Invest

Stuhlberger e Xavier: como a inflação americana pode impactar o Brasil

Dois dos mais respeitados gestores do país enxergam oportunidade para valorização de ativos no curto prazo, em evento da Money Week, promovido pela EQI Investimentos

Avanço da inflação nos EUA tem que estar no radar dos investidores, defendem gestores | Foto: Fotog/Getty Images (fotog/Getty Images)

Avanço da inflação nos EUA tem que estar no radar dos investidores, defendem gestores | Foto: Fotog/Getty Images (fotog/Getty Images)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 24 de maio de 2021 às 19h23.

Investidores e analistas nos Estados Unidos têm sido monotemáticos nos últimos meses: só se fala em inflação. A escalada de preços é consequência natural do forte ritmo de recuperação dos Estados Unidos da crise causada pela Covid-19, em meio a pacotes de estímulo trilionários. A questão é se esse aumento de preços será mais duradouro do que têm defendido as autoridades monetárias.

Coheça o maior banco de investimentos da América Latina. Abra sua conta no BTG Pactual digital

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) insiste que a inflação é uma condição temporária, que não deve afetar nem as taxas de juros -- estacionadas no intervalo entre zero e 0,25 ponto percentual desde março de 2020 -- nem a atual política de recompra de títulos.

Mas, se o Fed estiver errado, as consequências para os mercados serão muito significativas. Essa é a opinião de dois dos mais respeitados gestores brasileiros: Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset, e Rogério Xavier, sócio da SPX Capital. Ambos participaram nesta segunda-feira, 24, do painel de abertura da Money Week, evento promovido pela EQI Investimentos.

“Se o Fed tiver errado, a estrutura de curva do mercado está totalmente equivocada. Os efeitos disso seriam a elevação de juros, que suga a poupança do mundo todo para os Estados Unidos, deixando menos recursos para as economias emergentes. Estes países então sofreriam com desvalorizações adicionais nas moedas e com um nível de inflação e juros bem mais altos do que estão precificados”, afirmou Xavier.

Os gestores ressaltam, porém, que uma elevação pequena na taxa de juros dos EUA não seria tão catastrófica como alguns investidores imaginam. Para Stuhlberger, um ajuste que conseguisse estabilizar a taxa longa de juros teria como consequência apenas a eliminação de bolhas.

“O mercado está maravilhosamente bom, e as recentes correções [pelos temores de inflação] vieram apenas para corrigir algumas bolhas. O mercado não está bem se existem ofertas absurdas de IPOs, follow-ons e SPACs sendo feitas todos os dias. Euforia não é necessariamente positiva, pequenas correções técnicas são bem-vindas”, disse.

E, caso o Fed esteja correto, o cenário é ainda mais positivo para o mercado de ações -- inclusive no Brasil. “Se o investidor pudesse escolher um cenário, seria esse. Boom de commodities e o principal país desenvolvido crescendo 10% ao ano são um sonho para o investidor. Se não houver um acidente no mundo desenvolvido, os ativos vão continuar tendo uma performance muito positiva”, defendeu Xavier.

É verdade que as economias emergentes podem também acelerar suas recuperações e enfrentar elas mesmas cenários de inflação que demandem um aumento de juros. Ainda assim, o sócio da SPX acredita que a condição não será suficiente para atrapalhar o desempenho dos ativos.

Seja qual for o resultado, o Brasil e outros emergentes ainda contam com uma janela de ao menos seis meses para aproveitar o cenário de disparada das commodities e abundância de capital estrangeiro. “Os países emergentes podem se beneficiar, mas precisam de políticas saudáveis. No Brasil o cenário estrutural não está tão ruim quanto o fiscal, então é preciso focar no avanço das reformas e privatizações”, argumentou Xavier.

Stuhlberger concordou e ressaltou outras duas dificuldades no caminho. A primeira é que as reformas mais difíceis de serem aprovadas -- a tributária e a trabalhista -- são justamente as duas que ficaram para depois. A segunda é que o maior desafio do país está, em sua avaliação, em áreas ainda mais vitais, como melhorar o desempenho em saúde, educação e infraestrutura urbana.

“Dito isso, o investidor deveria pensar em fazer algum tipo de diversificação patrimonial olhando o mercado lá fora, principalmente se houver um cenário de apreciação do real nos próximos meses”, completou o CEO da Verde.

Esteja sempre informado sobre as notícias que movem o mercado. Assine a EXAME

Acompanhe tudo sobre:bolsas-de-valoresEstados Unidos (EUA)Fundo VerdeInflaçãoInvestimentos-pessoaisLuís Stuhlberger

Mais de Invest

Receita abre nesta sexta-feira consulta ao lote residual de restituição do IR

O que é circuit breaker? Entenda e relembre as ‘paradas’ da bolsa brasileira

15 ideias de fazer renda extra pela Internet

Mutirão de negociação: consumidores endividados têm até dia 30 para renegociar dívidas