JPMorgan estima que Petrobrás e outras empresas brasileiras venderão US$ 33 bilhões em dívida internacional em 2012 (Germano Lüders/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 28 de dezembro de 2011 às 07h00.
São Paulo - As captações das companhias brasileiras no exterior aumentaram pela primeira vez em três trimestres de outubro a dezembro, com o retorno do apetite dos investidores por ativos mais rentáveis.
As empresas brasileiras captaram US$ 6,8 bilhões com a venda de dívida durante os três últimos meses de 2011, lideradas pelos US$ 3,5 bilhões da Petróleo Brasileiro SA. O total supera os US$ 2,7 bilhões de julho a setembro, o menor valor em dois anos, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Os custos de captação em dólar das empresas brasileiras estão baixando de 7,09 por cento, nível mais alto em dois anos atingido em outubro em meio aos receios de que a crise da dívida da Europa levará a economia global à recessão e a reduzirá a demanda por exportações da América Latina. A retomada das captações deve se estender pelo primeiro trimestre, disse Eric Ollom, estrategista de renda fixa do Citigroup Inc., em Nova York.
“O primeiro trimestre será preenchido por companhias de maior qualidade, bem conhecidas”, disse Ollom. “Empresas de qualidade mais baixa podem emitir, se esta não for a primeira vez.”
O rendimento médio dos títulos corporativos brasileiros diminuiu 46 pontos-base, ou 0,46 ponto percentual, neste trimestre para 6,2 por cento, de acordo com o índice CEMBI do JPMorgan Chase & Co. A taxa média dos papéis do governo brasileiro, referência para os corporativos, caiu 49 pontos-base para 4,43 por cento durante este trimestre.
As captações corporativas no México baixaram de US$ 5,1 bilhões no terceiro trimestre para US$ 4,2 bilhões nos últimos três meses de 2011, enquanto as operações de empresas em toda a América Latina foram de US$ 10,4 bilhões para US$ 15,8 bilhões.
Vale e OSX
Executivos da Vale SA, maior produtora mundial de minério de ferro, e da OSX Brasil SA, estaleiro do bilionário Eike Batista, disseram no último mês que pretendem vender bônus no ano que vem.
O JPMorgan estima que empresas brasileiras venderão US$ 33 bilhões em dívida internacional no ano que vem, respondendo por 44 por cento de todas as emissões da América Latina, de acordo com relatório de 22 de dezembro de autoria de um grupo de analistas incluindo Jacob Steinfeld, de Nova York. As companhias latino-americanas emitiram US$ 77 bilhões este ano, menos do que o recorde de US$ 79,8 bilhões em 2010, segundo dados compilados pela Bloomberg. O primeiro trimestre foi o mais movimentado do ano, com US$ 29,6 bilhões em captações.
A Petrobras, maior empresa de energia da região, emitiu 700 milhões de libras esterlinas (US$ 1,1 bilhão) em títulos com vencimento em 2026 em 5 de dezembro, quatro dias após ter vendido 1,85 bilhão de euros (US$ 2,4 bilhões) em dívida com vencimento em 2018 e 2022 para ajudar a financiar o plano de investimentos de US$ 224,7 bilhões num período de cinco anos.
Melhor classificação
Em resposta enviada ontem por e-mail a perguntas da reportagem sobre mais vendas de títulos, a Petrobras disse que está “constantemente avaliando novas opções para levantar fundos para financiar” seu plano de investimentos. A estatal vendeu US$ 9,6 bilhões em dívida no exterior este ano. O rendimento dos títulos da empresa denominados em dólar com vencimento em 2021 caiu 44 pontos-base neste trimestre para 4,77 por cento.
A Vale pretende acessar os mercados de dívida em 2012, após a Standard & Poor’s ter melhorado sua classificação de risco em novembro de BBB+ para A-, o sétimo menor grau de investimento, disse Tito Martins, diretor financeiro da mineradora, em entrevista em Nova York em 29 de novembro. Um representante da Vale no Rio de Janeiro se recusou a fazer comentários adicionais sobre os planos de captação da empresa.
O rendimento dos títulos da Vale com vencimento em 2017 caiu 89 pontos-base neste trimestre, para 3,62 por cento. No acumulado do ano eles mostram uma queda de 52 pontos-base.
Planos da OSX
A OSX Brasil estuda vender títulos em moeda estrangeira para ajudar a captar os US$ 850 milhões necessários para uma terceira plataforma de petróleo, disse Roberto Monteiro, diretor financeiro em entrevista por telefone em 1 de dezembro. Seria a primeira venda de títulos da OSX desde que Eike fundou a empresa em 2009.
“A companhia vê o mercado de bônus como uma opção para levantar fundos, no entanto, é prematuro confirmar que vamos acessar esse mercado no curto prazo”, disse a OSX em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem.
Os emissores vão ter de escolher bem o momento de suas ofertas porque a crise europeia ainda pode prejudicar a demanda por ativos mais rentáveis, disse Surat Maheshwari, chefe de empréstimos sindicalizados internacionais do Itaú BBA USA Securities em Nova York.
“A oferta está lá, mas o mercado não está em sua melhor forma”, disse Maheshwari em entrevista por telefone de Nova York. “Será como no quarto trimestre, no sentido de que haverá alguns dias de notícias boas, seguidos por outros dias ruins, abrindo janelas de oportunidade.