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O impasse sobre a queda de juros nos EUA que coloca grandes gestores em pontas opostas

André Jakurski, Luis Stuhlberger e Rogério Xavier divergem sobre até quando Fed cortará as taxas de juro

Jerome Powell, presidente do Fed: próxima decisão de juros está prevista para setembro (Drew Angerer/Getty Images)

Jerome Powell, presidente do Fed: próxima decisão de juros está prevista para setembro (Drew Angerer/Getty Images)

Publicado em 20 de agosto de 2024 às 19h15.

Última atualização em 20 de agosto de 2024 às 19h46.

Não há dúvidas entre os investidores de que os Estados Unidos iniciarão um ciclo de corte de juros em setembro. A probabilidade, indicada pelo monitor do CME Group, já ultrapassa 100%. A incerteza reside na magnitude dos cortes, o que tem dividido opiniões entre algumas das principais figuras do mercado financeiro.

Para André Jakurski, sócio-fundador da JGP, e Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde, o mercado pode estar exagerando nas projeções de queda de juros, enquanto Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX, acredita que o espaço para cortes é maior do que o esperado pela média dos investidores. As declarações foram feitas no Macro Day, evento organizado pelo banco BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da EXAME).

De acordo com a precificação de mercado, há uma chance superior a 50% de que a taxa de juros americana, atualmente entre 5,25% e 5,5%, caia para cerca de 3,5% até meados do próximo ano. No início do mês, uma deterioração inesperada nos dados de desemprego nos Estados Unidos aumentou os temores de recessão, chegando a gerar apelos no mercado por um corte de juros em uma reunião extraordinária do Fed. Essas preocupações, no entanto, foram rapidamente dissipadas por dados de atividade mais fortes.

Divergências

Jakurski argumenta que "o juro não precisa cair tanto quanto o mercado imagina", uma vez que, em sua avaliação, a economia americana "está indo muito bem". Suas  preocupações são mais estruturais: riscos geopolíticos e a baixa capacidade de governos e bancos centrais conterem uma nova crise, num momento de déficits elevados, balanços pressionados e uma grande parte da dívida hoje fora do mercado financeiro regulado.

Por outro lado, Xavier vê razões concretas para acreditar em uma desaceleração mais acentuada nos Estados Unidos. Embora reconheça que, até o momento, os balanços corporativos ainda reflitam um cenário favorável, ele destaca que as projeções de lucro apontam para um panorama mais pessimista. "As projeções são preocupantes quanto ao cenário de demanda futura. O próprio Fed mencionou ter discutido cortes de juros em julho."

Para Xavier, "ficou a sensação de que o Fed já está atrás da curva", ou seja, agindo de forma tardia em relação às mudanças econômicas. Ele acredita que o Fed ainda precisará reduzir a taxa de juros para abaixo do nível "neutro" para estimular a economia. Nesse sentido, ele pondera que vê sentido no prêmio da curva de juros americana, que precifica um corte acima de 25 pontos percentuais na próxima reunião. “Se vier qualquer dado mais fraco de mercado de trabalho, que não é o que parece que vai acontecer, mas pode acontecer, o Fed pode optar por um corte de 50 bps, é isso que está atribuído ali – e eu acho que de maneira acertada.”

Mais construtivo, Stulhberger, do Verde, acredita que o mercado foi “muito na frente” no começo do ano ao precificar as quedas e que agora está “mais racional”, mas discorda na gordura na curva, já que um corte de 25 pontos-base seria suficiente para começar a aterrissar a economia dos Estados Unidos. "Não há nada acontecendo de relevante na economia americana que justifique" o corte de 50 bps em setembro.

“Hoje, o mercado começa no topo da montanha, nos 5,25% e chega no juro de dezembro de 2025 com 3,20%. É uma queda de juros relativamente smooth [suave]”, diz. “Quem diria que dez, 11 anos depois de todo aquele processo de quantitative easing e de juro zero, tirando os excessos bons da economia americana, o novo normal do juro de equilíbrio seria alguma coisa como 1% a 1,5%?”

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