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Operadores apostam que Tombini vai acelerar corte do juro básico

Com apostas, a redução do juro básico é parte de um esforço de autoridades monetárias em todo o mundo para proteger suas economias do desaquecimento global

Os operadores de renda fixa acreditam que o BC vai cortar mais a Selic (Divulgação/Banco Central)

Os operadores de renda fixa acreditam que o BC vai cortar mais a Selic (Divulgação/Banco Central)

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Da Redação

Publicado em 11 de novembro de 2011 às 08h44.

Brasília/São Paulo - Operadores do mercado de renda fixa estão apostando que o Banco Central tem espaço para aumentar o ritmo de cortes de juros com o desaquecimento da economia doméstica e a ampliação da crise de dívida da Europa.

Os negócios no mercado de juros futuros indicam que o Comitê de Política Monetária, comandado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, pode cortar a Selic em 0,75 ponto percentual na próxima reunião, depois de ter feito dois cortes de 0,5 ponto em cada um dos dois últimos encontros. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2013, o mais negociado, despencou 39 pontos-base nos últimos nove dias de negócios para 10 por cento ontem, o menor nível em quatro anos.

A redução do juro básico é parte de um esforço de autoridades monetárias em todo o mundo para proteger suas economias do desaquecimento global. A Indonésia fez ontem um corte surpresa da taxa local, seguindo reduções também em Israel e na região do euro. O governo da presidente Dilma Rousseff está preocupado com o risco de uma recessão e já discute a possibilidade de reverter medidas de restrição ao crédito para estimular o crescimento, disse um integrante do governo em 9 de novembro.

“A desaceleração da economia brasileira está sendo mais forte do que se imaginava e isso dá margem para alguns acharem que o BC pode ser mais agressivo”, disse Marcelo Salomon, economista-chefe para o Brasil no Barclays Plc, em entrevista por telefone de Nova York.

O rendimento das Notas do Tesouro Nacional série F com vencimento em 2021 recuou 36 pontos-base para 11,30 por cento desde que Tombini surpreendeu o mercado com um corte de juros em 31 de agosto, segundo dados compilados pela Bloomberg. Antes disso, o Copom havia subido os juros cinco vezes num período de sete meses para baixar a inflação anual, que em setembro chegou a 7,3 por cento, o maior nível em seis anos.

Recuo da inflação

A inflação acumulada nos 12 meses até outubro ficou em 7 por cento, a primeira desaceleração em 14 meses, disse ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em nota por e- mail.

A diferença entre a taxa dos títulos atrelados à inflação com prazo de cinco anos e dos contratos de DI -- a chamada inflação implícita, que mede as expectativas dos investidores para o avanço anual de preços até 2013 -- caiu para 5,74 pontos percentuais, após atingir o maior patamar em três anos de 6,5 pontos percentuais em 21 de setembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.


O BC afirmou em 19 de outubro que cortes de juros “moderados” iriam mitigar o impacto da desaceleração do crescimento global sem colocar em risco o objetivo de trazer a inflação para a meta de 4,5 por cento no ano que vem.

Em comunicado enviado ontem por e-mail, o BC se recusou a fazer comentários para esta reportagem.

‘Reagido corretamente’

A produção industrial se retraiu 2 por cento em setembro, um desempenho pior do que o previsto por todos 38 economistas sondados num levantamento da Bloomberg. Foi a segunda maior baixa desde o tombo que seguiu o colapso do Lehman Brothers Holdings Inc. em 2008. O salário real médio caiu 1,8 por cento em setembro em relação ao mês anterior para R$ 1.607,60.

“A visão de que o Banco Central pode ter reagido corretamente ao cortar os juros ganha força com a piora da crise”, disse Salomon. Ele prevê outro corte de 50 pontos-base na Selic este mês para 11 por cento.

O rendimento dos títulos do governo italiano subiu para um nível recorde esta semana e o primeiro-ministro Silvio Berlusconi ofereceu sua renúncia, alimentando preocupações de que o agravamento da crise de dívida na Europa vai piorar a desaceleração global.

Ronaldo Patah, que administra US$ 72 bilhões como chefe de renda fixa na Itaú Asset Management em São Paulo, acha que o BC não vai atingir a meta de inflação e que o IPCA vai terminar 2012 em 5,7 por cento. Ele diz que está comprando títulos atrelados à inflação, as Notas do Tesouro Nacional da série B, e aposta que a taxa implícita de inflação vai reverter a tendência de recuo que dura dois meses.

‘Muito importante’

“O crescimento do Produto Interno Bruto é muito importante para o governo”, disse Patah em entrevista por telefone. “Por causa desse tipo de objetivo, isso coloca um piso para a inflação. É difícil ver a inflação abaixo de 5 por cento.”

De acordo com os contratos de DI, os operadores esperam que o Copom precise aumentar a Selic em 25 pontos-base no segundo semestre de 2012, depois de reduzir a taxa para 9,75 por cento até julho do ano que vem.

O PIB vai se retrair 0,3 por cento no terceiro trimestre e crescer 0,2 por cento no quarto, disse Marcelo Carvalho, chefe de pesquisa econômica para a América Latina no BNP Paribas SA.

“À luz dos dados recentes, não seria surpreendente ouvir cada vez mais o debate sobre essa questão se o Brasil está ou não em recessão técnica”, disse Carvalho em entrevista por telefone de São Paulo.

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