Câmbio: o real saltou 6,6% neste ano em relação ao dólar (REUTERS/Bruno Domingos)
Da Redação
Publicado em 14 de abril de 2014 às 15h04.
São Paulo - Os investidores pessimistas em relação ao real estão sendo prejudicados pela aposta da presidente Dilma Rousseff no uso da moeda para domar a inflação antes das eleições de outubro.
O real saltou 6,6 por cento neste ano em relação ao dólar, o melhor desempenho entre as 16 moedas mais negociadas, após negociantes de opções aumentarem as apostas baixistas para um nível próximo do recorde.
Bancos como o Citigroup Inc. e o Banco Bilbao Vizcaya Argentaria SA dizem que os estrategistas do Banco Central do Brasil, procurando dar um fim à maior sequência de aumentos nos custos de empréstimos do mundo, confiarão em vez disso em uma moeda mais forte para conter a inflação.
Os aumentos dos preços ao consumidor aceleraram para mais de 6 por cento no mês passado, depois que a pior seca em meio século elevou os preços dos alimentos, contribuindo com a queda de Dilma nas pesquisas antes da eleição.
“A gestão cambial provavelmente terá um papel na estratégia política do governo com a aproximação das eleições”, disse Michael Henderson, analista da Maplecroft Global Risk Analytics em Bath, Inglaterra, em resposta enviada por e-mail a questões, em 10 de abril.
“Eu não tenho dúvida de que Dilma Rousseff e companhia abrirão uma caixa de ferramentas pouco ortodoxa e farão o que for necessário para parar a inflação”.
O real subiu 0,8 por cento na semana passada, para 2,2187 por dólar, em sua quarta valorização consecutiva, a mais longa sequência de aumentos desde fevereiro de 2013. Seu avanço neste ano é maior do que qualquer ganho trimestral desde o período de três meses terminado em setembro de 2010, quando a moeda saltou 7 por cento.
2 reais por dólar
Henderson prevê que as autoridades conduzirão a moeda ao patamar de dois reais por dólar neste ano, nível que seria atingido pela primeira vez desde maio do ano passado.
Analistas do Citibank e do BBVA dizem que o Banco Central está usando seu programa de intervenção de leilões de swap cambial para sustentar o real e combater a inflação limitando os aumentos nos preços de importação.
O Brasil vem vendendo até US$ 200 milhões em swaps diários de moedas estrangeiras por meio de um programa anunciado em dezembro. A moeda teve o maior aumento entre os mercados emergentes no dia 4 de abril, quando o Banco Central voltou a rolar os contratos.
“Neste momento, a única aliada do Banco Central na luta contra a inflação é a apreciação da moeda”, disse Mário Toros, sócio da Ibiúna Investimentos e ex-diretor de política monetária do Banco Central, em um evento, em São Paulo, no dia 10 de abril.
O Banco Central diminuiu o ritmo dos aumentos da taxa básica de juros para 0,25 por cento em abril e fevereiro após elevá-la duas vezes mais rapidamente que isso nas seis reuniões anteriores. Os nove aumentos desde abril de 2013, que levaram a chamada Selic para 11 por cento, são os maiores entre 49 bancos centrais monitorados pela Bloomberg.
A inflação e a crise econômica são sinais de que a valorização do real não irá durar, segundo Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Crédit Agricole Brasil SA em São Paulo.
A Standard Poor’s rebaixou a classificação de crédito do Brasil em 24 de março para o mais baixo grau de investimento, dizendo que o crescimento lento e uma política fiscal expansionista estão impulsionando o aumento da dívida do país.
“É preciso tempo para empurrar a inflação para baixo, mesmo com o uso de política monetária ou fiscal”, disse Enestor dos Santos, economista do BBVA, em entrevista por telefone, no dia 9 de abril, de Madri.
“A expectativa é que a inflação supere a faixa-meta do Banco Central neste ano e a discussão agora está passando a ser se ela diminuirá de fato até o final do ano. Por isso o governo terá que manter o real forte”.