Luis Rodrigues Nazário, gestor do fundo de crédito da Principal Claritas (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter
Publicado em 17 de novembro de 2023 às 09h48.
Última atualização em 17 de novembro de 2023 às 12h45.
A derrocada de grandes empresas estremeceu o mercado de dívida no início do ano. Com medo de que casos semelhantes aos da Americanas e Light se espalhasses para outras companhias brasileiras, investidores passaram a pedir mais dinheiro para correrem o risco do empréstimo. Desde o segundo trimestre, os preços têm voltado ao normal. Mas ainda há boas oportunidades na mesa.
Luis Rodrigues Nazário, gestor de crédito da Principal Claritas, avalia que, na média, os spreads de crédito dos títulos corporativos já caíram pela metade desde o pico do ano. "Tem títulos de alta qualidade que já estão com spreads em níveis até mais baixos que antes do evento Americanas. Mas, muitos outros ainda não voltaram. O mercado passou por um movimento de busca por ativos de qualidade", disse Nazário em entrevista à Exame Invest.
Entre os papéis que estão com spreads mais altos, o gestor destaca os do setor de varejo. "Alguns papéis estão com spreads não tão racionais, com uma relação de risco/retorno interessante."
Embora reconheça a oportunidade, Nazário não tem aumentado a exposição ao setor, devido ao perfil do fundo, de crédito de empresas de alto grau de investimento: os chamados "high grade". "O risco/retorno pode até ser favoravelmente assimétrico, mas o risco está além do que toleramos."
Esse maior conservadorismo, disse Nazário, foi o que ajudou o fundo a manter a rentabilidade positiva no início do ano, mesmo quando seus pares registraram perdas em decorrência dos efeitos Light e Americanas. Das duas, o fundo da Principal Claritas tinha os papéis da Americanas. Mas as perdas provocadas pelo papel foram diluídas, dada a alta pulverização da carteira. O fundo é formado por cerca de 105 títulos corporativos, sendo que sua maior posição, em dívida da Movida, ocupa 2,8% do portfólio.
Embora tenha um perfil de menor risco, o fundo não ficou parado diante das oportunidades do início do ano, contou Nazário. "Mesmo os títulos defensivos estavam com preços muito bons. Empresas que pagam CDI+ 1,50% estavam pagando CDI +2,5%." Nazário conta que o fundo costuma rodar com entre 15% e 20% de caixa. Naquele momento, o percentual de dinheiro em caixa caiu para 5%. "Isso contribuiu para rentabilidade do fundo no ano."
O fundo é formado por cerca de 105 títulos corporativos e acumula pouco mais de 11% de retorno no ano. Seu rendimento acumulado desde sua criação, em 2010, é de 278,7%, o equivalente a 120% do CDI.
Com os spreads mais próximos da normalidade, o fundo de crédito da Principal Claritas elevou o dinheiro em caixa para próximo de 15%. O que irá determinar se haverá mais ou menos dinheiro em caixa, disse Nazário, é como o cenário macroeconômico irá se comportar daqui para frente e o nível de preço dos papéis.
"Estávamos mais alocados quando o prêmio estava mais alto. Hoje estamos carregando mais caixa, próximo do ponto médio. Mas se eu estivesse mais pessimista, estaria com 30% de caixa. Mas não é o caso. Achamos que o mercado está voltando para a racionalidade", disse.
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