MARCOS PEIXOTO, DA XP GESTÃO: os 40.000 pontos não voltam nem com a Dilma voltando / Divulgação
Letícia Toledo
Publicado em 21 de julho de 2016 às 17h12.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h46.
Letícia Toledo
Com uma alta de 30% no ano e de 9,8% só em julho, o Ibovespa, e suas ações, têm ajudado até o mais medíocre dos gestores de investimentos. Um punhado deles, é claro, consegue se sobressair. É o caso de alguns fundos da XP Gestão, a gestora de ativos da XP Investimentos. Um de seus fundos de ação, o XP Long Biased já rendeu 62% este ano. Em entrevista a EXAME Hoje, o presidente da XP Gestão, Marcos Peixoto, falou sobre as estratégias adotas até aqui e sobre o seu otimismo com o futuro. Para ele, o Ibovespa, atualmente nos 56.000 pontos, deve fechar o ano em torno dos 65.000.
Como vocês conseguiram render o dobro do Ibovespa este ano?
Foram dois movimentos principais. No fundo Long Basied, começamos o ano pouco alocados, pessimistas como boa parte dos gestores. O nosso acerto foi que em fevereiro aumentamos a nossa exposição, não por conta do Brasil, mas porque o cenário externo havia melhorado. Quando saiu a delação do senador Delcídio do Amaral, no fim de fevereiro, entendemos que o Ibovespa poderia subir muito mais e entramos de cabeça. Junto a isso, procuramos papéis com dois perfis que poderiam se beneficiar do impeachment. Escolhemos empresas alavancadas, que poderiam se favorecer com uma queda de juros. Compramos Rumo ALL, Eletrobras e Light, por exemplo. Ao mesmo tempo, se não houvesse impeachment, essas ações já estavam bem baixas e dificilmente cairiam muito mais. Escolhemos também ações ligadas a infraestrutura, que é o que deve fazer o Brasil voltar a crescer. Algumas delas dobraram de preço, com Rumo, Gerdau e Ecorodovias.
Passado o impeachment na Câmara, a carteira mudou muito?
Mudou. Na Rumo, por exemplo, estamos zerando a posição. Estamos olhando para infraestrutura e energia, mas está ficando cada vez mais escasso de opções porque as ações já subiram muito. A Transmissão Paulista é um caso que gostamos, que vai se beneficiar de uma queda de juros, tem uma receita previsível e a gente acha que tem espaço para subir mais. Nós também apostamos em bancos. Eles tiveram dois anos muito ruins de inadimplência, mesmo assim os lucros caíram pouco. O mercado está esperando lucros muito menores, mas se economia voltar a crescer há espaço para as provisões de crédito caírem, e o lucro pode voltar a subir.
O desempenho do Ibovespa este mês assustou muita gente. O índice já subiu mais de 9%. Isso era esperado?
Nossa expectativa é de que a bolsa feche o ano em 65.000 pontos, mas eu não esperava essa alta tão expressiva agora. Estávamos esperando uma alta grande pós-impeachment, no fim de agosto. O que aconteceu nessas últimas duas semanas foi um movimento de certa forma global. O Brasil andou mais, mas todos os emergentes subiram.
E essa alta foi motivada por alguma melhora?
Houve o estresse do Brexit, que trouxe um pânico inicial, mas depois o mercado viu que isso vai provocar juros baixos por mais tempo ao redor do mundo. Este cenário atrai mais investimentos para o Brasil, que tem juros altos. Houve também a divulgação de bons dados da economia americana, mostrando que ela está crescendo.
Mas com a economia americana melhorando os juros americanos podem voltar a subir…
É sempre essa bola dividida. Às vezes saem dados positivos sobre a economia e o mercado cai. Agora, saiu um dado forte e o mercado subiu. Isso aconteceu porque o mercado já desistiu dos juros nos EUA. A curva de juros do país não mostra nenhuma alta este ano, jogou a alta para depois de 2018, então estamos longe dessa preocupação. Claro que, se a gente engatar em quatros dados positivos sobre os Estados Unidos, aí o medo de uma alta nos juros volta.
O que falta para a bolsa sair do atual patamar e chegar mais perto dos 65.000?
A gente está otimista para a bolsa no curto prazo, mas foram muitos pregões seguidos de alta, foi muito rápido. Ainda não houve impeachment, não houve aprovações no Congresso, as privatizações… Para uma alta maior é preciso que essas notícias comecem a sair. Dito isso, a gente reduziu nossa exposição, mas com a expectativa de aumentar mais para frente…
Os 65.000 pontos do Ibovespa que vocês esperam para o fim do ano devem vir para ficar? Ou em 2017 podemos voltar para os 40.000 do início de 2016?
Os 40.000 não voltam nem com a Dilma voltando. A bolsa foi para os 40.000 com preocupações sobre o crescimento global, e isto ficou no passado. Nossa expectativa é que o impeachment passe, Temer consiga fazer as concessões e o PIB passe a crescer no próximo ano. Para nós, o PIB crescerá no mínimo 1% em 2017 e pode chegar até 3%. Se pegarmos os indicadores de confiança do consumidor e do empresariado, eles já deram uma retomada nos últimos meses. A volta da confiança gera a volta dos investimentos e do consumo. Isso anima o mercado, inclusive a bolsa.
O governo conta com esse ânimo do mercado para abrir capital de empresas como a Caixa Seguridade e a resseguradora IRB. O da IRB está previsto para setembro. Vai interessar aos investidores?
Acredito que setembro já faz todo o sentido. Caixa Seguridade e IRB são bons negócios que já tentaram vir ao mercado no ano passado. É tudo uma questão de preços. A Energisa também vai testar o apetite mercado com uma oferta de ações. O mercado está precisando de boas empresas.