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Oferta na casa dos R$ 10 bi e aposta no caixa próprio: os detalhes de Unipar e Braskem

Sucesso da proposta também depende, entre outras coisas, da definição sobre os acordos e indenizações do evento geológico em Alagoas

Proposta da Unipar gira em torno de R$ 35,1 por ação, prêmio de 37% sobre o último fechamento (Paulo Fridman/Corbis/Getty Images)

Proposta da Unipar gira em torno de R$ 35,1 por ação, prêmio de 37% sobre o último fechamento (Paulo Fridman/Corbis/Getty Images)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 11 de junho de 2023 às 17h42.

Última atualização em 11 de junho de 2023 às 19h28.

Em aproximação com bancos, Petrobras e Novanor há cerca de um ano e meio, a Unipar tornou pública no fim da noite de sábado sua proposta para comprar o controle da petroquímica Braskem. O fato relevante não revelava o valor exato proposto pelos 38,3% da Novanor na Braskem (50,1% do capital votante), mas a oferta da Unipar supera em 30% o valor oferecido pela Apollo e a Adnoc em maio, apurou a Exame Invest, girando em torno de R$ 10 bilhões. A proposta tem validade de 30 dias e seu sucesso depende, entre outras coisas, da definição sobre os acordos e indenizações do evento geológico em Alagoas. 

"Foi fechado acordo só com a esfera municipal e não teve nada com a esfera estadual. Ninguém vai entrar nesse negócio para pagar a conta do que foi feito no passado. Isso é uma responsabilidade dos acionistas atuais da Braskem. Ninguém vai assumir esse risco", diz uma pessoa familiarizada com a negociação. O interesse da Unipar é que seja contratada uma auditoria externa à Braskem para apuração e levantamento de todos os valores a serem indenizados, apurou a EXAME Invest. O entendimento é de que o valor provisionado terá de ser revisado para cima. Até março, o saldo em provisão era de R$ 6,08 bilhões. Em abril a Justiça bloqueou R$ 1 bilhão das contas da Braskem a pedido do Governo do Estado.

Oferta de R$ 10 bilhões

Apollo e Adnoc propuseram R$ 47 por ação detida pela Novanor no começo de maio. Pela proposta, porém, o pagamento envolveria títulos com correção de juros a 4% ao ano, o que, trazendo a valor presente, colocaria o preço proposto por ação a R$ 27. Por isso, considerando o prêmio de 30%, explicam pessoas próximas à negociação, a proposta da Unipar giraria em torno de R$ 10 bilhões, ou algo em torno de R$ 35,1 por ação - na última sexta-feira, o papel da Braskem fechou o pregão a R$ 25,61. Essa cifra proposta, porém, pode variar. Isso porque os R$ 10 bilhões seriam pelas ações, mas o valor final depende de descontos que podem ser ofertados pelos bancos credores na renegociação da dívida da Novanor, hoje na casa de R$ 15 bilhões.

A operação prevê o pagamento parcial dos bancos credores e uma renegociação para o saldo da dívida remanescente. Hoje, cinco bancos detém as ações de controle da Braskem como garantia: Santander, Banco do Brasil, BNDES, Bradesco e Itaú Unibanco. "O ativo [ações da Braskem detidas pela Novanor], que é garantia da dívida, não vale os R$ 15 bilhões. O melhor preço oferecido pelo ativo foi de R$ 10 bilhões. Os R$ 5 bilhões é que estão no 'haircut' e os bancos e a Novanor vão ter que negociar", explica uma pessoa com conhecimento dos termos da proposta. O fato relevante, porém, afirma que há também a possibilidade de a Novonor continuar com uma participação minoritária indireta na Braskem.

Amanhã a Unipar já se reúne com alguns dos bancos que têm financiado seus negócios para reforçar sua estrutura para a proposta. A estrutura da proposta já teria agradado os bancos credores da Braskem, muitos deles que mantêm linhas de financiamento com a Unipar. O objetivo da companhia é não depender de uma sociedade para seguir adiante com a aquisição do controle da Braskem.

A aposta da Unipar para que a proposta avance está no seu caixa. Maior produtora de cloro e soda e a segunda maior de PVC da América do Sul, a Unipar registrou Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de R$ 2,6 bilhões em 2022 e terminou o ano com uma posição de caixa de R$ 1,41 bilhão e sem dívida líquida. Com a aquisição, a alavancagem mudaria, é claro, de patamar. "A capacidade da Unipar de gerar receita é muito maior do que de outros que se interessaram pelo negócio", diz um outro executivo do setor. A empresa faturou R$ 7,3 bilhões em 2022, uma montante 13 vezes menor do que a receita da Braskem, de R$ 96,5 bilhões. O Ebitda da Braskem, no entanto, ficou em R$ 10,6 bilhões, considerando apenas efeitos recorrentes, com uma alavancagem de 2,42x.

Pela proposta, a Unipar fará uma oferta pública de aquisição de ações (OPA) para acionistas minoritários da Braskem detentores de ações ordinárias e das ações preferenciais classe A e classe B, bem como uma oferta para a aquisição de até a totalidade das ações preferenciais classe A representadas por ADRs e listadas na New York Stock Exchange (NYSE). Ambas as ofertas seguirão as mesmas condições fechadas com a Novonor. 

Petrobras permanece?

A Unipar também vai negociar a participação da Petrobras na operação, em um segundo momento, “buscando um formato satisfatório para todas as partes envolvidas”, de acordo com o fato relevante. A estatal detém 36,1% da Braskem. "A proposta da Unipar era de compôr com todas as partes, inclusive a Petrobras", diz uma pessoa próxima às negociações. O entendimento é de que a Petrobras não tem mais interesse em vender sua fatia, apurou a EXAME Invest. 

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