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Petrobras explica contrato com governo, mas não convence

Companhia se reuniu com principais corretoras para explicar detalhes de seu contrato para ampliar a exploração de petróleo do pré-sal

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2014 às 17h21.

São Paulo - Na tarde a última sexta-feira, a cúpula da Petrobras se reuniu com analistas das principais corretoras que atuam no mercado brasileiro para explicar detalhes de seu contrato com o governo para ampliar a exploração de petróleo do pré-sal em áreas de cessão onerosa.

Na opinião de Morgan Stanley, Credit Suisse, Citibank e Itaú Unibanco, embora haja claros benefícios para a estatal no acordo, as explicações pouco convenceram e ainda permanecem muitas incertezas sobre o futuro da companhia.

Em relatório enviado a clientes, o analista do banco de investimentos Morgan Stanley Bruno Montanari afirma que, de fato, haverá benefícios para a Petrobras no longo prazo com a contratação direta para explorar petróleo em quatro áreas de cessão onerosa.

A estatal pagará ao governo R$ 2 bilhões como bônus de assinatura do contrato e poderá extrair algo entre 10 e 15 bilhões de barris de óleo equivalente. “De fato, as condições parecem bem atrativas para tal potencial das novas reservas”, diz o relatório.

Contudo, para o analista, a determinação do Conselho Nacional de Política Energética foi apresentada de forma “simplista demais” e praticamente sem a participação da Petrobras.

Além disso, a falta de detalhes sobre a estrutura do contrato entre estatal e governo trazem mais incertezas ao cenário.

Ele afirma ainda que os gestores da Petrobras enfatizaram os fundamentos de longo prazo da companhia, sem dar muita atenção ao cenário atual, em que o balanço da companhia segue pressionado por conta do endividamento excessivo e a paridade de preços dos combustíveis no Brasil e no exterior segue longe de ser atingida.

“Ao pedir aos investidores que apostem nos fundamentos de longo prazo da empresa, os gestores estão subestimando a percepção do mercado de que a interferência do governo na gestão da Petrobras é excessiva”, e que assuntos como o aumento dos preços dos combustíveis ainda estão cercados de muitas dúvidas.

O Morgan Stanley recomenda manutenção das ações e estima um preço justo de R$ 18,81 para as ações da estatal.

Não é só petróleo

Os analistas Vinicius Canheu e Andre Sobreira, do Credit Suisse, afirmam que saíram da reunião com a liderança da Petrobras com uma “visão mais positiva do que ao entrar (na reunião)”.

Segundo eles, os argumentos técnicos e os benefícios para a companhia ficaram claros.

Contudo, os analistas lembram que “os últimos cinco anos nos mostraram que o negócio da Petrobras não envolve apenas barris de petróleo”.

O desempenho atual da empresa, com seu elevado nível de comprometimento de caixa, e a questão da governança corporativa, com as frequentes intervenções do governo são questões que pesam na conta final para o investidor.

Segundo eles, em um cenário de bolsa em queda, o detalhamento precário do contrato, a excessiva incerteza que ronda a atuação da empresa “e a recente afirmação da presidente Dilma Rousseff de que ‘o acordo com a Petrobras é uma maneira de mostrar a soberania nacional’ deixam os investidores céticos com o contrato, mesmo após as justificativas”.

Os analistas do Credit têm recomendação “neutral”, ou de manutenção, para as ações da Petrobras, com preço justo de R$ 16,45 por ação.

Pressões continuam

Para o analista do Citibank Pedro Medeiros, o encontro com a gerência da Petrobras foi “marginalmente positivo”, mas não mudou a visão de que o acordo com o governo continuará pressionando as ações da companhia na BM&FBovespa, dado o elevado nível de incerteza que a notícia adiciona às projeções de fluxo de caixa da estatal.

O Citibank mantém a recomendação “neutral”, de manutenção, para as ações da Petrobras e estima um preço justo de R$ 19,98.

Confiança de um lado

Os gestores da Petrobras mostraram, na reunião, que estão dispostos a fazer um bom trabalho do ponto de vista técnico, segundo a analista do Itaú Unibanco Paula Kovarsky.

Contudo, “presumir que (o contrato com o governo) trata-se de um bom negócio para a Petrobras, exige mais do que acreditar que a administração da empresa está genuinamente tentando fazer um bom trabalho do ponto de vista técnico”.

Em relatório enviado a clientes, ela afirma que “essa hipótese também presume que a contraparte na negociação será tão capaz e racional quanto a equipe da Petrobras”.

A analista lembra que a Petrobras confirmou que a curva de produção da cessão onerosa não está no contrato e que constava uma citação errônea na resolução do Conselho Nacional de Política Energética.

“Em suma, muito depende de documentos ainda não redigidos”, diz, no relatório do Itaú enviado a clientes. Segundo Paula, há o risco de “a política prevalecer sobre a racionalidade econômica”.

Ela lembra que, por exemplo, “para crer que (o contrato) não configura um problema para o balanço patrimonial já machucado da companhia, é preciso estar convencido de que os tão aguardados reajustes nos preços de diesel e gasolina não vão demorar”.

O Itaú Unibanco mantém sua recomendação de “market perform”, ou seja, perspectiva de desempenho das ações em linha com a média do mercado, e estima um valor justo de R$ 22,6 para as ações.

No pregão de hoje, perto do fechamento, os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras tinham alta de 0,52%, negociados a R$ 17,30, e os ordinários (ON, com voto) subiam 0,93%, a R$ 16,20. O Índice Bovespa caía 0,12%, chegando a 53.093 pontos.

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