Entrada da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2015 às 17h54.
São Paulo - A perda do grau de investimento do Brasil pela Standard & Poor’s pode dificultar a realização de ofertas iniciais de ações (IPOs) previstas para acontecer nos próximos meses, disse nesta quinta-feira o presidente-executivo da BM&FBovespa, Edemir Pinto.
Segundo o executivo, esse pode ser o primeiro reflexo da provável queda dos investimentos estrangeiros de longo prazo no país, dada a percepção de maior risco.
"Os IPOs ainda podem acontecer, mas a decisão (da S&P) vai dificultar", disse Edemir à Reuters. "Isso significa perder capacidade de atrair investimento estrangeiro de longo prazo, como dos fundos de pensão."
Atualmente há dois pedidos de ofertas iniciais de ações em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), um da Caixa Seguridade, que reúne participações e seguros e previdência da Caixa Econômica Federal, e outro da resseguradora IRB Brasil Re.
De acordo com Edemir, o corte da nota do crédito soberano, anunciado na véspera, mostra que o governo federal não se deu conta de que perder o selo de bom pagador é mais do que apenas a opinião de uma agência sobre o orçamento público.
"Isso significa que todas as companhias terão custo de captação muito maior, representa um ônus que vai tornar o investimento mais caro e a produção menos rentável. Vai ficar mais caro para produzir e gerar empregos", disse.
Em 2014, o Brasil teve o pior desempenho em listagem de novas companhias na bolsa em uma década, com apenas um IPO, a da Ourofino Saúde Animal. Neste ano, a única estreia no pregão foi da Par Corretora. Outras companhias, como a empresa aérea Azul e a JBS Foods, desistiram de suas operações alegando condições adversas do mercado.
Segundo o executivo, uma reação negativa mais vigorosa do mercado tenderia a ocorrer se outra agência dentre as grandes internacionais --Moody's e Fitch -- também tirar do país o selo de bom pagador. Nesta quinta-feira, o Ibovespa fechou em queda de 0,33 por cento e o dólar em alta de 1,34 por cento frente ao real.
"O cenário de terror não está descartado", disse, referindo-se ao fato de que vários investidores estrangeiros têm restrições estatutárias para comprar ativos de países que não têm o grau de investimento de pelo menos duas agências.
Para Edemir, iniciativas para tentar corrigir a déficit fiscal, incluindo corte de custos e aumento de impostos, tende a ser inevitável, mas qualquer oneração adicional sobre o mercado de capitais seria muito danosa.
"O mercado de capitais já tem sofrido há bastante tempo", concluiu.