BRF: ajustes na cadeia de produção em busca de eficiência (Leandro Fonseca/Exame)
Graziella Valenti
Publicado em 5 de maio de 2022 às 12h22.
Última atualização em 5 de maio de 2022 às 15h06.
A temporada de balanço está desafiadora para Marfrig e BRF. Depois das preocupações com ciclo do gado nos Estados Unidos, a decepção com o primeiro trimestre difícil da dona das marcas Sadia e Perdigão está refletida no preço das ações logo no começo do dia — de ambas as companhias.
BRF chegou a cair 12% (agora a perda refreou para 7%) e as ações romperam os R$ 12,00. É a mínima histórica desde a fusão, equivalente a uma avaliação de R$ 13 bilhões da empresa. Para se ter uma ideia do que isso significa, quando a união entre Sadia e Perdigão foi anunciada — em 2009 — as duas empresas juntas valiam R$ 19 bilhões. A comparação não pode esquecer que o valor atual tem R$ 5,4 bilhões a mais, captados em janeiro.
Para Marfrig, que vai passar a consolidar o balanço da BRF a partir do próximo trimestre, o tombo de ontem com seu próprio balanço não foi suficiente para o ajuste de preço. É o que diz o comportamento de hoje na bolsa. Depois de cair cerca de 7% ontem, hoje as ações mostravam queda de mais 5%.
O mercado ficou muito satisfeito com a chegada da Marfrig para assumir os negócios. Mas esse começo será um grande teste. Todo mundo quer saber se BRF tem solução — força de marca ela tem, mas os desafios de gestão não são pequenos. Oficialmente, esse primeiro trimestre não tem gestão Marfrig, pois o novo conselho de administração, com Marcos Molina, assumiu em abril. É justamente por isso, inclusive, que Marfrig consolidará a empresa somente a partir do segundo trimestre.
A mensagem do balanço do primeiro trimestre da BRF é que a situação está para lá de desafiadora para o setor de proteína no Brasil, mas houve agilidade da companhia em fazer ajustes. Houve corrida na estratégia de hedge para commodities e também para ajustes na cadeia, em busca de maior eficiência operacional e de processos.
Os ajustes geraram efeito negativo no trimestre que não estavam na conta de ninguém. Resultado surpresa: um prejuízo de R$ 1,5 bilhão no primeiro trimestre.
Apesar do desempenho ruim de janeiro a março, Molina fez diversas reuniões na companhia, está tomando pé do negócio e tem dito aos seus interlocutores que se surpreendeu: “a casa está muito mais arrumada do que já esteve”. Essa é a percepção inicial. Mas isso não quer dizer não fazer nada.
A piora no cenário doméstico, combinada ao aumento do estoque da companhia, levaram a diversos ajustes para cortes de produção e promoções. Com isso, a receita líquida caiu 12,3% na comparação com o quatro trimestre, mas os custos não acompanharam (ao contrário) e o lucro bruto caiu 63%. Quando a notícia ruim está na receita, o balanço todo se contamina. Não há milagre que resolva. O Ebitda encolheu quase 93%, para apenas R$ 121 milhões. Desse tombo, R$ 422 milhões são relativos a ajustes na cadeia de produção.
A comparação com o primeiro trimestre de 2022 não é tão melhor, mesmo tirando a sazonalidade positiva das vendas de fim de ano. A receita cresce 13,7%, mas o lucro bruto mostra um tombo de 47%. A operação no Brasil registrou o pior Ebitda de sua história: ficou negativo em R$ 411 milhões. O Itaú BBA chamou o período de “o trimestre para ser esquecido”.
A consequência disso tudo é a notícia que preocupou os investidores. O consumo de caixa no período, que chegou a R$ 3,7 bilhões — quase 70% dos recursos que foram levantados na oferta pública de janeiro para melhorar a situação financeira. Resultado é que a alavancagem, medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda de 12 meses, que estava em 3,12 vezes ao fim de dezembro teve um leve alívio, para 2,83 vezes.
Não por acaso, o analista Thiago Duarte, do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da Exame) deu o seguinte título ao seu relatório sobre o balanço: "De volta ao passado?". A companhia ainda tem uma dívida elevada e os investidores e analistas, mais perguntas do que respostas a respeito do futuro.
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