Lula e Trump: presidentes se encontraram no domingo, 26 (ANDREW CABALLERO-REYNOLDS /AFP)
Repórter
Publicado em 27 de outubro de 2025 às 05h47.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta segunda-feira, 27, que um acordo com o americano Donald Trump está garantido. Lula disse nesta manhã, em uma coletiva da cúpula da Asean na Malásia, que as discussões com Trump foram bem e que um acordo seria alcançado "mais rápido do que qualquer um pensa".
A afirmação acontece um dia depois de ambos os presidentes se encontrarem. No domingo, 26, os dois tiveram uma reunião presencial em Kuala Lumpur, na Malásia. Segundo eles, há espaço para acordos para reduzir a tarifa de 50%, imposta pelos EUA a produtos brasileiros em agosto, bem como buscar acordos em outros temas.
O encontro pode ser o suficiente para animar o mercado — pelo menos por enquanto.
Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, avalia que o gesto representa “um passo necessário para desescalar um atrito que já trouxe aumento de volatilidade e custo para setores exportadores brasileiros”.
Para ele, trata-se de uma oportunidade, mas não de uma solução automática. A materialização de benefícios, segundo ele, dependerá de negociações técnicas bem estruturadas e, sobretudo, da capacidade do Brasil de transformar essa janela diplomática em sinais concretos de previsibilidade econômica.
"Se as equipes conseguirem um acordo com suspensão temporária de tarifas e caminhos claros para retirada gradual, veremos redução do prêmio de risco e janelas de compra atrativas; se ficar apenas no simbólico, a incerteza continuará compressiva sobre ativos e investimentos", afirmou.
Gallo observa que a agenda poderá incluir rodadas técnicas entre ministérios e órgãos econômicos para mapear produtos afetados, acordos setoriais de exceção para amortecer o impacto tarifário e mecanismos condicionais com cronogramas escalonados para retirada gradual.
Com a Selic em torno de 15%, o Banco Central (BC) mantém uma postura vigilante, mas um avanço técnico nas negociações tende a abrir espaço para descompressão nos prêmios de risco, pressionando os juros soberanos para baixo no curto prazo e aliviando o spread de crédito, segundo Gallo.
Mesmo assim, o Copom só deverá iniciar um ciclo de afrouxamento monetário com respaldo de dados domésticos de inflação e atividade, o que pode empurrar cortes de juros para o primeiro trimestre de 2026.
No câmbio, Gallo projeta uma apreciação do real de 1% a 3% nas primeiras sessões, caso a sinalização seja considerada crível pelos agentes de mercado, revertendo parte da pressão causada pelas tarifas sobre exportações e passivos em moeda local.
Caso o acordo avance com anúncios formais de suspensão de tarifas ou de um roteiro estruturado de redução, o mercado deve reagir de forma concreta já nesta segunda.
A expectativa de Gallo inclui queda do dólar frente ao real no início do pregão, recuo de 10 a 40 pontos-base nos juros prefixados de curto e médio prazo, valorização intradiária de ações ligadas à exportação e à indústria, e uma possível retomada negociada de fluxo estrangeiro para ativos brasileiros.
José Victor Cassiolato, estrategista da Victrix Capital, classificou o encontro como um movimento inesperado e com alto peso político.
"O encontro na Malásia entre Lula e Trump, suas equipes, fez o que parecia impossível, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos", disse Cassiolato. "Reuniu em uma mesa em um tom que foi descrito como descontraído, onde houve uma atuação elogiosa de ambas as partes e segmentou as expectativas do mercado de que a crise tarifária brasileira com os Estados Unidos pode ser mais um ganho político do governo Lula."
Segundo o estrategista, do ponto de vista imediato ainda não há nenhum impacto em setores específicos. "Mas se espera que com o alívio das tarifas a gente tenha algumas empresas brasileiras que voltem a se valorizar, recuperando parte do prejuízo que haviam aferido no momento em que as tarifas foram anunciadas."
Para Cassiolato, "o que fica de pano de fundo é principalmente mais um passo que amalgama a candidatura do Lula para as próximas eleições em 2026 e todos os impactos que isso pode trazer para o mercado, tanto de expectativas com relação à gestão da política fiscal, como da trajetória da política monetária também".
"A gente vê esse cenário bem positivo no curto prazo para as empresas e um cenário eleitoral mais próximo e ainda mais presente nas discussões de investimento agora, caminhando para o final do ano e para a virada de 2026", disse.