Mercados

O segredo sujo envolvendo a produção de bitcoins

Criação de cada bitcoin tem consequências reais: um uso enorme de eletricidade -- inclusive da que é gerada por combustíveis que mais poluem

Bitcoin: disparada nos preços em 2017 (Casascius / Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Bitcoin: disparada nos preços em 2017 (Casascius / Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)

Rita Azevedo

Rita Azevedo

Publicado em 17 de dezembro de 2017 às 06h00.

Última atualização em 17 de dezembro de 2017 às 06h00.

O bitcoin tem um segredo sujo. Neste ano, a criptomoeda fascinou os mercados com ganhos enormes e os investidores apostaram em massa em um ativo que só existe no ciberespaço. Mas a criação laboriosa de cada bitcoin digital nas redes informáticas privadas tem consequências reais: um uso enorme de eletricidade -- inclusive da que é gerada por combustíveis que mais poluem.

Um exemplo disso são oito galpões de metal de 100 metros de comprimento no norte da China. A Bitmain Technologies administra uma torre de servidores em Erdors, na Mongólia Interior, com cerca de 25.000 computadores dedicados a resolver os cálculos codificados que geram cada bitcoin. A operação inteira funciona com eletricidade produzida com carvão, assim como todas as muitas “minas” de criptomoedas que estão aparecendo na China.

O uso de eletricidade dessa indústria global talvez já seja equivalente ao de 3 milhões de famílias dos EUA, ultrapassando o consumo individual de 159 países, segundo o Digiconomist Bitcoin Energy Consumption Index. À medida que mais bitcoins são criados, a dificuldade dos cálculos para gerar os tokens aumenta, assim como a necessidade de eletricidade.

“Isso se tornou uma produção poluente”, disse Christopher Chapman, analista do Citigroup em Londres.

Crescimento

A energia sempre fez parte do DNA do bitcoin. A pessoa à qual se atribui a criação da moeda, identificada apenas como Satoshi Nakamoto, criou o sistema que recompensa com moedas virtuais a resolução de quebra-cabeças complexos e utiliza um livro-razão digital codificado para rastrear todo o trabalho e cada transação. À medida que o mercado cresceu e deixou de ser uma cultura de hobby em 2009 para ser um fenômeno global neste ano, as redes de computadores foram precisando de cada vez mais potência informática.

Os preços do bitcoin aumentaram mais de 2.000 por cento nos últimos 12 meses em algumas bolsas e atingiram o recorde de mais de US$ 17.900 nesta sexta-feira. A Cboe Global Markets começou a oferecer futuros do bitcoin em 11 de dezembro, chegando a US$ 18.850 no primeiro dia de negociação. Existem outras criptomoedas, como o ethereum e o litecoin, mas o bitcoin é, de longe, a maior.

Consumo

A China, que obtém cerca de 60 por cento da sua eletricidade do carvão, é o maior operador de “minas” informáticas e provavelmente represente cerca de um quarto da eletricidade usada na criação de criptomoedas, segundo um estudo do setor publicado em abril por Garrick Hileman e Michel Rauchs, da Universidade de Cambridge.

O uso total de eletricidade na mineração do bitcoin aumentou 30 por cento nos últimos 30 dias, segundo Alex de Vries, 28, analista de blockchain na empresa de contabilidade PwC.

“O consumo de energia é uma loucura”, disse de Vries, que criou o blog Digiconomist para mostrar os possíveis riscos das criptomoedas. “Se começarmos a usar isto em escala global, isso vai matar o planeta.”

Acompanhe tudo sobre:BitcoinCriptomoedasPoluição

Mais de Mercados

B3 lança novo índice que iguala peso das empresas na carteira

Carrefour Brasil: desabastecimento de carne bovina afeta lojas do Atacadão

WEG (WEGE3) anuncia compra da Reivax

Pacote fiscal, Carrefour e taxação de Trump: os assuntos que movem o mercado