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O que diz o mercado sobre o avanço do impeachment?

Investidores apostam suas fichas em medidas que ajudem a retomar o crescimento do setor privado, caso haja de fato um novo governo


	Dilma Rousseff: aprovação do impeachment na Câmara já estava nos preços dos ativos
 (Adriano Machado/Reuters)

Dilma Rousseff: aprovação do impeachment na Câmara já estava nos preços dos ativos (Adriano Machado/Reuters)

Anderson Figo

Anderson Figo

Publicado em 18 de abril de 2016 às 17h54.

São Paulo - Um dia após o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff ter sido aprovado na Câmara e passar ao Senado, o Ibovespa teve queda e o dólar subiu nesta segunda-feira (18).

No geral, a avaliação de economistas e analistas é de que o resultado já era esperado e, portanto, estava embutido nos preços dos ativos. Não à toa, o principal índice da Bovespa subia 22,8% em 2016 até a última sexta-feira (15), enquanto o dólar caía 8,9%.

Com a confirmação de que o pedido de impedimento da presidente vai ao Senado, os investidores aproveitaram o momento para vender ativos e embolsar lucros acumulados nos últimos pregões. 

Veja abaixo o que dizem participantes do mercado sobre o andamento do processo e sobre o que esperar para as cotações a partir de agora.

Jakob Ekholdt Christensen, analista-chefe do Danske Bank

"O cenário mais provável é que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tente formar um novo governo com o apoio do maior partido da oposição, o PSDB, e outros partidos menores.

Os investidores claramente esperam que o novo governo implemente políticas mais pró-mercado. Além disso, Temer já anunciou que seu novo governo pretende reduzir o tamanho da máquina pública e perseguir uma meta fiscal conservadora.

Porém, se não for viável encontrar uma coalizão política, então eleições antecipadas poderão ser chamadas em algum momento. (...)

O real e o mercado brasileiro de ações já cresceram substancialmente e muito do potencial de valorização está precificado. Mas esperamos que o sentimento continue positivo no curto prazo, pelo menos se houver uma transição suave para um novo governo.

No câmbio, acreditamos que o Banco Central pode estar preocupado com a rápida valorização do real, que prejudica o crescimento das exportações. 

Entretanto, nós ainda vemos um risco de reviravolta política e gostaríamos de ver como serão os próximos desdobramentos nesta área nas próximas semanas, antes de formalizar uma mudança em nossa projeção. No longo prazo, vemos suporte para a valorização do real com a maior demanda da China."

David Duong e Brendan Hurley, do Santander

"Nós acreditamos que os ativos brasileiros já estejam precificando uma parcela significante de risco político há várias semanas. 

Sobre os próximos passos, por favor note que o voto da Câmara não é decisivo e, separadamente, o Senado vai criar sua própria comissão especial para decidir se haverá um julgamento do impeachment, o que pode levar muitas semanas. (...)

Sobre a performance dos ativos, vimos pouca variação das cotações na sexta-feira (15), mas acreditamos que há espaço para novas oscilações mais à frente, principalmente porque poderá haver mais corte de taxas neste ano do que o que já está precificado. 

Nós acreditamos que o Banco Central pode reduzir o ritmo de intervenções no câmbio no final desta semana, em linha com uma redução da volatilidade e dos riscos, por isso o BC deverá evitar grandes movimentos do câmbio."

Equipe de análise da Lopes Filho

"As pesquisas já indicam que haverá bem mais de 42 senadores a favor [do impeachment] e a presidente seria mesmo afastada. Afastada, muito provavelmente não voltaria mais ao poder, mesmo considerando que para isto seria novamente requerido 2/3 do Senado (...).

O day after disso seria determinado por Michel Temer. Pensamos que seria imprescindível montar enxuto ministério (poderia cortar pela metade a quantidade) de notáveis e de pronto esclarecer a crueza da situação econômica e primeiras medidas a serem tomadas.

Isso é fundamental para colocar o povo brasileiro na 'mesma página' e conseguir credibilidade e aquele tempo necessário para começar a arrumar a casa abandonada.

Certamente não teremos medidas radicais, até por conta das eleições municipais do final do ano, (...) mas serão suficientes para dar o tom do mandato de transição, até 2018. Lá sim, o novo presidente, com respaldo do voto popular, poderia fazer as mudanças estruturantes indispensáveis.(...)

O mais importante será o governo Temer pavimentar a estrada da boa governança, da previsibilidade e da transparência para os agentes econômicos. Este, alías, é um fato a ser destacado. Seu objetivo é criar condições para o setor privado voltar a deslanchar."

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