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Ouro como proteção e dividendos: a receita da Aura para o investidor

Única mineradora de ouro listada na B3 quer atrair o investidor por meio do pagamento de dividendos altos e o apelo de servir como hedge na carteira de ativos

Aura: a companhia visa dobrar de tamanho nos próximos quatro anos (Edgar Su/Reuters)

Aura: a companhia visa dobrar de tamanho nos próximos quatro anos (Edgar Su/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 11 de maio de 2021 às 06h19.

A Aura (AURA33), única mineradora de ouro listada na bolsa brasileira, quer atrair o pequeno investidor. Para isso, a empresa está focada no pagamento de dividendos e em se mostrar um meio para quem quer ganhar com a valorização do ouro.

A empresa canadense fez sua estreia na B3, em julho do ano passado, com o início de negociação de BDRs (os recibos de ações listadas no exterior). Inicialmente, a oferta seguiu o modelo de esforço restrito, estabelecido pela Instrução Normativa CVM nº 476, ou seja, para investidores qualificados.

Quatro meses depois, em novembro de 2020, a companhia fez um follow-on voltado ao varejo. Os papéis foram precificados a 48,50 reais e movimentaram 87,3 milhões de reais.

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“Nosso objetivo sempre foi trazer as ações para o varejo. Eram os investidores que não tinham acesso a este tipo de produto. Um produto que trouxesse proteção, focado para momentos de incertezas. O ouro vai bem quando o mundo vai mal, seja no ponto de vista geopolítico ou macroeconômico”, afirmou Rodrigo Barbosa, presidente da Aura, em entrevista à EXAME Invest.

Barbosa não se mostra tão otimista em relação à recuperação econômica mundial. O executivo ressalta que o pânico relacionado à pandemia de coronavírus está passando com o andamento da vacinação. Entretanto ele alerta que o excesso de liquidez no mercado, reflexo das medidas adotadas pelos governos para incentivar a recuperação, como os 5 trilhões de dólares injetados pelos Estados Unidos em 12 meses, pode trazer problemas futuros.

“Hoje, com a taxa de juros atual não há problema. Se o Fed apertar a política monetária e o juro subir, o cenário muda. Além disso, o governo Biden é expansionista. Ele aumentará o déficit público em cima da maior dívida da história dos Estados Unidos. O foco atual para o controle da inflação é a criação de empregos, e não os juros.”

Ele acrescenta que, se a política adotada fracassar, causará grandes pressões inflacionárias, levando à desvalorização do dólar. “Nestes momentos, há uma grande busca por ativos reais, como real estate [imóveis] e ouro.”

A Aura também pretende atrair o pequeno investidor por meio do pagamento de dividendos. A companhia já pagou 60 milhões de dólares em dividendos aos acionistas, o que representa um dividend yield (valor do dividendo sobre o preço da ação) de 8,3%, um nível apontado como elevado por analistas. A política de pagamento de dividendos está no estatuto da companhia e prevê o pagamento de 20% do Ebitda recorrente menos o Capex.

Dobrar de tamanho 

Os planos da Aura são ambiciosos. Segundo Barbosa, a companhia visa dobrar de tamanho nos próximos quatro anos. “Temos um projeto de crescimento consistente. Podemos dobrar de tamanho nos próximos três a quatro anos, partindo de uma alavancagem baixa”, diz Barbosa. Em 2020, a companhia produziu 205 mil onças e projeta alcançar 400 mil até 2024.

Atualmente, a empresa tem quatro minas em produção, em Aranzazu (México), Mina de San Andres (Honduras), Ernesto Pau-a-Pique (Brasil) e Mina Gold Road (Estados Unidos) e mais quatro em projetos de crescimento: em Almas (Tocantins), Matupá (Mato Grosso), Tolda Fria (Colômbia) e São Francisco (Mato Grosso).

“Começamos a investir nos últimos dois anos e vemos boas possibilidades de expandir as produções neles. No Brasil, por exemplo, projetamos fazer perto de 100 mil onças. De 65 mil para 100 mil onças. Em Aranzazu, já aumentamos a 30% da capacidade e há um projeto em estudo de aumentar mais 70% nos próximos quatro anos. Isso são expansões das operações.”

Neste ano, a companhia dará início ao projeto Almas, no estado do Tocantins. O projeto consiste em três áreas separadas de mineração a céu aberto e uma central de processamento. No estudo feito pela Aura, o projeto vai gerar 40% de taxa de retorno desalavancada em dólar nos próximos 15 anos.

“Ao desalavancar, isso dá cerca de 100% de taxa de retorno em dólares por mais de 15 anos.” A expectativa é que a operação tenha início no segundo semestre de 2021 e produza 55 mil onças.

Reestruturação

Nos últimos quatro anos, a Aura passou por uma reestruturação de gestão. Rodrigo Barbosa chegou à companhia em 2017 com essa missão. Um ano antes de sua chegada, a empresa atingiu o menor valor de mercado da sua história, cerca de 30 milhões de dólares.

O patamar foi atingido devido uma somatória de fatores, como reflexos ainda da crise financeira de 2008, dificuldades para acessar capital, projetos que não tiveram sucesso e queda dos preços das commodities, entre outros.

“As ações sofreram bastante na Bolsa de Toronto. Eu fui convidado para fazer um novo turnaround. Já tinha feito um na Santista. Cheguei para reduzir a dívida e o tamanho da empresa. Para que ela pudesse crescer.”

Na primeira reunião do conselho com Barbosa, foram debatidos três pilares: bons projetos, balanço saudável e cultura de gestão moderna. “Nos últimos anos, nos dedicamos à lição de casa. Comentei com o conselho que neste tempo não iríamos nos expor ao mercado. Primeiro precisamos reconstruir a nossa história.”

Atualmente, o valor de mercado estimado da Aura é de 866 milhões de dólares. Na B3, os BDRs da mineradora acumulam valorização de 14,25% desde janeiro.

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