Novo iPhone será apresentado nesta terça-feira (8) (Reprodução)
Editor de Invest
Publicado em 9 de setembro de 2025 às 06h00.
Última atualização em 9 de setembro de 2025 às 10h31.
Historicamente, nos dias em que a Apple (AAPL34) lança um novo iPhone, as ações da companhia caem. Investidores deixam para embolsar lucros no anúncio da novidade e são nos dias e semanas anteriores que o papel costuma subir. Parte desse ritual de fato se cumpriu, afinal, a ação não só se recuperou da mínima de US$ 169,21 que chegou a atingir este ano, em abril, como acumula alta de quase 41% desde então.
Esta terça-feira, 9, selará ou não a profecia quando o iPhone 17 for oficialmente lançado. O evento, como de costume, ganha o foco dos amantes de tecnologia, mas também dos investidores.
É o momento em que a Apple prova suas capacidades de inovação num contexto acirrado por avanços das tecnologias de ponta, sobretudo no tema de inteligência artificial, onde a companhia não é exatamente uma referência.
O gestor de portfólio da Prime Capital Financial, firma de investimentos americana, disse não estar esperando funcionalidades que realmente instiguem a compra do novo aparelho. "É difícil recomendar a abertura ou montagem de uma posição sobre o evento, especialmente após o rali que a ação passou", afirmou Clayton Allison à Bloomberg.
Dados compilados pela agência mostra otimismo moderado dos investidores pela Apple. Menos de 60% dos analistas recomenda a compra da ação. Parece um bom percentual, mas está bem abaixo dos 90% que tem o mesmo tipo de avaliação para Microsoft, por exemplo.
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Uma das casas que mantém posição no papel é a americana Matrix Asset Advisors. David Katz, chefe de investimentos da instituição, avalia que a ação não está barata, ainda que tenha uma queda acumulada de 5,7% no ano. A tendência de alta, segundo ele, parece limitada.
"Os maiores riscos cessaram, mas não teremos outra leva de alta até termos um plano claro sobre o uso de inteligência artificial. Se isso ocorrer neste evento, será uma surpresa", disse à Bloomberg.
A EXAME conversou com Pedro Oiticica, sócio e analista da gestora Nextep, que acompanha a tese de tecnologia e também acha improvável que as ações da Apple ganhem novo impulso com o lançamento do iPhone 17.
EXAME: O lançamento do iPhone pode ser um catalisador para ações da Apple - ou ação está cara demais para isso?
Pedro Oiticica: Acho que, acima de tudo, é preciso que o evento traga novidades à mesa para além das tradicionais melhorias incrementais, de aumento de tela, qualidade de câmera e vida de bateria, que normalmente fizeram parte dos últimos anúncios de inovações do iPhone. Pelo que já foi ventilado pelo mercado, vai haver, de fato, uma mudança mais expressiva no design e componentes do aparelho, mas não se pode dizer no momento, sem mais informações, que são mudanças transformacionais do ponto de vista de geração de receitas.
A Apple, em termos gerais, por ser dominante e líder em seu mercado, enfrenta um teto de crescimento que não é elevado exatamente porque seu mercado endereçável já é, em grande parte, dominado por ela. Então, por essa razão, é fundamental que ela encontre novas avenidas de crescimento que, de fato, movam a agulha e a direcionem para um caminho de expansão de receitas e lucros mais elevados.
EXAME: O que o aparelho precisa trazer de mais inovador para deixar o investidor animado?
Pedro Oiticica: A Apple, nos últimos anos, ficou para trás nessa guerra de inteligência artificial por ter subinvestido nessa tecnologia e por ter integrações menos óbvias entre seus principais produtos e essa tecnologia nascente. Google, Meta e Amazon têm integrações óbvias e nítidas de IA ao seu core business.
O pilar central para um caso de investimento otimista em torno da Apple é de que essas novas funcionalidades que podem vir a surgir crie um super ciclo de vendas de iPhones. Seja uma Siri mais inteligente, capaz de entender comandos complexos; funcionalidades avançadas de edição de mídia; assistência na escrita; ou inteligência do aparelho proativa, que integre aplicativos e entenda o contexto do uso do celular.
Os anúncios desta terça-feira servem para criar os pilares de sustentação de um novo futuro em que a empresa tenha aparelhos potentes, capazes de processar software, com tecnologias que permitam o surgimento dessas funcionalidades imersivas. É com elas que, no meu entender, a Apple pode criar uma futuro de crescimento mais acelerado.
EXAME: As tarifas de Trump podem ser refletidas nos preços dos lançamentos?
Pedro Oiticica: Não é de se esperar um aumento significativo no preço dos iPhones por conta das tarifas, o que não quer dizer que não haverá um impacto causado por elas ao resultado. Recentemente, com analistas, o Tim Cook indicou que vai haver no trimestre um impacto de cerca de US$ 1,1 bilhão aos custos. Não é pouco, mas, pelo tamanho das receitas da empresa, é nada preocupante.
Acredito que hoje os preços não vão ser impactados de forma significativa por conta das tarifas, exatamente porque a Apple se movimentou nos bastidores para reduzir esse risco político e tarifário que paira no ar.
Os acordos tarifários, no entanto, ainda são muito incertos hoje e, exatamente por isso, o risco político e comercial é relevante. A Apple se movimentou nos bastidores e chegou a acordos com o governo americano nos últimos meses. Transferiu a maior parte da produção de iPhones destinados aos EUA para a Índia, reduzindo a dependência da China.
Embora as tarifas sobre a maioria dos produtos indianos tenham sido elevadas recentemente, os iPhones vão entrar potencialmente numa lista de exceções. Por outro lado, o Trump também sinalizou que a Apple poderia ser isenta de tarifas futuras se a empresa se comprometesse a produzir nos EUA.
A Apple anunciou um investimento de centenas de bilhões de dólares para expandir as operações americanas. Mas eu acho que é uma ilusão acreditar que vai haver um futuro em que um iPhone seja inteiramente fabricado nos EUA. É impossível que isso aconteça.
No máximo, eu acredito que os investimentos em cadeias de suprimentos e produção nos EUA sejam destinados à fabricação de certos componentes do produto e não do produto em sua totalidade.
*com agências internacionais