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O que explica o fenômeno JBS na bolsa?

Apesar da prisão dos irmãos Batista, de segunda-feira até as 11h30 desta sexta-feira (15), as ações da empresa subiram 12,3%

JBS: a empresa fatura R$ 170 bilhõe (Ueslei Marcelino/Reuters)

JBS: a empresa fatura R$ 170 bilhõe (Ueslei Marcelino/Reuters)

LA

Lucas Amorim

Publicado em 15 de setembro de 2017 às 11h40.

Última atualização em 15 de setembro de 2017 às 14h14.

Decifrar a cabeça dos investidores é uma tarefa que exige doutorado em ciências profundas, como ficou mais uma vez provado nesta semana. Na quarta-feira, o presidente da maior processadora de carnes do planeta, a JBS, foi preso por uso de informação privilegiada.

Wesley Batista era o único executivo que conhecia a empresa de cabo a rabo, não tem data para sair da cadeia, e não deixou um plano de sucessão encaminhado. Ou seja: a JBS, uma gigante que fatura 170 bilhões de reais, está à deriva. Um problemão, certo?

Não para os investidores da companhia. De segunda-feira até as 11h30 desta sexta-feira as ações da JBS subiram 12,3%, para 8,9 reais. Na quinta-feira, quando a prisão de Joesley Batista, irmão de Wesley, foi revertida de temporária para preventiva, e seu acordo de delação foi rescindido, as ações da JBS foram as que mais subiram no índice Ibovespa: 3,39%.

Os 12 analistas que acompanham a empresa indicavam, em agosto, um preço alvo de 12 reais para os papéis, o que daria espaço para mais 30% de alta. Mas tudo isso foi antes de Joesley falar demais ao gravador e acabar preso, e de Wesley também ir para a prisão por negociar ações da companhia e câmbio com base em informações privilegiadas, segundo os investigadores.

Logo após a revelação das novas gravações de Joesley, no dia 5 de setembro, o banco Itaú BBA revisou o preço alvo dos papéis da JBS de 16 para 6 reais, e recomendou sua venda.

O motivo: um revés sobre a delação premiada poderia levar a uma revisão na multa da controladora J&F e, no limite, lançar dúvidas sobre as vendas de ativos já feitas. A delação sofreu um revés ontem, e nada.

Nesta sexta-feira a fogueira da JBS voltou a arder, com uma entrevista do presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, ao jornal Folha de S. Paulo. O BNDES é dono de 21% da companhia, atrás apenas da família Batista, que controla o negócio com 41% das ações.

Rabello voltou a defender a indicação de um interino para assumir a JBS. Em qualquer padaria, afirma Paulo Rabello, há plano de sucessão, e a companhia não pode continuar “acéfala”.

“A punição exemplar aos CPFs não pode se confundir com os CNPJs. A posição conhecida dos Batista é 41%. Se agiam como donos antes, passaram a conhecer sua verdadeira condição de sócios”, diz. “Não é o governo que quer uma vendeta, é a República que quer se vender vindicada”.

Uma entrevista explosiva do segundo maior acionista batendo de frente com os controladores tende a jogar os papéis para baixo, certo? Não na JBS. Até as 11h30 desta sexta-feira, a empresa voltava a liderar o Ibovespa, com alta de 3,3%. O que explica o fenômeno JBS na bolsa?

Parte da explicação é que os analistas passaram a ver que há boas alternativas para a empresa sem os Batista. A alta de quinta-feira foi atribuída a uma notícia publicada pela agência Reuters, que dizia que a JBS estuda dois executivos para a substituição de Wesley.

Um deles é Gilberto Tomazoni, chefe de operações, um executivo próximo de Wesley desde que se juntou à JBS em 2013. Outro candidato é o presidente do conselho da JBS, Tarek Farahat, ex-diretor da Procter & Gamble para a América Latina. Rabello, do BNDES, também considera os dois executivos nomes fortes para assumir a companhia.

“O mercado de certa forma entende que o pior já passou. A aposta é que o acordo de leniência pode não ser quebrado na pessoa juridical, e só na física. E há boatos que os Batista podem sair do controle. A jbs, sem os problemas de governça, é uma empresa muito boa”, afirma um analista.

Uma reportagem do jornal Valor desta sexta-feira afirma que bancos de investimento já estão buscando interessados em investir e até em comprar a JBS, numa hipótese mais remota. Até o momento, afirma o Valor, “a empresa é considerada intocável pela família, mas há quem aposte que os Batista podem reavaliar a posição, a depender da pressão sobre o grupo”.

Ou seja, apesar da pressão do BNDES, a família Batista está muito longe de se ver como “sócia” e não como “dona” do negócio. A briga tende a ser boa.

Mas os balanços de fato corroboram a tese de que a empresa vive um bom momento. O faturamento da JBS foi de 79,3 bilhões de reais no primeiro semestre do ano, uma queda de 10,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

Por outro lado, a empresa voltou a ter lucro em 2017, com resultado de 961 milhões de reais no acumulado dos primeiros seis meses, saindo de um prejuízo de 986,9 milhões de reais no primeiro semestre de 2016.

A retomada foi puxada sobretudo pelos resultados nos Estados Unidos, onde se encontram 50,8% dos ativos da empresa – no país, a divisão de carne de porco e aves cresceu mais de 11% no segundo trimestre, enquanto todos os setores caíram mais de 6% no Brasil entre abril e junho.

Entre um balanço saudável e possíveis mudanças à vista, os investidores estão passando por cima das disputas internas e da crise policial da empresa. Os próximos dias mostrarão se eles têm razão.

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