Mercados

Para GeoCapital, está cada vez mais difícil segurar ações das big techs

Gestora não acredita em bolha da tecnologia, mas vê melhores oportunidades fora do setor

André Kim: analista da GeoCapital (GeoCapital/Divulgação)

André Kim: analista da GeoCapital (GeoCapital/Divulgação)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 12h00.

Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 15h06.

A queda de mais de 10% registrada pelo índice Nasdaq em três pregões, depois de ter acumulado alta de 34% no ano, fez ressurgir as teses sobre a existência de bolha nas ações das principais companhias de tecnologia dos Estados Unidos. Nesses três dias, Apple, Microsoft, Alphabet e Amazon perderam, juntas, 781 bilhões de dólares de valor mercado – montante que supera a soma do valor de mercado de toda a bolsa brasileira.

André Kim, sócio e analista da gestora GeoCapital, que investe exclusivamente no mercado internacional desde 2013, vê a queda como uma “correção saudável”, mas afirma que, devido aos múltiplos elevados, está cada vez mais difícil segurar as ações do Faamg (grupo formado por Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet (Google)). “A gente prefere não entrar no jogo, ou melhor, quer sair do jogo”, afirma.

Para Kim, há muito mais oportunidades em ações fora do que dentro deste grupo. “Empresas que sofreram impactos da pandemia e geraram uma discrepância no valor. Então, a gente aproveitou para fazer compras e encher o carrinho.”

Em entrevista à Exame, Kim também fala de possíveis “irracionalidades” no mercado, mas acredita que não dá para falar em “bolha”.

Confira a entrevista.

As discussões sobre a possibilidade de bolha no mercado americano voltaram a ganhar força a partir do fim da semana passada, com a queda do índice Nasdaq. Essa bolha existe?

É difícil falar de bolha no mercado americano, porque isso significa coisas diferentes para diferentes pessoas. Tem gente que vê um múltiplo de 33x e acha que está caro, outro olha para a Amazon, que está com múltiplo acima de 100x desde 2010 e não considera bolha porque vê chance de um crescimento muito grande. As ações de tecnologia, de modo geral, passaram de caro para mais caro, mas classificar como bolha é mais difícil. Dentro do setor, a gente vê ações mais caras e outras com preço mais próximo do justo, tanto que temos ações da Alphabet. Dentro do setor, tem empresas com preço mais atrativo e o que está fora da racionalidade.

Há a percepção que os preços das ações de tecnologia estão esticados demais?

O índice [Nasdaq] pode estar indo para um lugar irracional, mas dentro dele tem ações dentro do preço para comprar. O índice tem mais empresas com relacionamento com tecnologia da informação, e-commerce. Tudo isso está dentro do guarda-chuva tecnologia. Mas tem diferenças muito grandes entre Alphabet e Amazon. Teve um movimento não só de correção, mas de euforia no mercado. As pessoas vendo o preço subindo e achando que pode subir mais, vira algo irracional. Tem empresas que foram de cara para mais cara. Mas não dá para falar, de modo geral, que tem uma bolha. Tem empresa barata ainda. No comparativo, o índice está caro, mas dentro ainda tem coisa barata.

As principais empresas de tecnologia, como Amazon, Facebook, Apple, Microsoft e Tesla ainda tem espaço para subir?

Tem empresas com preços atrativos como a Alphabet. A Tesla a gente não cobre, então não tem como dizer. Mas dentro das Faamg [Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Alphabet (Google)], ainda há empresas que valem entrar no portfólio. Mas está cada vez mais difícil de segurar, devido aos múltiplos. Por conservadorismo, a gente prefere não entrar nesse jogo, ou melhor, quer sair do jogo. Foram três dias de correção, mas acho tão saudável. Todo mundo acha que bolsa é escadinha, que sobe sem queda. Mas a correção é saudável para o mercado. Pode acontecer mais um pouco, não se sabe. Acabou dando um pânico porque ocorreu algo diferente dos últimos 30 dias.

Há mais boas oportunidades fora do que dentro das big techs?

A gente enxerga muito mais oportunidades fora dessas Faamg. Tem empresas que sofreram impactos da pandemia e geraram uma discrepância no valor [com relação ao que se espera] para os próximos cinco anos. Então, a gente aproveitou para fazer compras e encher o carrinho. [Vemos boas oportunidades em] empresas da indústria de forma geral, como a Coca-Cola. Tem empresas se reinventando nessa pandemia. A Disney, embora os parques e cinemas estejam fechados, fez um jeito novo de divulgar lançamentos pelos canais de streaming direto. Tem oportunidade a toda hora na bolsa, mesmo com o S&P 500 nas máximas históricas. O investidor tem que ir a fundo e não ouvir rumores, como comprar Tesla depois de subir 10% com o desdobramento de ações. Tem que buscar mais a base.

Acompanhe tudo sobre:AçõesBolhas econômicasFundos de investimentoMercado financeiroNasdaq

Mais de Mercados

Mercado intensifica aposta em alta de 50 pontos-base na próxima reunião do Copom

Ação da Agrogalaxy desaba 25% após pedido de RJ e vale menos de um real

Ibovespa fecha em queda, apesar de rali pós-Fed no exterior; Nasdaq sobe mais de 2%

Reação ao Fomc e Copom, decisão de juros na Inglaterra e arrecadação federal: o que move o mercado