Fogos: “Vários fatores sugerem stress no mercado brasileiro no próximo ano”, diz Citi (.)
Da Redação
Publicado em 26 de dezembro de 2013 às 14h05.
São Paulo - O ano de 2013 foi difícil para Bovespa. Com o PIB crescendo menos do que o esperado pelo mercado, o principal índice da bolsa, o Ibovespa, pode fechar o ano com queda de 15%, o percentual atingido em 24 de dezembro. Enquanto isso, a valorização do índice Dow Jones neste ano fica perto de 20%. O Ibovespa pode terminar o ano com o pior desempenho entre os países do G-20. Essa é a pista do que pode acontecer em 2014.
O Citi projeta que a Bovespa vá atingir 64.000 pontos no final do próximo ano, impulsionado pelo grupo de commodities. “Vários fatores sugerem stress no mercado brasileiro no próximo ano, especialmente para empresas voltadas ao doméstico e sem receita em moedas que não o Real”, segundo relatório do começo do mês assinado por Stephen H. Graham e Fernando Siqueira.
Para André Moraes, analista do Rico, home broker da Octo Investimentos, o pior é que o mundo inteiro subiu e o Brasil caiu. Apesar de o Ibovespa não ter refletido exatamente o que aconteceu no mercado - porque parte da queda do índice está relacionado à queda da OGX - mesmo descontando a petroleira do Grupo X, o índice ficaria no negativo.
A bolsa funciona como um reflexo do PIB real. Quando o PIB cresce, as empresas crescem e há mais previsão de qual será o resultado trimestral, o que atrai o fluxo, segundo Leonardo Milane, estrategista da Santander Corretora. No começo do ano, o mercado esperava que o PIB crescesse 3% ou 3,5%. Mas, agora, o crescimento beira 2% somado à inflação, ao aumento de juros e ao aumento do risco país.
“O investidor precisa se sentir seguro. O cenário pode até ser ruim, mas a pessoa tem que se sentir segura”, disse Moraes, para quem 2014 não será muito diferente de 2013.
A Rico projeta mais duas altas para a taxa de juros e depois, manutenção. A expectativa para inflação indica que a taxa pode cair, mas não muito longe de 5,5% ou 6% e o PIB também deve ser parecido com o deste ano.
Já a expectativa da Santander Corretora é de um crescimento “modesto” da economia brasileira no próximo ano – o que significa uma elevação entre 1% e 1,5% do PIB em 2014.
Além das condições internas, também é necessário observar o cenário no exterior. Em sua última oportunidade em 2013, o Federal Reserve, o Banco Central norte-americano, anunciou a redução do ritmo dos estímulos à economia dos EUA.
Na prática, a operação tão aguardada significa que haverá menos dólares circulando no mundo, logo, uma valorização do Dólar ante o Real pode estar no horizonte. “Não se deve esperar depreciação do Real só pela retirada dos estímulos, outros fatores contribuem, como o aumento do risco do país e fatores internos que também prejudicam o valor da moeda brasileira”, explicou Milane.
A retirada a passos lentos – incialmente, a injeção será 10 bilhões de dólares menor - acalma os mercados e dá mais previsibilidade para os investidores, segundo Milane. A retirada também pode indicar uma mudança de direção do fluxo de investimento dos países emergentes. A curva de juros americana está subindo nos últimos seis a 12 meses, o que pode atrair fluxo de compra para títulos públicos dos Estados Unidos.
Nova metodologia
O ano vem com uma nova metodologia do Ibovespa, anunciada em setembro. O novo critério considera, além da liquidez, o valor de mercado das companhias em circulação no mercado para inclusão no índice. A alteração será feita em duas etapas, a primeira em janeiro, com uma combinação da metodologia vigente com a nova. Esta será adotada integralmente em maio.
“A metodologia ficou mais coerente, empresa em concordata não reflete muito a economia do país. Uma das funções do índice acionário é refletir o momento econômico, e deixar empresa em concordata ganhar peso no índice acaba distorcendo um dos objetivos dele”, afirmou Milane.
Investimentos
A equipe do Citi traçou um cenário em que a combinação do tapering (corte de estímulos) nos EUA, com o possível rebaixamento no Brasil e o ano eleitoral poderia pressionar o câmbio, pode levar a aumento de juros e desacelerar o crescimento.
Quais ações tenderiam a se sair bem nesse cenário? Cerca de 40% do mercado, responde o Citi: exportadores de commodities primeiro; outras empresas de commodities que vendem no mercado doméstico, mas seguindo preços em Dólar e multinacionais que não têm receitas em Real.
Um setor que o Citi destaca para 2014 é o de bancos comerciais. Segundo a instituição, eles estão estruturados para se beneficiarem do aumento da taxa de juros. Para lidar com as taxas em queda nos últimos três anos, eles cortaram custos e diversificaram.
“Em 2014, eles devem se beneficiar de todos os lados: custos mais baixos, mais taxas e taxas mais elevadas. Além disso, os bancos públicos foram orientados a desacelerar os empréstimos, abrindo espaço para os privados”.
Para os investidores, resta pensar em ações que continuarão tendo performance boa mesmo em um ambiente de PIB fraco, segundo Milane. O estrategista cita setores pouco cíclicos ou que estejam em um momento operacional muito bom, como seguros, logística, transporte, educação, serviços financeiros e alimentos. Dentro desses setores, Milane destaca BB Seguridade, Cosan, Localiza, Ser Educaiconal, Estácio, Pão de Açúcar e Ambev.
Para Moraes, os setores que devem ter um cenário melhor em 2013 são siderurgia e o de empresas que dependem menos do desenrolar da economia, como Ambev e Embraer. Outros setores que podem ter benefícios são celulose e mineração.
“A economia mundial vai muito bem o que não vai deixar nosso mercado afundar em 2014”, disse Moraes. Apesar de esperar um ano difícil, Moraes acredita que o próximo ano ainda pode ser melhor que 2013 e talvez venha com uma definição favorável para a Petrobras – e, então, a bolsa poderia surpreender.