Ambev: cervejaria é uma forte geradora de fluxo de caixa livre (Paulo Fridman/Bloomberg/Site Exame)
Depois da crise desencadeada pela descoberta de um rombo de R$ 20 bilhões na contabilidade da Americanas (AMER3) — a mais antiga empresa entre as investidas do trio 3G Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira —, uma pergunta pairou entre os agentes do mercado de capitais: a Ambev (ABEV3) pode ter inconsistências no balanço como as encontradas na varejista? Para as analistas do Credit Suisse, não.
A maior cervejaria do Brasil foi criada da fusão de Brahma e Antarctica por uma jogada bem desenhada pelo trio. Hoje, eles têm participação (algo em torno de 20%) na companhia por meio a AB InBev, a holding que é também a maior cervejaria em volume vendido no mundo todo. A 3G Capital não é acionista da AB InBev, mas os três fundadores originais são, com uma participação de 33,47%.
"Embora o caso da Americanas possa ser um problema para as ações, acreditamos que as preocupações são injustificadas", escrevem as analistas Marcella Recchia e Fernanda Sayão, que acompanham os negócios da cervejaria pela parte de análise do banco.
Existem três grandes pontos para a avalição das analistas. Em primeiro lugar, lembram elas, a Ambev não tem exposição a operações de financiamento de fornecedores. Além disso, ao contrário da Americanas, a cervejaria é uma forte geradora de fluxo de caixa livre (a projeção é de um yield de cerca de 6% de fluxo de caixa livre entre 2023 e 2024) com sólida dinâmica de capital de giro, impulsionando um ciclo de conversão de caixa negativo médio de 125 dias.
"Por fim, vale ressaltar também que a Ambev vem passando por uma transformação cultural significativa após as mudanças na gestão em 2020, saindo do chamado '3G-way' em direção a um ecossistema triplo saudável e sustentável (consumidor-cliente-fornecedor)", escrevem.
A maior parte da dívida bruta da Ambev, cerca de 90%, está relacionada à contabilidade de aluguel IFRS-16, enquanto os empréstimos bancários representam a parte restante. Em ordem de relevância, explicam Recchia e Sayão, a composição das despesas financeiras da Ambev é a seguinte: valor justo das contas a pagar de acordo com os padrões IFRS-13, provisões de opções de venda na República Dominicana, provisionamento de incentivos fiscais e arrendamentos, e juros sobre dívidas.
Uma das perguntas mais ouvidas é se os acionistas da 3G poderiam exigir dividendos extraordinários da Amvev via AB Inbev para financiar uma possível injeção de capital na Americanas. Para as analistas do Credit Suisse, esse cenário "é altamente improvável". Isso porque o trio 3G está vinculado a um acordo de acionistas (“stichting”) válido até 2034 e, portanto, sujeito a algumas restrições. "Consequentemente, o stichting restringe os acionistas a transferir suas participações fora dos cessionários ou afiliados permitidos."