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Publicado em 11 de junho de 2025 às 07h25.
Apesar da preocupação crescente com o déficit comercial, analistas dizem que o destino da moeda americana depende mais do desempenho das gigantes da tecnologia do que do saldo entre importações e exportações.
A Casa Branca e Wall Street costumam ter opiniões distintas sobre a economia, mas, quando o assunto é o déficit comercial dos Estados Unidos, há um raro consenso: os desequilíbrios nas contas externas são motivo de atenção e podem afetar o dólar.
Ainda assim, como apontou o Wall Street Journal, o destino da moeda parece mais atrelado ao desempenho das ações de grandes empresas americanas, como as do grupo conhecido como “Magnificent Seven”.
Em abril, o déficit comercial caiu pela metade, após um aumento nas importações em março, provocado por temores de novas tarifas. O recuo de quase 20% nas compras externas surpreendeu analistas e indica que as medidas tarifárias do governo Trump podem estar surtindo efeito.
Mesmo assim, dados do jornal mostram que o índice do dólar acumula queda de 7% no ano. Parte do mercado teme que o aumento nos gastos do governo e nos déficits fiscais esteja pressionando a moeda. Segundo o economista George Saravelos, do Deutsche Bank, “a posição patrimonial líquida dos EUA no exterior é o melhor indicador de espaço fiscal, e ela está se deteriorando rapidamente”.
Quando os EUA importam mais do que exportam, o país acaba registrando uma dívida externa líquida negativa. Em 2023, o índice do país chegou a 88% do PIB, pressionando os juros pagos pelo país.
Essa dinâmica impacta os juros e o câmbio. Se os consumidores e empresas gastam mais com produtos estrangeiros, a demanda interna esfria, o que pode forçar o governo a intervir com estímulos fiscais. Ao mesmo tempo, os bancos centrais dos países importadores mantêm os juros elevados para conter pressões inflacionárias.
Mas, ainda conforme reportagem do Wall Street Journal, a teoria de que o acúmulo de passivos externos leva à desvalorização da moeda nem sempre se confirma. Nos anos 2000, quando o déficit comercial dos EUA cresceu, o dólar se desvalorizou, o que ajudou a melhorar a balança de pagamentos. Nas últimas décadas, porém, a moeda voltou a se fortalecer, agravando os desequilíbrios.
Economistas como Michael Pettis afirmaram que o dólar se mantém valorizado por ser a principal moeda de reserva global, o que atrai capital de países exportadores como a China.
A reportagem ressalta que o acúmulo de dólares por exportadores não representa um financiamento direto aos EUA, mas sim o pagamento por produtos vendidos.
Além disso, os empréstimos feitos por investidores estrangeiros aos EUA não aparecem como passivos líquidos, já que envolvem a troca de títulos por dinheiro. Por isso, a conexão entre déficits externos e bolhas de crédito não é tão clara quanto parece.
O que parece pesar mais sobre o dólar é o desempenho do mercado de ações. As projeções de retorno sobre o patrimônio das empresas americanas estão fortemente ligadas à força da moeda. Investidores estrangeiros continuam aplicando em ações dos EUA, que são classificadas como passivos, mas que se valorizam com o avanço da economia e da tecnologia.
Em abril, o superávit dos EUA em serviços foi de US$ 25,8 bilhões, refletindo a força do setor e a liderança do país em tecnologia. De acordo com a reportagem, é difícil argumentar que essa combinação de alta rentabilidade e inovação leve o dólar a perder valor.
O dólar pode continuar em níveis elevados, desde que o mercado de trabalho siga firme, a inteligência artificial sustente os lucros das empresas e a confiança dos investidores não seja abalada por mudanças fiscais ou comerciais. Para o Wall Street Journal, o desequilíbrio externo, por si só, ainda não é suficiente para derrubar a moeda americana.