilhões.
O diretor executivo interino da Instituição Fiscal Independente (IFI), Daniel Couri, afirma que, dado o tamanho da contribuição da Petrobras, é muito relevante sua importância para a saúde das contas públicas do País. O cálculo, por alto, é de que, sozinha, a Petrobras responda por algo entre 1% e 2% do total da arrecadação federal - é de longe o maior contribuinte individual.
"Provavelmente, sozinha, a Petrobras consegue pagar todas as despesas de saúde no Brasil", diz o especialista. Couri lembra ainda que parte desses recursos vindos da estatal não é dinheiro carimbado, ou seja, que já tem destinação obrigatória - ao contrário, é de uso livre, algo importante para as contas do governo.
Lucro é o maior entre petroleiras globais
A Petrobras foi a petroleira que registrou, em dólares, o maior lucro líquido no primeiro trimestre no mundo. Segundo levantamento feito pela empresa de informações financeiras Economática, o lucro da Petrobras, de US$ 9,405 bilhões, foi quase o dobro dos US$ 5,480 bilhões registrados pela americana ExxonMobil, a maior petroleira do mundo em valor de mercado.
Ao rebater as críticas que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez ao tamanho do lucro da estatal, ainda na noite de quinta-feira, o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, disse ontem que a disparada das cotações internacionais do petróleo turbinou os resultados de todas as petroleiras e que o lucro da estatal brasileira está no "mesmo patamar" do das demais empresas.
Entre as dez maiores companhias que já divulgaram resultados, o lucro da Petrobras foi maior do que o registrado por petroleiras que faturaram mais, como Chevron, BP, PetroChina, CNOOC e Eni Spa - a anglo-holandesa Shell ainda não divulgou o balanço. A maior receita do mundo ficou com a PetroChina, que faturou US$ 122,929 bilhões no primeiro trimestre. Mesmo assim, a chinesa teve lucro líquido de US$ 6,161 bilhões, segundo os dados da Economática.
Todas as principais petroleiras do mundo viram suas receitas saltarem na comparação com 2021. A maioria também experimentou uma disparada no lucro líquido. Foi o caso da Exxon Mobil (100 7% a mais), Chevron (alta de 354,5%), Conocophillips (mais 486 5%), PetroChina (46% mais) e CNOOC (avanço de 1.315,9%). Mesmo nesse quesito, a Petrobras foi destaque absoluto, com disparada de 4.492% ante o primeiro trimestre de 2021.
O bom resultado é um efeito direto da guerra na Ucrânia, que fez disparar a cotação do barril de petróleo no mercado global, para um patamar acima dos US$ 110 o barril.
As críticas de Bolsonaro ao lucro da Petrobras não tiraram o bom humor do mercado com o resultado da empresa na sexta - principalmente após a informação de que os dividendos do primeiro trimestre serão de R$ 48,5 bilhões. "No geral, os resultados foram muito bons, mas os dividendos roubaram a cena", aponta relatório do banco Credit Suisse, enviado a clientes.
A XP também destacou os dividendos, mas reconheceu que o ruído político tem prejudicado o desempenho das ações da companhia. "Os dividendos estão proporcionando aos investidores um bom retorno total das ações, apesar do ruído político que mantém os preços (e índices) das ações reprimidos", destacou.
Preço de mercado
José Mauro Coelho ontem as críticas feitas pelo presidente e disse que a empresa vai manter sua política de preços atrelada à variação do petróleo no mercado internacional. "Não podemos nos desviar da prática de preços de mercado", afirmou Coelho, em reunião com analistas de bancos para detalhar o balanço da Petrobras no primeiro trimestre, quando fechou com lucro de R$ 44,5 bilhões.
Segundo ele, quanto melhor o resultado da empresa, maior o volume de impostos que são recolhidos para a União, o que beneficia a sociedade. "A arrecadação de R$ 70 bilhões em impostos no primeiro trimestre promove mais empregos, permite que Estados e municípios façam investimentos", disse ele.
Durante entrevista coletiva, Coelho falou especificamente sobre as críticas de Bolsonaro. Segundo o executivo, a preocupação de Bolsonaro com os preços dos combustíveis é "legítima", mas há uma "confusão" em relação aos principais "vetores" do resultado financeiro da companhia.
"Não há relação significante entre os resultados da Petrobras e o reajuste dos preços dos combustíveis. Para os senhores terem uma ideia, 80% dos ganhos do período (o primeiro trimestre) foram provenientes das atividades de exploração e produção de petróleo e apenas 20% de todos os demais segmentos", afirmou ele.
Segundo Coelho, a diretoria da Petrobras não é "insensível" aos elevados preços dos combustíveis nos postos. Tanto que a empresa "acompanha preços de mercado", mas não repassa a "volatilidade momentânea de imediato" para os preços. Só que, em determinados momentos, os reajustes devem ser feitos, para manter a saúde financeira da companhia.
Coelho também ressaltou que o aumento das cotações do petróleo é um fenômeno global, turbinado pela guerra na Ucrânia. Por isso, "a elevação do preço dos combustíveis acontece em todo o mundo e é uma preocupação de todos os líderes governamentais." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.