Ouro: demanda costuma subir em períodos de crises mundiais (Classen Rafael / EyeEm/Getty Images)
Guilherme Guilherme
Publicado em 5 de maio de 2020 às 08h26.
Última atualização em 5 de maio de 2020 às 13h25.
Se um meteoro caísse na Terra, é possível que ações, imóveis e até mesmo o dinheiro da forma como conhecemos hoje não tivessem mais valor. Mas, provavelmente, um objeto teria: a barra de ouro.
Considerado um metal precioso há milênios, o ouro ainda é visto como um porto-seguro, principalmente em tempos de instabilidade econômica. Somente no mês passado, quando a humanidade enfrentou um dos momentos mais críticos da pandemia de coronavírus, a commodity saltou 6,41%. Mas como é negociado em dólar, em real, sua alta foi ainda maior, de 11,94%. No ano, o ouro acumula valorização de 12,75% em dólar e de 45,8% em reais.
“A procura por ouro aumenta, normalmente, quando tem alguma crise mundial ou uma guerra comercial entre duas grandes potências, como foi no ano passado”, disse Mauriciano Cavalcante, gerente de câmbio da Ourominas. Desde o início de 2019, o ouro já subiu 34% em dólares e 86,7% em reais.
É nessa onda que surfam os fundos de investimento atrelados ao ouro, que, com altas de mais de 40%, disparam entre os mais rentáveis do ano. O Órama Ouro, que existe desde 2008, já supera sua maior alta anual da história, com retorno acumulado, em 2020, de 44% até o fim do mês de abril.
Apesar do recente desempenho positivo, o ativo é mais recomendado para a proteção de posições mais agressivas do que para o ganho no longo prazo. “O ouro não gera renda. Quando a situação se normalizar, os fundos de ouro vão ter, provavelmente, uma rentabilidade negativa”, disse Hugo Daniel de Azevedo, superintendente comercial do B2C da Órama. Para Azevedo, a alocação do ativo na carteira deve variar de acordo com o perfil de cada investidor, sendo que nem todos devem comprar ouro. "Eu não recomendaria o Órama Ouro para 100% dos nossos clientes, só para aqueles com carteiras mais balanceadas."
Criado em setembro do ano passado, o patrimônio do Vitreo Ouro, o fundo atrelado a ouro da gestora Vitreo, cresceu 651% entre janeiro e abril deste ano, evidenciando a a alta demanda “Criamos o fundo atrelado ao ouro para dar proteção ao pequeno investidor”, disse George Wachsmann (Jojo), sócio-fundador da Vitreo. Para além da busca por segurança, Jojo, também vê o ouro se beneficiar da queda das taxas de juros no mundo. “Em momentos de excesso de liquidez, os mercados vão atrás de ativos reais. Terras sobem de preço, ações dobrem de preço e o ouro também anda por esse caminho”, disse.
Os fundos surgiram como uma alternativa à bolsa de valores, onde é possível comprar ouro no mercado fracionário, a partir de 0,250 grama, ou no lote padrão, com 250 gramas, que garante a retirada do ouro em espécie (embora a prática não seja comum) e, hoje, gira em torno dos 75 mil reais. O negócio, embora tenha baixa liquidez, pode ser feito por meio dos home brokers das corretoras.
Além da bolsa de valores e dos fundos de investimentos atrelados à commodity, que aceitam aportes de 1.000 reais ou mais, outra forma de comprar e vender a ouro é por meio do mercado de balcão, que negocia o metal fisicamente. Neste caso, o negócio costuma ser fechado em lojas de corretoras licenciadas pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários. “Ele compra o ouro e leva para casa”, comentou Mauriciano Cavalcante.
Na modalidade é possível fazer a compra e a venda de a partir de 1 grama de ouro, equivalente a cerca de 300 reais. Apesar dos riscos inerentes ao transporte do metal, a liquidez é imediata.