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O mercado está subestimando o conflito entre Israel e Irã? Apetite a risco volta em terreno frágil

Sinalizações de trégua impulsionam o apetite a risco, mas volatilidade deve dar a tônica, especialmente no mercado de energia

Alta firme: bolsas do mundo todo registram forte avanço na segunda-feira, 16 (Germano Lüders/Exame)

Alta firme: bolsas do mundo todo registram forte avanço na segunda-feira, 16 (Germano Lüders/Exame)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 17 de junho de 2025 às 12h04.

Última atualização em 17 de junho de 2025 às 12h04.

Um dia de forte alta, um dia de queda. Em meio às tensões do Oriente Médio, os mercados operam voláteis na manhã desta terça-feira, 17. Ontem, apesar da escalada do conflito, os índices subiram fortemente, o que resultou em diversas análises do mercado — inclusive que as bolsas estavam "ignorando" a guerra.

O Ibovespa, principal índice acionário do Brasil, chegou a apresentar alta de 2% na máxima do dia de segunda-feira, 16. Em Wall Street, os movimentos foram iguais. A Nasdaq subiu 1,61% na sua máxima, enquanto o Dow Jones avançou 1,20% e o S&P 500 valorizou 1,23%.

O conflito entre as duas grandes potências regionais já dura cinco dias e deixa centenas de mortos e feridos. No final de semana, Israel e Irã atacaram instalações de energia um do outro, e Israel afirmou ter também atingido centros de comando da Guarda Revolucionária Iraniana.

Um dos movimentos que ajudou as bolsas a subirem fortemente foi que o governo iraniano pediu, nesta segunda-feira, 16, que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intervenha junto a Israel. O objetivo seria pôr fim aos ataques e negociar um cessar-fogo.

"Se o presidente Trump for genuíno em relação à diplomacia e estiver interessado em interromper essa guerra, os próximos passos serão consequentes", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, em um post no X (ex-Twitter).

Segundo reportagem do Wall Street Journal, o Irã tem demonstrado com urgência seu interesse em encerrar as hostilidades e retomar o diálogo sobre seus programas nucleares, encaminhando recados a Israel e aos Estados Unidos por meio de mediadores árabes, de acordo com autoridades do Oriente Médio e da Europa.

Entretanto, esse otimismo do dia anterior foi abalado depois que o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, publicou em sua rede social Truth Social um pedido de evacuação de Teerã, capital do Irã. Essa declaração foi interpretada como um sinal de possível intensificação do conflito.

Como resultado, os investidores passaram a temer que a guerra pudesse se prolongar, o que trouxe de volta a cautela ao mercado nesta terça-feira, 17. Isso fez com que parte dos ganhos registrados no dia anterior fossem devolvidos nesta manhã, já que o risco voltou ao radar.

Hoje, os índices da Europa, que haviam fechado em alta no dia anterior, caem, com o Stoxx 600 recuando 0,75% às 12h. Já o CAC 40 recua 0,78%, enquanto o DAX desvaloriza 0,95%. O FTSE 100, por sua vez, cai 0,44%.

Na Ásia, as bolsas fecharam sem direção única. O Nikkei subiu 0,59%. Na Coreia do Sul, o Kospi avançou 0,12%, enquanto o Kosdaq caiu 0,21%. Na China, o índice CSI 300 encerrou o dia estável, e o Hang Seng, de Hong Kong, recuou 0,34%. A bolsa da Austrália fechou praticamente estável.

O Ibovespa, por sua vez, opera em queda de 0,027% aos 138.916 pontos por volta das 12h.

Em Wall Street, as bolsas também cedem: Dow Jones cai 0,20%, enquanto o S&P 500 recua 0,33% e Nasdaq desvaloriza 0,39%.

Bolsas estão ignorando o conflito?

Com a forte alta na segunda-feira, 16, um questionamento surgiu: as bolsas estavam ignorando as tensões entre Israel e Irã?

Russ Mould, diretor de investimentos da AJ Bell, alertou à CNBC que havia o perigo de os mercados estarem subestimando “o risco de uma grande conflagração no Oriente Médio”, principalmente no que diz respeito ao mercado de energia.

Isso porque o movimento de alta não é o esperado em momentos de tensões.

Quando acontece algum evento negativo, como uma guerra, o índice S&P 500 costuma cair cerca de 6% nas três semanas seguintes — mas depois se recupera completamente nas outras três semanas, explicou Jim Reid, do Deutsche Bank, em nota publicada na segunda-feira, 16, de acordo com a CNBC.

“[Mas nossos estrategistas] acreditam que este episódio provavelmente será mais brando do que isso, a menos que haja uma escalada significativa, já que destacam que o posicionamento em ações já está abaixo da média… e uma queda de 6% exigiria que o índice recuasse até o limite inferior de sua faixa habitual.”

