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Ouro 'parecido' com apartamentos em Manhattan? Goldman Sachs explica fenômeno

Preço do ouro é determinado por mudanças de propriedade, não pela dinâmica tradicional de oferta e demanda

Mateus Omena
Mateus Omena

Repórter

Publicado em 19 de agosto de 2025 às 18h27.

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O ouro pode ser considerado uma commodity, mas seu comportamento de preço se assemelha mais ao mercado de imóveis de luxo de Manhattan, em Nova York, do que a bens como o petróleo, afirmaram analistas do banco Goldman Sachs em um relatório divulgado nesta semana.

Esse fenômeno acontece porque, ao contrário de recursos como petróleo e gás, o ouro não é consumido, mas sim armazenado. Nos últimos meses, compradores têm adquirido o metal precioso, fazendo com que seus preços atingissem novos recordes.

A maior parte do ouro já extraído — cerca de 220.000 toneladas métricas — permanece em circulação, sendo armazenado em cofres, reservas de bancos centrais ou em joias. A produção anual adiciona apenas cerca de 1% ao estoque total, sendo limitada por desafios operacionais e técnicos, de acordo com o site Business Insider.

"Você não pode extrair ouro — mas pode transferi-lo de uma pessoa para outra. O ouro não é utilizado, apenas muda de mãos e tem seu valor ajustado", explicaram os analistas do Goldman Sachs. "O preço do ouro reflete quem está mais disposto a mantê-lo e quem está pronto a se desfazer dele".

Essa dinâmica faz com que o mercado de ouro seja bem distinto de outras commodities, nas quais a tradicional relação de oferta e demanda é mais aplicável, e os preços elevados podem reduzir a procura.

"O mercado do ouro se ajusta por meio da troca de propriedade, não por uma correspondência entre produção e uso", disseram os analistas.

Relação ouro e mercado imobiliário de Manhattan

O Goldman Sachs destaca dois tipos de compradores: os "compradores convictos", como bancos centrais, fundos de índice (ETFs) e especuladores, que compram o metal independentemente do preço, e os "compradores oportunistas" — famílias de países emergentes, como Índia e China — que compram apenas quando o preço está mais acessível. O primeiro grupo garante um piso para os preços durante períodos de liquidação, mas são os compradores convictos que definem a tendência do mercado.

É aqui que entra a comparação com o mercado imobiliário de Manhattan.

"O número total de apartamentos é basicamente fixo, e a quantidade de novos imóveis a cada ano não é o que impulsiona os preços. O que realmente importa é quem está comprando", disseram os analistas.

Em Manhattan, também há dois tipos de compradores: os compradores convictos — com recursos para viver lá a qualquer preço — e os compradores oportunistas — que compram apenas quando o preço é conveniente, e, caso contrário, preferem morar em locais como Nova Jersey ou Brooklyn, explicaram.

Em ambos os mercados, os preços variam não pela oferta, mas pela vontade de quem quer comprar.

A análise do Goldman Sachs conclui que os fluxos dos compradores convictos explicam cerca de 70% das variações mensais nos preços do ouro. Como uma regra geral, a compra líquida de 100 toneladas por parte desses compradores eleva o preço do metal em 1,7%.

O estudo do banco ocorre em um ano de grande volatilidade para o ouro. Os preços chegaram a ultrapassar US$ 3.500 por onça em abril, após Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, anunciar novas tarifas para parceiros comerciais e também devido a preocupações sobre a independência do Federal Reserve (Fed).

Atualmente, o preço do ouro está em torno de US$ 3.330 por onça, o que representa uma alta de  27% no ano.

O Goldman Sachs prevê que os preços do ouro à vista alcancem US$ 3.700 por onça até o final de 2025 e US$ 4.000 por onça em meados de 2026.

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