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O impacto das tarifas de Trump no império de Buffett: lucros em queda, prejuízo e pressão por reação

Conglomerado sofre queda de 59% no lucro líquido e vê investimentos e setores estratégicos serem impactados por políticas comerciais

Publicado em 4 de agosto de 2025 às 06h49.

Para a Berkshire Hathaway, as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já começaram a apresentar resultados negativos na empresa. No segundo trimestre de 2025, o conglomerado de Warren Buffett viu seus lucros recuarem, segmentos inteiros encolherem e um prejuízo bilionário surgir no balanço após a reavaliação de um de seus investimentos mais problemáticos.

O lucro líquido caiu 59%, para US$ 12,37 bilhões, frente aos US$ 30,35 bilhões registrados no mesmo período de 2024. Já o lucro operacional encolheu 4%, somando US$ 11,16 bilhões (US$ 7.760 por ação Classe A). A queda nos ganhos foi agravada por dois fatores principais: o impacto direto das novas tarifas comerciais e uma baixa contábil massiva na Kraft Heinz.

Kraft Heinz: nova baixa contábil revela desgaste estrutural

A Berkshire reconheceu uma baixa de US$ 3,76 bilhões após impostos (US$ 5 bilhões brutos) sobre sua participação na Kraft Heinz, que agora vale US$ 8,4 bilhões — menos da metade dos US$ 17 bilhões registrados no fim de 2017.

A fusão entre Kraft e Heinz, em 2015, representou uma das maiores apostas de Buffett, mas o negócio perdeu valor de forma consistente. Desde então, as ações da Kraft Heinz despencaram 62%, enquanto o S&P 500 subiu 202%.

Kyle Sanders, da Edward Jones, foi enfático: “Esse write-down era inevitável e deveria ter ocorrido antes. É um dos maiores erros de Buffett nas últimas décadas”.

O impacto das tarifas comerciais

O impacto mais perceptível das tarifas de Trump atingiu a divisão de produtos de consumo da Berkshire, que teve queda de 5,1% na receita, totalizando US$ 189 milhões. A justificativa da empresa foi clara: “as incertezas com políticas comerciais e novas tarifas provocaram atrasos em pedidos e embarques”.

Os efeitos por marca:

  • Jazwares (Squishmallows): queda de 38,5%

  • Fruit of the Loom: queda de 11,7%

  • Garan: queda de 10,1%

O único destaque positivo foi a Brooks Sports, que cresceu 18,4% no trimestre, puxada por expansão internacional e vendas diretas ao consumidor.

O braço de seguros continua como principal fonte de lucro da Berkshire. Ainda assim, o lucro operacional do setor caiu 11%, para US$ 2,53 bilhões, com a GEICO apresentando leve alta de 2% e crescimento na base de apólices.

Mas analistas já veem sinal de alerta: o aumento no custo de peças importadas, provocado pelas tarifas, pode elevar os custos com indenizações em seguros de automóveis, comprometendo o desempenho futuro da GEICO.

A BNSF Railway, uma das maiores operadoras ferroviárias dos EUA, teve crescimento de 19% no lucro operacional, para US$ 1,47 bilhão. A melhora foi atribuída à redução de custos e maior eficiência logística.

Outras divisões industriais também avançaram. A Marmon Holdings teve alta de 6,9% no lucro, enquanto o setor de varejo surpreendeu com crescimento de 11,9% nos ganhos antes de impostos.

A Berkshire Hathaway Energy reportou um recuo de 2,6% no lucro operacional. Sem as provisões ligadas a incêndios, como em 2024, o resultado foi considerado estável. Ainda assim, o setor enfrenta incertezas regulatórias e o risco de novas tarifas sobre componentes importados para energia renovável, como turbinas e painéis solares.

A empresa encerrou o trimestre com US$ 344,1 bilhões em caixa, ligeiramente abaixo dos US$ 347,7 bilhões do fim de março. Foi o 11º trimestre consecutivo em que a Berkshire vendeu mais ações do que comprou, com US$ 6,92 bilhões em vendas e apenas US$ 3,9 bilhões em compras.

Mesmo com as ações em queda de mais de 12% desde maio, a Berkshire não realizou recompras pelo quarto trimestre consecutivo, reforçando a avaliação de que o preço de mercado continua acima do valor intrínseco estimado pela gestão.

Transição de comando aumenta cautela no mercado

Com a saída de Warren Buffett da função de CEO ao fim de 2025, e a entrada de Greg Abel como novo chefe executivo, o mercado acompanha com cautela os primeiros sinais de mudança de gestão. Buffett seguirá como presidente do conselho.

Analistas como Cathy Seifert (CFRA Research) e Kyle Sanders (Edward Jones) mantêm recomendações de “manter” as ações, citando a falta de clareza sobre os planos estratégicos no novo comando e a ausência de medidas reativas diante de um ambiente econômico desafiador.

Desde o pico em maio, as ações Classe A da Berkshire acumulam queda superior a 12%, contra alta de 6,4% no S&P 500. Essa diferença acende um sinal de alerta entre investidores, que veem na companhia um “termômetro” da economia americana.

Brian Meredith, analista do UBS, mantém recomendação de “compra forte”, com preço-alvo de US$ 887.099 por ação Classe A, mas não espera recompras em 2025 nem 2026. Já o Morningstar avalia que as ações Classe B estão “levemente subvalorizadas”, com preço justo de US$ 487.

A expectativa do mercado agora se volta para os próximos trimestres, que testarão a capacidade da nova gestão de conduzir a Berkshire em um cenário global cada vez mais volátil — e politicamente imprevisível.

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