China e EUA: tensões entre as duas maiores economias do mundo aumentam (Kevin Lamarqu/Reuters)
Repórter de finanças
Publicado em 14 de outubro de 2025 às 10h31.
Última atualização em 14 de outubro de 2025 às 10h37.
As tensões comerciais entre China e Estados Unidos se estendem — e, agora, o jogo virou uma verdadeira batalha naval. Pequim reagiu à decisão do governo de Donald Trump de impor uma tarifa extra de 100% sobre produtos chineses, respondendo com sanções a cinco subsidiárias americanas do grupo sul-coreano do setor naval, Hanwha Ocean.
O Ministério do Comércio da China disse nesta terça-feira, 14, que essas unidades teriam colaborado com investigações conduzidas por Washington sobre a indústria naval do país, colocando em risco a soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento da China.
O novo cabo de guerra entre as duas maiores economias do mundo ajudou a derrubar as ações internacionais. Os índices futuros da Europa e Estados Unidos abriram em queda, enquanto as bolsas da Ásia recuaram. As ações da Hanwha Ocean fecharam com perdas de 6,2%.
Um porta-voz da empresa sul-coreana afirmou que a companhia está “ciente do anúncio feito pelo governo chinês e está analisando de perto seu possível impacto nos negócios”.
Os dois lados também anunciaram medidas recíprocas de sobretaxas portuárias sobre empresas de transporte marítimo, expandindo a batalha para além do local: os navios são responsáveis por movimentar mais de 80% do comércio internacional.
“Não se trata mais apenas de tarifas e controles de exportação, mas de quais empresas têm a capacidade de operar em quais mercados. Se isso continuar, muito mais atividades econômicas estarão em risco”, disse à Bloomberg, Deborah Elms, diretora de política comercial de Hinrich Foundation, uma organização filantrópica com sede em Cingapura.
A partir de hoje, navios chineses tem que arcar com tarifas mais altas para operar em portos dos Estados Unidos, enquanto a China, em resposta, começará a aplicar cobranças extras a embarcações e companhias marítimas americanas que atracarem em seus portos.
O setor marítimo é apenas uma das frentes de atrito entre os dois países. A China intensificou os controles sobre a exportação de terras raras e adotou outras medidas, enquanto os Estados Unidos ampliaram as restrições ao acesso chinês a semicondutores, além das tarifas adicionais de 100%.
As autoridades de ambos os governos enfatizam que seguem conversando. Entretanto, não está claro se conseguirão chegar a uma trégua antes da reunião da cúpula entre Donald Trump e Xi Jinping. E no meio das sanções mais recentes da China sobre terras raras e transporte marítimo, a Coreia do Sul pode tender a ficar do lado dos EUA na pressão sobre Pequim.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, acusou Pequim de apontar “uma bazuca para as cadeias de suprimentos e para a base industrial de todo o mundo livre” e conclamou os aliados dos EUA a se unirem a Washington na oposição à política.
Nesta semana, o conflito poderá ganhar novos capítulos. O vice-ministro das Finanças, Liao Min, um dos principais integrantes da equipe de negociações comerciais da China, participa da reunião anual de ministros das Finanças globais em Washington, onde já se encontrou com membros da equipe de Bessent, segundo uma fonte com conhecimento do assunto, informou o jornal.
Guerra comercial de Trump é 'Lei da Selva' e China vai resistir, diz embaixador no BrasilEnquanto os Estados Unidos ainda tentam reconstruir sua indústria naval praticamente extinta, a China consolidou, ao longo da última década, a liderança global na fabricação de embarcações, superando os tradicionais rivais sul-coreanos e japoneses.
O movimento de retomada do setor americano começou ainda no governo Trump, que buscou reavivar a construção naval nacional e acabou abrindo espaço para que os construtores da Coreia do Sul ampliassem sua presença no país.
Neste momento, Seul prometeu destinar cerca de US$ 150 bilhões em investimentos e transferência de tecnologia para apoiar as ambições dos EUA no setor.
Em março, quando Washington discutia as medidas a serem tomadas diante do avanço chinês no transporte marítimo, a Hanwha Shipping apresentou comentários públicos ao representante comercial Jamieson Greer, manifestando apoio à investigação americana.
Agora, as novas ações de Pequim aumentam a pressão sobre a Coreia do Sul, que pode ter de escolher entre alinhar-se aos Estados Unidos ou preservar sua relação com a China, avalia Jung In Yun, CEO da Fibonacci Asset Management Global Pte, segundo a Bloomberg Línea.
“As sanções contra a Hanwha enviam uma mensagem clara de Pequim”, afirmou Yun, alertando que, se a companhia coreana mantiver a cooperação com os americanos, “terá de sacrificar seus negócios na China.”