Bolsas: o pacote de estímulo dos EUA continuará sendo fundamental para o apetite por risco (Brendan McDermid/Reuters Brazil)
Karla Mamona
Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 11h57.
Observadores de mercados emergentes podem estar confiantes de que o rali continuará em 2021, mas os programas de vacinação são o fator de maior preocupação. Segundo pesquisa da Bloomberg com 63 investidores, estrategistas e operadores, a eficácia das vacinas contra o coronavírus será o principal fator que guiará o mercado no próximo ano, superando preocupações sobre o descontrole fiscal dos governos e a trajetória de crescimento econômico da China.
O país asiático ainda emerge como favorito entre moedas e ações, enquanto investidores se mostram mais otimistas em relação aos títulos da América Latina, segundo pesquisa realizada entre 18 e 25 de novembro. A Argentina ainda é fonte de inquietação.
As conclusões destacam como a batalha contra o patógeno da Covid-19 virou os mercados de cabeça para baixo nos últimos 12 meses, obrigando investidores a jogar o manual fora e procurar novas pistas para o rumo dos preços dos ativos.
Depois do colapso no primeiro semestre, os mercados emergentes se recuperaram e entregaram aos investidores mais de US$ 5 trilhões neste ano, em grande parte porque os avanços das vacinas apoiaram ativos de risco. Títulos subiram para perto de níveis recordes, enquanto índices de ações e moedas estão nos maiores patamares em mais de dois anos.
“À medida que as economias reabrem, as vacinas são distribuídas e o apetite por risco retorna, 2021 pode ser um ano de avanço para mercados emergentes, especialmente se o dólar dos EUA continuar a se enfraquecer”, disse Christopher White, cogestor da Somerset Capital Management, em Londres. “Um déficit fiscal sem precedentes dos EUA em tempo de paz, combinado com estímulo monetário agressivo, está pressionando o dólar, o que ajuda muito muitas economias emergentes.”
A Ásia manteve a posição de liderança em moedas e ações já que a região lidera a recuperação da pandemia, segundo a pesquisa. A América Latina, com rendimentos relativamente mais altos, eclipsou outras regiões ao oferecer as melhores perspectivas para títulos.
O cenário para a economia da China permanece como um dos três principais prováveis determinantes para os preços em 2021. Os gastos com estímulos e o impacto sobre a saúde fiscal dos governos ocuparam o terceiro lugar, em meio às preocupações sobre a margem dos bancos centrais para reduzir os juros.
O pacote de estímulo dos EUA continuará sendo fundamental para o apetite por risco. A maioria dos entrevistados estima que os EUA aprovarão um pacote entre US$ 1 trilhão e US$ 2 trilhões para reativar a maior economia do mundo. Crucial para conseguir um pacote maior do que US$ 916 bilhões em discussão será o resultado das eleições de segundo turno na Geórgia para os dois assentos do Senado, em 5 de janeiro.
Com o estoque global de títulos de dívida com rendimento negativo perto de US$ 18 trilhões, a busca por retornos mais elevados continuará a favorecer mercados emergentes em relação aos pares desenvolvidos. O valor total de ações e títulos de países em desenvolvimento agora ultrapassa US$ 33 trilhões, mais do que as economias dos EUA, Alemanha e Japão combinadas.
Esse total estava em US$ 28 trilhões no início do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg com base no valor de mercado de ações de 27 países listados pela MSCI, juntamente com os índices Bloomberg Barclays de títulos em moeda local e estrangeira.
Moedas e títulos de maior rendimento, como os do México, Brasil e Índia, ficaram entre os favoritos na pesquisa, uma mudança em relação ao levantamento anterior, quando países de baixo rendimento, incluindo Coreia do Sul, Tailândia e Polônia, eram preferidos. O rali de títulos em dólar com grau especulativo continua neste mês: o rendimento médio caiu para o nível mais baixo desde fevereiro de 2018, de acordo com um índice Bloomberg Barclays.