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O que queremos é uma competição justa, diz CEO da C&A sobre Shein e Shopee

Executivo também aponta que os juros elevados fizeram a companhia reduzir o ritmo de abertura de lojas físicas, mas negou qualquer movimento de venda ou fusão da varejista

Paulo Correa, CEO da Exame, diz que juros reduziu ritmo de abertura de lojas (Leandro Fonseca/Site Exame)

Paulo Correa, CEO da Exame, diz que juros reduziu ritmo de abertura de lojas (Leandro Fonseca/Site Exame)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 12 de abril de 2023 às 15h55.

Última atualização em 12 de abril de 2023 às 16h08.

O avanço acelerado da venda das plataformas online internacionais, especialmente as chinesas como Shopee, Shein e AliExpress, fez as varejistas brasileiras pressionarem o governo por medidas que mudassem a dinâmica de competição. A primeira ação nesse sentido deve sair do papel em breve: a Receita Federal confirmou que aumentará a fiscalização para taxar compras até US$ 50. "O  que queremos é uma competição justa", disse o CEO da C&A (CEAB3), Paulo Correa, em entrevista às vésperas da decisão da Receita.

A principal alegação do setor varejista é de que essas companhias não pagam tributos como os nacionais, tampouco respeitam regras locais de segurança ao trabalho e combate à pirataria. "Temos zero problemas com competição. Só acreditamos que ela precisa ser justa, igual. Se ela não é justa, de algum jeito isso tem de ser corrigido", argumenta Correa. 

Ainda assim, o executivo diz que a C&A não tem sido tão impactada pela competição dos sites internacionais. "O mercado de confecção no Brasil em relação a 2019 não cresceu. A C&A cresceu quase 20%. Certamente esses caras [plataforma internacionais] tão ganhando espaço, mas a gente está crescendo, então tem outros doando mais esse market share para eles". 

Em 2022, a C&A registrou um avanço de 20% na receita líquida, para R$ 6,18 bilhões. O lucro líquido do ano, no entanto, não chegou a R$ 1 milhão, ficando 99,8% menor. O grande impacto veio das despesas financeiras, que cresceram 239%, para R$ 311,5 milhões. "Queremos crescer este ano, com margem bruta e rentabilidade, independentemente do cenário macro."

Ritmo de abertura de lojas vai cair por causa dos juros

O ambiente de juros elevados, com a Selic a 13,75%, fez a C&A, assim como diversas varejistas, revisar seus planos de abertura de lojas.  "Se o custo do capital está a 14%, não é qualquer projeto que consegue parar em pé. O que para de pé? aquele que tem uma velocidade de captura maior, com poucos meses tem upside seja na venda, seja na margem e até redução de despesas, com nível de investimento menor. Essa é a equação."

Com 331 lojas abertas atualmente, a companhia dizia ver 150 aberturas potenciais em seu documento de abertura de capital, em 2019, quando tinha 276 unidades. Com os juros elevados, a decisão foi diminuir o ritmo de abertura de lojas em 2023. O foco, explica Correa, vai ser abrir em lojas de cidades com até 500 mil habitantes.

Segundo o executivo, embora se perceba menos flexibilidade entre as administradoras de shopping centers, as negociações estão acontecendo. Essa dificuldade maior na negociação se deve ao cenário mais complexo do varejo, com diversas empresas precisando renegociar aluguéis e suas dívidas de curto prazo.  

Ainda assim, a companhia está apostando no formato double door com a marca ACE. São espécie de lojas da marca esportiva dentro das lojas da C&A. Hoje já são 13 lojas do tipo e, nesse formato, as vendas da ACE são o dobro do que nas lojas comuns. Outra aposta é seguir crescendo no canal digital, que era menos do que um dígito das vendas em 2019 e chegou a quase 15% no fim de 2022, com destaque para as vendas por  WhatsApp.

Nada de venda da C&A

Apesar do momento mais complexo do varejo, Correa afastou a possibilidade de venda da C&A ou diminuição da fatia do controlador no capital social da empresa. "Não olhamos para movimento de fusão e aquisição e de jeito nenhum de venda da empresa."

De acordo com Correa, é "impensável" falar em saída do controlador. "Acreditamos que nossa ação tem um upside potencial que talvez seja um dos maiores do segmento, porque o valuation atual não corresponde ao tamanho da empresa e à força da marca nem ao tamanho que estamos hoje e o nosso negócio. E ao longo do tempo isso vai ser corrigido", diz ele. Hoje, o papel está cotado a R$ 3,08, com valorização de 40% no ano, mas mais de 80% abaixo do preço do IPO, de R$ 16,50.  

Nesse cenário, a busca por recursos no mercado de capitais também está em compasso de espera, segundo Correa. "Estamos sempre olhando para operações de captação, mas está de fato mais caro pegar dinheiro hoje em dia. Um caso como esse que surgiu no começo do ano [crise da Americanas] e de outras empresas não ajuda ninguém. Mas é preciso ter consistência", afirma. 

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