Bolsa: otimistas sobre o desenvolvimento da vacina, investidores seguem migrando para papéis mais afetados pela pandemia (REUTERS/Paulo Whitaker/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 10 de novembro de 2020 às 10h48.
Última atualização em 13 de novembro de 2020 às 11h52.
Ainda impulsionada pelos resultados preliminares da potencial vacina da Pfizer contra o coronavírus, o Ibovespa subiu 1,5% nesta terça-feira, 9, no seu sexto pregão de alta consecutivo, retomando os 105 mil pontos. Mas além da busca por ações de empresas que mais sofreram durante a pandemia, os resultados do terceiro trimestre apresentados entre a noite de ontem e esta manhã também influenciaram as decisões de investimentos desta terça.
Altamente prejudicadas pelos isolamentos sociais, que derrubaram a demanda e o preço do petróleo, as ações da Petrobras ordinárias da Petrobras (PETR3) avançaram 7,95%, e as preferenciais (PETR4), 6,80%, na expectativa que uma vacina normalize a dinâmica da indústria petrolífera. O movimento levou os papéis da estatal para o maior patamar de fechamento em três meses, desde o dia 12 de agosto. Na véspera, o petróleo brent, que serve de referência para a política de preço da companhia, subiu 7,5%. Hoje, marcou alta de mais de 3%. Por outro lado, do mesmo setor, os papéis da PetroRio (PRIO3) recuaram 2,01%.
Outro grupo de papéis que se beneficia dessa migração de posições é o de grandes bancos, que também dispararam e ajudaram a impulsionar o Ibovespa. Entre eles, Santander (SANB11), com alta de 7,66%, e Banco do Brasil (BBAS3), com ganhos de 5,11%. Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4) avançaram 4,52% e 6,45%, respectivamente.
As ações do frigorífico BRF (BRFS3), das marcas Sadia e Perdigão, avançaram 5,95% nesta terça, após divulgação de balanço do terceiro trimestre. JBS (JBSS3, +3,41%), Minerva (BEEF3, +1,69%), Marfrig (MRFG3, +2,33%), ambas do mesmo setor, subiram na esteira.
A companhia reportou lucro líquido de 219 milhões de reais, 50,9% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. Porém, excluindo os gastos associados ao combate dos efeitos do coronavírus, o lucro líquido teria sido de 327 milhões de reais, segundo a companhia. No período, a receita líquida teve alta anual de 17,5% para 9,943 bilhões de reais. A melhora da receita foi motivada pelo maior volume de vendas internas e pelas performances nas vendas para a Ásia, no segmento DDP Halal, e pela desvalorização do real.
Segundo os analistas Pedro Galdi e Fernando Bresciani, da Mirae Asset, o resultado operacional veio acima das expectativas. Para o quarto trimestre, eles esperam por números sólidos, com recuperação mais forte no mercado interno, embora com alguma pressão no setor externo, principalmente Europa, afetando os preços devido à nova onda de Covid-19. Também é aguardada alguma pressão de custos para o início de 2021, mas com expectativa de aumento de preços para contornar o atual momento, comentaram.
As ações da Ultrapar (UGPA3) fecharam como a maior alta do Ibovespa hoje, após subirem 8,45%, indo para 21,70 reais. Do mesmo setor, os papéis da Cosan (CSAN3) e BR Distribuidora (BRDT3), que reporta balanço hoje à noite, avançaram 3,49% e 3,34%, respectivamente.
Para o analista Bruno Henriques, Exame Research, não há uma notícia específica para puxar essas ações hoje. “É mais uma continuidade do movimento de rotação de carteiras pelos investidores, do tema “stay home” para o tema “out of home”, ou seja, saída de ativos expostos a vendas online para compra de shoppings, por exemplo. Distribuição de combustível também entra no “out of home”, comenta. Além do movimento de rotação setorial, Filipe Villegas, analista da Genial Investimentos comenta que o bom resultado de Ultrapar na semana passada também contribui para o otimismo. Entenda mais aqui.
Nas últimas cinco sessões, os papéis da Ultrapar acumulam ganhos de 31%, em meio ao balanço do terceiro trimestre, reportado na quarta-feira passada, 4, que foi bem-recebido pelo mercado. Pegam carona junto, Cosan, com ganhos de mais de 15% no mesmo período, e BR Distribuidora, com alta de cerca de 18%. Das três, a Cosan será a última a divulgar balanço, previsto para a próxima sexta-feira, 13, após o fechamento do mercado.
As ações da Yduqs (ex-Estácio) subiram 4,97%, após a companhia ter apresentado alta anual de 17,2% em sua receita líquida, que foi de 976,3 milhões de reais no terceiro trimestre. O lucro líquido, porém, ficou em 1112,5 milhões de reais, 26,3% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado.
As ações da Magazine Luiza (MGLU3) chegaram a subir mais de 2%, sendo impulsionada pelo resultado do terceiro trimestre, mas perderam força em meio à migração para ações mais prejudicadas pela pandemia e caíram 4,65%. Do mesmo setor, B2W (BTOW3) e Via Varejo (VVAR3) afundaram 8,31% e 3,78%, respectivamente.
Em balanço divulgado na noite de ontem, a Magalu voltou a registrar recorde de vendas, com aumento anual de 81% para 12,4 bilhões de reais. O e-commerce, principal responsável pelo crescimento das vendas, teve alta de 148%, atingindo 8,2 bilhões de reais – ou 66% das vendas totais. Segundo a empresa, o ganho de marketshare na comparação anual foi de 5,4 pontos percentuais.
A Magazine Luiza atribui à performance de seu aplicativo o aumento da fatia do mercado. “Também contribuíram a entrega mais rápida do varejo, a evolução do marketplace e o crescimento das novas categorias”, afirmam em balanço. O balanço da companhia motivou agentes do mercado a ajustarem o preço-alvo da ação, como o Bradesco, que o elevou de 21 reais para 30 reais.
Ainda que não tenha sido suficiente para fazer os papéis da companhia nadarem contra a corrente, o resultado do terceiro trimestre impede que suas ações caiam ainda mais.
Além dos papéis de e-commerce, ações de empresas de tecnologia, consideradas as vencedoras do período de isolamento social, sofreram perdas significativas pelo segundo dia consecutivo, ainda na esteira dos resultados da vacina da Pfizer. As ações da Totvs (TOTS3) caíram 6,81%, figurando como a segunda maior baixa do Ibovespa hoje, enquanto as da Locaweb (LWSA3), de fora do índice, recuaram 6,93%.
Apesar das quedas das empresas de tecnologia, as ações da Positivo (POSI3) fugiram à regra e subiram 2,85% após os resultados do terceiro trimestre terem superado as expectativas do mercado. No período, a companhia aumentou sua receita bruta em 10% para 565,2 milhões de reais. O resultado foi turbinado principalmente pelas maiores vendas de tablets, computadores de dispositivos para casa inteligente.
As ações da Embraer (EMBR3), que chegaram a cair mais de 6%, encerraram o pregão com baixa bem mais amena, de 1,21%. No radar da companhia, investidores repercutiram o balanço do terceiro trimestre da fabricante de aeronaves, que trouxe um prejuízo líquido de 797,5 milhões de reais no período. O Ebitda (lucro antes de juros impostos depreciação e amortização) ficou em 1 milhão ante s 75 milhões alcançados no mesmo período do ano passado. "A companhia, que já enfrenta forte turbulência, não parece que sairá dessa desconfortável zona de maneira tão rápida. A incerteza relacionada à pandemia e o fracasso do acordo com a Boeing são os principais causadores destes números", avaliam analistas da Exame Research.