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Para Ray Dalio, após pacote ambicioso, mudanças na economia da China 'virão com alguma dor'

Investidor elogio anúncios, mas se preocupa com situação da dívida do país

Para Dalio, o atual quadro tributário do país pode trazer problemas (World Economic Forum/Divulgação)

Para Dalio, o atual quadro tributário do país pode trazer problemas (World Economic Forum/Divulgação)

Luiz Anversa
Luiz Anversa

Repórter colaborador

Publicado em 4 de outubro de 2024 às 08h36.

Última atualização em 4 de outubro de 2024 às 08h45.

Ray Dalio publicou no LinkedIn alguns pensamentos sobre o recente pacote do governo chinês para incentivar a segunda maior economia do mundo. Dalio é conhecido por fundar a Bridgewater Associates, que se tornaria o maior hedge fund do mundo.

Banco Central da China surpreendeu o mercado ao anunciar na semana passada uma série de medidas para atingir a meta de crescimento de 5% para este ano.

"As autoridades chinesas fizeram declarações em apoio aos livres mercados como um grande passo para acabar com a desalavancagem deflacionária e estimular a produtividade . Isso aconteceu ao mesmo tempo em que os ativos chineses estavam (e ainda estão) muito baratos. Então foi uma combinação que incendiou os mercados. Foi uma grande semana. Na verdade, acho que foi uma semana tão grande que poderia entrar para os livros de história da economia de mercado como comparável à semana em que Mario Draghi disse que ele e o BCE 'fariam o que fosse preciso'. Isso, claro, se os formuladores de políticas da China, de fato, fizerem o que for preciso, o que exigiria muito mais do que o que foi anunciado", apontou o investidor no post.

China na encruzilhada

Dalio, porém, mostra preocupação com alguns pontos, chegando a dizer que a China pode estar numa encruzilhada. "A China pode lidar bem com sua crise de dívida ao projetar 'uma bela desalavancagem', que reduza os encargos da dívida ou os distribua para que a China não tenha uma crise de dívida e seja energizada para ser produtiva, ou também pode lidar com a crise da dívida de uma forma que a faça se arrastar em diante, levando a um mal-estar econômico e psicológico como o que o Japão experimentou", explicou.

Para o fundador da Bridgewater, o sucesso do pacote vai depender se os formuladores do plano chinês irão reestruturar as dívidas e reduzir as taxas de juros abaixo da inflação. Ele também acha que será um desafio estimular o crédito de forma equilibrada sem que respingue na inflação, mas que também é preciso lidar com a deflação que atinge o país.

O apoio político é muito importante nesse momento. "As políticas pró-mercado são estimulantes e, neste caso, especialmente boas porque há um poder enorme nas declarações de indicação de políticas do presidente Xi. Nesse caso, comentários de apoio vieram dos níveis mais altos (do presidente Xi Jinping e do Politburo, por exemplo. O próprio Xi tranquilizou autoridades de que elas não seriam punidas por erros bem-intencionados cometidos no processo de implementação de novas políticas. Essas declarações importam muito", explicou no texto.

Mudanças 'com dor'

Ray Dalio acredita que as mudanças virão "com alguma dor", mas que isso é inevitável. "As reestruturações de dívidas serão especialmente difíceis porque são complexas e porque são politicamente carregadas, pois terão enormes efeitos na riqueza das pessoas. Dívidas nos níveis de governo local, por meio de vendas de terras e empréstimos de empresas e pessoas em suas províncias, são situações especialmente difíceis de lidar. Imagine a situação de uma empresa que emprestou ao governo local e/ou depende dos gastos do governo local diante da situação atual. Quem deve fazer o quê e em que quantias para lidar com essa situação? Quem determinará essas coisas e como? Essas coisas não estão claras.", diz.

Em outro trecho do documento, o investidor mostra preocupação com o atual quadro tributário do país e a queda na natalidade. "Não há impostos de renda eficazes, impostos imobiliários, impostos sobre herança ou a maioria dos outros impostos (exceto IVAs, especialmente no nível de produção). Esse conjunto de condições torna o problema da dívida do governo local mais desafiador. Embora tenha havido uma pequena mudança recente na política, o problema demográfico — especialmente a idade de aposentadoria precoce (em média aos 53 anos) e a expectativa de vida até que alta ( 83 anos) — muitas pessoas passam muito tempo com pouca renda e um filho para cuidar delas. Ao mesmo tempo, a população em idade produtiva está diminuindo rapidamente", coloca.

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