Mercados

Para JP Morgan, o Brasil está fora do radar dos estrangeiros até 2021

Crescimento econômico dos países é mais importante do que o diferencial da taxa de juros para os investidores globais

Para JP Morgan, o câmbio deve encerrar 2019 em 4 reais (Mike Segar/File Photo/Reuters)

Para JP Morgan, o câmbio deve encerrar 2019 em 4 reais (Mike Segar/File Photo/Reuters)

NF

Natália Flach

Publicado em 11 de setembro de 2019 às 12h30.

São Paulo - Os estrangeiros estão arredios em relação ao Brasil. O motivo, de acordo com uma pesquisa feita pelo banco JP Morgan com investidores globais, é que eles tomam suas decisões de investimentos mais baseados no diferencial de crescimento econômico do que no diferencial da taxa de juros.

Ou seja, preferem países em franca expansão a países que reduziram seus riscos (medidos pelos juros). É exatamente o oposto do Brasil, que, na última reunião do comitê de política monetária, cortou a Selic para o menor patamar histórico, de 6%, e deve registrar uma alta de apenas 0,87% do produto interno bruto em 2019, de acordo com o mais recente boletim Focus.

De fato, os estrangeiros retiraram da bolsa de valores brasileira mais de 2 bilhões de dólares entre 2 e 6 de setembro. No ano até 9 de setembro, as saídas somaram 43,2 bilhões de reais, enquanto as entradas ficaram em 41,2 bilhões de reais.

"A não ser que sejam realizadas reformas estruturais no Brasil que promovam crescimento mais acentuado, não veremos maior fluxo de capital de estrangeiros nos próximos 12 a 18 meses. O problema é que esse cenário não parece ser o mais provável", diz Cassiana Fernandez, economista-chefe do JP Morgan no Brasil, em seminário promovido pela Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), na manhã desta quarta-feira (11).

Há outro motivo também. O temor de que o mundo entre em recessão por causa da guerra comercial entre Estados Unidos e China tem levado os investidores globais buscarem ativos considerados mais seguros, como títulos do Tesouro americano e dólares. "Começamos o ano estimando que o câmbio encerraria o ano em 4,10 reais. Quando Donald Trump se encontrou com Xi Jinping, em março, revisamos para baixo, para 3,90 reais. Agora, voltamos para 4 reais, com o risco de revisar para cima", afirma Cassiana.

No banco Safra, a história não é muito diferente. Segundo o economista-chefe Carlos Kawall, no início do ano, as estimativas eram de 3,70 reais e agora estão em 4 reais.

Por sua vez, o BNP Paribas está mais otimista. Para o economista Gustavo Arruda, o câmbio encerrará 2019 em 3,80 reais e no ano que vem cairá para 3,50 reais.

Recessão global

O que propiciou a crise econômica dos anos 2000 foi o excesso de capital investido em empresas pontocom. "A recessão foi uma correção de preços", diz Fernandez. Em 2008, o boom imobiliário foi o responsável pela turbulência financeira mundial.

Mas, agora, por mais que tenha havido um crescimento exponencial de investimentos, o dinheiro não foi alocado em um único ativo ou setor.

É por isso que, para o JP Morgan, há 45% de chances de o mundo entrar em recessão nos próximos 12 meses. Por mais que o percentual seja alto, ainda não é o cenário base.

"No entanto, decisões de políticas monetárias dos Estados Unidos e da China, como resposta à guerra comercial, podem quebrar o equilíbrio mundial. Isso levaria a uma queda da confiança dos empresários e consequentemente a uma crise", diz a economista-chefe.

 

Acompanhe tudo sobre:Banco SafraBNP ParibasCâmbioInvestidoresJPMorgan

Mais de Mercados

Por que a China não deveria estimular a economia, segundo Gavekal

Petrobras ganha R$ 24,2 bilhões em valor de mercado e lidera alta na B3

Raízen conversa com Petrobras sobre JV de etanol, diz Reuters; ação sobe 6%

Petrobras anuncia volta ao setor de etanol