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Papéis do BNDES do Brasil mostram investidor descrente

Um aumento de 3 vezes no volume de empréstimos do banco estatal ampliou a possibilidade de o Brasil ter seu rating reduzido, preocupando os investidores


	Luciano Coutinho, presidente do BNDES: os bancos estatais emprestaram a seis vezes o ritmo dos privados no primeiro semestre do ano
 (Sergio Moraes/Reuters)

Luciano Coutinho, presidente do BNDES: os bancos estatais emprestaram a seis vezes o ritmo dos privados no primeiro semestre do ano (Sergio Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de setembro de 2013 às 14h08.

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, está se comprometendo a reduzir o volume de empréstimos do banco depois que um aumento de 3 vezes durante seu mandato ampliou a possibilidade de o Brasil ter seu rating reduzido. Os investidores não parecem acreditar na promessa.

O BNDES pagou prêmio de 3 pontos percentuais acima dos treasuries para captar US$ 1,25 bilhão com títulos de 10 anos na semana passada. Foi a primeira captação em dólares do banco em quase 4 anos.

O rendimento foi 0,47 pontos percentuais maior do que investidores pedem por títulos corporativos de mercados emergentes em dólares e com rating BBB, segundo dados do índice Bloomberg Emerging Market Corporate Bond. A Petrobras captou US$ 3,5 bilhões em títulos de 10 anos em 13 de maio com spread de 2,6 pontos percentuais.

A economia em desaceleração e a restrição da oferta de crédito pelos bancos privados levaram os bancos públicos, como o BNDES e a Caixa Econômica Federal, a preencher a lacuna com recursos do Tesouro, impulsionando a dívida do País.

A ameaça de rebaixamento pela Standard&Poor´s levou o governo a alterar a rota e prometer contenção fiscal, mas o spread sobre a dívida do BNDES mostra que o investidor pode não estar convencido, disse Franklin Santarelli, diretor-gerente da Fitch Ratings.

“Estamos nos preparando para começar a redução, mas devemos fazer isso cuidadosamente”, disse Coutinho, em entrevista desde a sede da Bloomberg, em Nova York, em 18 de setembro. “Devemos criar incentivos para que o setor privado preencha a lacuna”.

Dívida bruta

Os bancos estatais emprestaram a seis vezes o ritmo dos privados no primeiro semestre do ano. Representaram mais de metade dos empréstimos pendentes em junho pela primeira vez em mais de uma década. A dívida bruta do Brasil, como percentagem da economia, foi 59,4 por cento em julho frente a 54,8 por cento dois anos atrás.


Os empréstimos outorgados passaram de R$ 51 bilhões em 2006 para R$ 156 bilhões (US$ 71 bilhões) em 2012 e podem alcançar até R$ 190 bilhões este ano, informou Coutinho. A Caixa espera que seu portfólio de empréstimos cresça entre 37 e 38 por cento neste ano e entre 29 e 31 por cento no próximo, disse Márcio Percival, vice-presidente financeiro da Caixa, em entrevista por telefone de Brasília.

“O governo brasileiro quer reduzir o volume de empréstimos” no BNDES e na Caixa, disse Santarelli por telefone de Nova York. “A questão é: como exatamente eles irão implementar isso?”

“Abaratados”

O BNDES se recusou a comentar, citando período de silêncio imposto pela captação. O Ministério da Fazenda não tinha comentários em resposta às questões sobre a oferta do banco, seu spread e possíveis atrasos na redução dos empréstimos públicos em favor de crédito privado.

Edwin Gutiérrez, gerente de fundos na Aberdeen Asset Management Plc, comprou os títulos a dez anos do BNDES, considerados por ele como baratos.

Os bônus do BNDES eram “atrativos para um banco de desenvolvimento que continua sendo muito importante estrategicamente”, opinou por e-mail Gutiérrez, que supervisiona US$ 10 bilhões. “Os títulos do BNDES ficam muito baratos frente à dívida soberana nos últimos meses”.

Um dos três “problemas claros e imediatos” do Brasil é o crescimento das operações financeiras realizadas mediante o BNDES e a Caixa, que bloqueia a redução no custo financeiro líquido da dívida pública, disse Nelson Barbosa, vice-ministro da fazenda até junho.

“O BNDES não é grande porque deseja sê-lo; é grande porque a economia brasileira precisa de um maior financiamento no longo prazo”, declarou Coutinho na entrevista. “Somos a principal fonte até o momento, mas deveríamos criar outras”.

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