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Oi prometeu ligações grátis por 31 anos — mas faliu antes disso

EXAME ouviu ex-clientes da operadora que usaram o famoso chip 'Oi 31 anos' e possibilitava ligações gratuitas de 'de Oi para Oi' aos finais de semana

 (Oi/Divulgação)

(Oi/Divulgação)

Publicado em 12 de novembro de 2025 às 06h00.

Em 2002, a Oi estreava no mercado com uma promessa ousada: ligações grátis por 31 anos entre seus clientes, todo fim de semana. O plano ajudou a popularizar a telefonia móvel no país, mas acabou durando menos que o esperado. Vinte e três anos depois — e 8 antes do prazo acabar — a operadora que prometeu falar de graça até 2033 faliu.

A conversão do processo de recuperação judicial da Oi em falência parece ser o desfecho de uma longa tentativa de reestruturação financeira que se arrastava desde 2016, quando a companhia protagonizou a maior recuperação judicial da história do Brasil. À época, tinham dívidas que chegaram a ultrapassar R$ 65 bilhões.

Mesmo o icônico plano de ligações grátis, que marcou a chegada da operadora ao mercado e virou símbolo de uma era, já não estava sob responsabilidade da Oi desde 2022. Naquele ano, a companhia concluiu a venda de sua operação móvel, incluindo a base de clientes de telefonia celular, para Claro, TIM e Vivo, por cerca de R$ 16,5 bilhões.

Desde então, a Oi passou a atuar apenas com serviços de fibra óptica e infraestrutura, enquanto tentava reorganizar seu pesado passivo.

Nas redes sociais, o famoso "Chip Oi 31 anos" foi relembrado com a falência da companhia. E virou meme.

A ideia de chamadas locais gratuitas entre clientes da operadora aos sábados e domingos parecia boa demais para ser verdade, em um tempo em que as ligações não eram nada baratas e o celular, um artigo que nem todo mundo podia ter. Mas funcionou por um tempo. A promoção virou febre e consolidou a entrada da empresa na disputa entre as operadoras de telefonia móvel.

"É uma pena que a empresa faliu agora. Foi uma bela estratégia de marketing, de conectar o número deles junto com essa promoção. Conseguiu realmente vender", afirma a neurocirugiã Diana Santana.

Ela se tornou uma das 40 milhões de cliente da companhia logo no início da promoção, quando ganhou de seus pais um celular com o chip da Oi, o que influenciou inclusive seus colegas na faculdade de medicina.

"Todos os meus amigos próximos da faculdade optaram por ter esse chip para conversarmos no final de semana. E eu lembro que era demais, só de você não ter que pagar para poder falar... porque antigamente a gente pagava por minuto".

Em uma época sem redes sociais, a médica conta que as ligações eram o ponto de encontro. "Não tinha essa coisa de WhatsApp, nem smartphone, o telefone que tínhamos era aquele Nokia 3310, retangularzinho. Não tínhamos o hábito de usar SMS, nem ter outras formas de conversa. A gente conversava mesmo ligando e falando por horas".

"Aos finais de semana, eu não tinha paz. Todos os meus amigos usavam o celular para ligar de graça", lembra o empresário Jadeilson Feitosa, que contratou o plano logo no início da promoção. "O meu era 8801. Foi um dos primeiros".

A jornalista Tess Chamusca não só se recorda desse período, como ainda mantém o mesmo número do seu antigo chip da Oi. "Era ótimo. Durante a semana a gente trocava SMS, e no fim de semana, quando era de graça, ligava pra todo mundo", afirma.

O número sobreviveu à migração compulsória da base de clientes quando a empresa vendeu sua operação móvel. No seu caso, a linha foi transferida para a Claro, mas o plano de ligação gratuita de Oi para Oi foi descontinuado. "Minha mãe usa até hoje. É pré-pago, ela coloca um pouquinho de crédito só pra usar internet".

Antes mesmo da venda da Oi Móvel, a empresa que já foi a maior operadora de telefonia da América Latinaviu de perto o surgimento de pacotes mais baratos e com internet.

Feitosa, por exemplo, acabou abrindo mão do plano sem que a Oi tentasse segurá-lo. "Pelo contrário. A operadora vivia me ligando para oferecer outras opções de plano, mas se eu aderisse, perderia o benefício".

Na venda da Oi Móvel, em 2022, nenhuma das novas operadoras assumiu oficialmente o compromisso de manter a oferta. A Oi chegou a afirmar que o plano "permaneceria ativo enquanto houvesse vínculo contratual com o cliente". O Procon alertou que as compradoras deveriam respeitar as condições.

Mas, na prática, a promoção desapareceu à medida que as linhas migraram, e o que ficou foi a lembrança de longas conversas de fim de semana no início dos anos 2000.

Da potência à falência

Criada em 1998, após a privatização da Telebrás, a Telemar passou a operar sob o nome Oi em 2002, crescendo com força e apostando em aquisições. Em 2010, comprou a BrT e ampliou sua cobertura para todo o país.

O auge, porém, durou pouco. A companhia acumulou dívidas bilionárias após investimentos de retorno duvidoso e decisões estratégicas equivocadas. Entrou em recuperação judicial em 2016, com R$ 65 bilhões em dívidas, no maior processo da história do país.

Mesmo após vender ativos, como a rede móvel, a operação de TV por assinatura e parte da infraestrutura de fibra óptica, a empresa não se reergueu. No segundo trimestre de 2025, ainda devia R$ 31 bilhões.

A decisão da Justiça converte agora o processo de recuperação em falência, com a administração assumida por um interventor judicial.

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