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O carnê, os Mamonas e a nova gestora: a história, e os donos, da Casas Bahia (BHIA3)

Entre crédito facilitado, fusões e disputas acionárias, a trajetória da Casas Bahia é repleta de reviravoltas e ganha novos capítulos nesta quinta-feira, 7

Casas Bahia: varejista tem quase 70 anos de história (Adobe Stock/Divulgação)

Casas Bahia: varejista tem quase 70 anos de história (Adobe Stock/Divulgação)

Rebecca Crepaldi
Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 7 de agosto de 2025 às 18h47.

Última atualização em 8 de agosto de 2025 às 10h54.

A varejista Casas Bahia (BHIA3) ganhou um novo dono nesta quinta-feira, 7. A gestora Mapa Capital vai converter em ações R$ 1,6 bilhão em dívidas, passando a ser a maior acionista da companhia, com 85% do total.

É parte de um movimento de reestruturação de uma empresa que vive intensa mudança societária nos últimos anos. Relembre a história de uma das mais tradicionais companhias brasileiras.

A história da varejista 

Foi no carnê e no crediário que a Casas Bahia (BHIA3) fincou seu império. Com o Baianinho (mascote da companhia) na TV e o bordão “Dedicação total a você” na boca do povo, a empresa virou sinônimo de consumo popular. Enquanto outras falavam em classes sociais, ela vendia geladeira em 12 vezes no boleto. E foi assim, parcelando sonhos, que se tornou gigante do varejo entre as décadas de 1970 e 1990.

A história da Casas Bahia começa na Polônia, onde seu fundador, Samuel Klein, nasceu em 1923. Sobrevivente do Holocausto depois de passar por campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial, Klein fugiu, ainda jovem, para a Alemanha e lá iniciou sua vida como comerciante — até decidir tentar a sorte na América do Sul.

Após uma breve passagem pela Bolívia, chegou ao Brasil com a família e se instalou em São Caetano do Sul, no ABC Paulista, onde começou a vender roupas de cama e banho em uma charrete, atendendo principalmente migrantes nordestinos, com destaque para os baianos.

Foi em homenagem a esses primeiros clientes que, em 1957, Klein abriu sua primeira loja, batizada de Casas Bahia. Sem educação formal — ele não tinha nem o ensino primário completo —, confiava no nome e na palavra dos consumidores, muitos deles sem acesso ao sistema bancário. Desde o início, focou na classe C, oferecendo crédito facilitado e parcelamento, criando uma operação com base no carnê, bem antes de o consumo popular virar tendência no mercado.

Com essa fórmula, o negócio se expandiu rapidamente. Klein passou a vender móveis, eletrodomésticos e outros bens duráveis, abrindo filiais em São Paulo e na Baixada Santista nos anos 1960. O crescimento levou a empresa a virar case de estudo em Harvard, além de suas lojas se transformarem em ícone da paisagem urbana de grandes cidades. Foi eternizada na cultura pop com a banda Mamonas Assassinas, em 1995, na canção Chopis Centis — aquela da letra "A minha felicidade/ é um crediário/ nas Casas Bahia".

Atualmente, a companhia tem mais de 900 lojas espalhadas por todo o Brasil.

O vaivém dos donos

Em 2009, a família Klein vendeu o controle da varejista para o Grupo Pão de Açúcar (GPA). Em meados de julho de 2010, ela protagonizava uma das maiores movimentações do varejo nacional ao se fundir com o Ponto Frio — rede fundada nos anos 1940 e hoje conhecida apenas como Ponto. Nascia assim a Via Varejo.

A operação, que levou cerca de quatro meses para ser estruturada, foi liderada pelo então presidente do Conselho do GPA, Abilio Diniz, e contou com um aporte de aproximadamente R$ 690 milhões na época. A fusão representava uma ofensiva direta para reforçar a competitividade da nova holding, especialmente diante do avanço de concorrentes como o Magazine Luiza (MGLU3).

Desde que a família Klein vendeu o controle da Casas Bahia ao GPA em 2009, a relação com o negócio foi marcada por reaproximações pontuais e rupturas constantes. Durante a fusão, Michael Klein apoiou o movimento, mas passou a contestá-lo pouco depois, alegando que os ativos da família haviam sido subavaliados.

A tensão levou a uma renegociação: os Klein ficaram com 47% da nova companhia, e o filho de Michael, Raphael Klein, assumiu a presidência. Dois anos depois, com a saída de Raphael da presidência, Michael tentou recomprar a empresa — sem sucesso

O retorno ao controle só viria em 2019, quando Michael liderou um grupo de investidores na compra da fatia do GPA em um leilão na B3. Após idas e vindas da família Klein, atualmente, só é possível afirmar que de participação relevante no negócio, Michael faz parte.

Última tacada

Neste ano, Michael Klein elevou sua participação individual na Casas Bahia para 10,42% do capital, consolidando-se como um dos principais acionistas da empresa. O empresário vinha comprando ações da empresa ao longo de março — período em que a ação estava bastante descontada em meio às dificuldades financeiras da varejista.

O movimento foi acompanhado por um pedido formal para reassumir a presidência do conselho de administração — mas desistiu do pedido de convocação de Assembleia Geral Extraordinária (AGE).

Na última tacada da troca de comando, a Mapa Capital é quem será a nova dona. A gestora vai converter R$ 1,6 bilhão em dívidas da Casas Bahia em ações, passando a deter 85% dos papéis da companhia e se tornando sua maior acionista. A operação faz parte de um amplo processo de reestruturação da varejista, que busca reduzir o endividamento e reorganizar sua estrutura societária.

E quem é que controla a Mapa? Beda, ex-Itaú BBA, criou a Mapa em 2013 ao lado do ex-colega de banco André Helmeister e de Paulo Silvestri, que atuou como sócio na área de private equity da Rio Bravo Investimentos. A Mapa se apresenta como uma gestora especializada em soluções de capital, oferecendo serviços que vão desde a assessoria em fusões e aquisições até investimentos próprios.

A conversão das debêntures deve reduzir a dívida da Casas Bahia de R$ 4,55 bilhões para R$ 2,98 bilhões, além de diminuir a alavancagem para 0,8 vez o Ebitda, conforme informou a própria companhia em comunicado divulgado em junho.

Resta saber se a combinação entre a nova gestão da Mapa Capital, a vontade de voltar da família Klein e a forte reestruturação financeira será suficiente para devolver à Casas Bahia o brilho e a relevância que a tornaram um ícone do varejo popular brasileiro.

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