Mas o vai-e-vem de sinais de trégua mostram que as bolsas não são omissas perante a guerra.

Mais cedo, com Trump deixando a cúpula do G-7 no Canadá, e afirmando em uma publicação na Truth Social que seu retorno a Washington não estava relacionado a um acordo de cessar-fogo, as bolsas reagiram e reforçaram a queda, segundo uma reportagem da Barron's.

O republicano disse que o presidente francês, Emmanuel Macron, estava "errado" ao falar que uma possível trégua foi o motivo de sua saída antecipada da reunião do G-7 no Canadá. "Errado! Ele não tem ideia de por que estou a caminho de Washington, mas certamente não tem nada a ver com um cessar-fogo", escreveu Trump. "Muito maior do que isso", acrescentou.

Segundo o jornal americano, Trump se distanciou ainda mais da ideia de que estava em busca de uma trégua em uma publicação nas redes sociais na manhã de terça-feira, escrevendo: "Não procurei o Irã para 'conversas de paz' ​​de forma alguma."

Mercado de energia na mira

“Trata-se de mais um evento geopolítico que pode ser ignorado?”, escreve a Gavekal em outro relatório assinado por Louis-Vincent Gave. A palavra ‘ignorar’ volta à tona, mas logo é respondida. “Provavelmente, apenas se assumirmos que logo retornaremos ao status quo pré-guerra. Neste momento, isso parece o cenário menos provável.”

Israel quer uma mudança no regime do Irã. Para que isso aconteça, avalia ser necessário enfraquecer primeiro a economia do país. Nesse contexto, a estratégia mais provável envolveria atacar e desestruturar o setor de energia iraniano, pilar essencial da sustentação econômica do regime.

Os mercados de energia foram os que mais se movimentaram com as notícias dos ataques, já que o conflito entre Israel e Irã alimentou preocupações com o fornecimento.

Na sexta-feira, 13, os contratos futuros para julho do petróleo tipo Brent chegaram a US$ 78,50, registrando o maior ganho diário para o petróleo bruto desde a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022.

Nesta terça, os preços voltaram a subir. Os contratos futuros para agosto do petróleo tipo Brent sobem 3,29% às 12h, para US$ 75,64, enquanto a referência WTI para julho de 2025 avança 3,08%, a US$ 73,98 no mesmo horário.

Segundo análise da Gavekal, o conflito entre Israel e Irã ainda deve provocar uma disparada no preço do petróleo. Na avaliação do analista Charles Gave, é "praticamente certo" que os preços avancem para além dos US$ 100 por barril no curto prazo.

“A questão para Israel, portanto, é se deve destruir a capacidade do Irã de exportar petróleo, ou esperar que a população se revolte”, disse Charles Gave em nota.

A justificativa para esse cenário está na conjuntura econômica e geopolítica atual do Irã, que enfrenta inflação elevada, desemprego jovem de 27% e colapso cambial. Ao minar as exportações de petróleo iranianas, Israel pressionaria o regime teocrático por dentro, apostando que a própria população se volte contra o governo.

Reorientação de portfólio?

Louis-Vincent Gave enfatiza: diante do risco de um choque inflacionário repentino, ações do setor de energia são uma proteção “antifrágil” melhor para os portfólios do que títulos de governo de países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Ele explica essa conclusão em três pontos:

  • No cenário (bastante improvável) de status quo, os preços de energia e commodities devem subir aos poucos, já que empresas e investidores tendem a estocar materiais essenciais. Com isso, os juros dos títulos de longo prazo também poderiam aumentar um pouco, puxados por mais gastos públicos e riscos geopolíticos.
  • Se houver uma “mudança de regime no Irã”, os preços da energia cairiam, e grandes petroleiras correriam para ajudar a modernizar a decadente infraestrutura de extração do Irã. Isso beneficiaria países importadores de energia e reduziria a incerteza global, gerando um “dividendo da paz” com menor prêmio de risco nos mercados.
  • Já se o “Irã decidir lutar”, os preços do petróleo devem seguir em alta, assim como os juros dos títulos dos países da OCDE. Esse ambiente tende a prejudicar o crescimento e aumentar a aversão ao risco, pressionando bolsas e títulos. Nesse caso, só o setor de energia deve se valorizar no curto prazo.

“Para aqueles que temem ter perdido o rali das ações de energia, vale destacar que elas mal subiram no ano”, escreve Louis-Vincent.

E finaliza: “Talvez o mais importante: o rendimento de dividendos das ações de energia, representado pelo índice MSCI World Energy, está aproximadamente no mesmo nível dos juros dos títulos do Tesouro americano de 10 anos. O rali nos nomes do setor de energia provavelmente está apenas começando.”

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