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O Bitcoin é a mãe de todas as bolhas?

Um dos principais nomes de Wall St está criando um fundo de meio bilhão de dólares para investir em moedas virtuais

Bitcoin: só este mês, o bitcoin atingiu uma cotação de quase 5.000 dólares, e aí caiu 40% em duas semanas (Dado Ruvic/ Illustration/Reuters)

Bitcoin: só este mês, o bitcoin atingiu uma cotação de quase 5.000 dólares, e aí caiu 40% em duas semanas (Dado Ruvic/ Illustration/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2017 às 17h36.

Última atualização em 10 de outubro de 2017 às 10h31.

Com uma valorização de 450% só este ano, é natural que muita gente esteja considerando o mercado de bitcoins como uma bolha financeira. O bilionário Mike Novogratz vai além: para ele, as criptomoedas (dinheiro digital protegido por criptografia) são “a mãe de todas as bolhas”.

Para a maioria das pessoas, uma declaração dessas serviria como alerta para se manter longe desse mercado. Para Novogratz, é um estímulo: de acordo com a Bloomberg, ele está lançando um hedge fund de meio bilhão de dólares para investir em criptomoedas, ICOs (ofertas iniciais de moedas digitais) e companhias relacionadas a estes mercados.

“Esta vai ser a maior bolha de nossas vidas”, ele disse à TV Bloomberg. “Os preços vão subir muito além de onde deveriam. Vai dar para fazer bastante dinheiro nessa alta, e nós queremos estar nisso.”

Claro, o segredo de surfar numa bolha é chegar o mais alto que puder… e sair antes que ela estoure. A segunda parte é a mais difícil.

Novogratz fez fortuna como chefe de informações e diretor de fundos da Fortress, uma gestora de recursos com 72 bilhões de dólares em investimentos. Ele saiu de lá em 2015, quando o fundo que geria, com 2,3 bilhões de dólares em investimentos, dava resultados pífios havia dois anos. Uma das principais razões para isso foi sua aposta ousada no crescimento do Brasil.

Apesar do confessado fracasso, ele saiu com um prêmio de consolação de 255 milhões de dólares. Merecido, segundo diversos analistas, porque antes disso ele foi a principal face da Fortress, uma peça essencial para fazê-la chegar ao tamanho que tem.

Entre o Brasil e a China

Algum observador mais irônico poderia dizer que, depois de uma experiência com o Brasil, a volatilidade do Bitcoin deveria ser fichinha. Brincadeira, é claro. Mas a premissa nos dois casos é a mesma: apostar em um fenômeno que deverá cumprir seu potencial no futuro. Parece ser um consenso que as moedas virtuais – ou pelo menos o mecanismo do blockchain, que as sustenta – vão revolucionar as finanças.

“Lembre-se, as bolhas acontecem em torno de coisas que fundamentalmente mudam o nosso modo de vida”, ele disse. “A bolha das ferrovias. A bolha da internet. Quando eu olho para daqui a cinco, dez anos, as possibilidades realmente despertam nosso espírito animal.”

O que atrai alguém como Novogratz para esse mercado é justamente sua volatilidade. Só este mês, o bitcoin atingiu uma cotação de quase 5.000 dólares, e aí caiu 40% em duas semanas, ante a notícia de que a China – um mercado crucial par – iria banir as ofertas iniciais de criptomoeda e o comércio doméstico em moedas virtuais.

O temor não era infundado. Os chineses aderiram tão fortemente ao Bitcoin que hoje dominam a mineração de moedas (um processo de resolver a criptografia embutida em um contrato, que cria os bitcoins). Para isso têm “fazendas”, na verdade megacomputadores dedicados ao esforço de resolver os enigmas, por tentativa e erro.

Só que o Partido Comunista Chinês abriu os olhos para uma moeda que, em seu nascedouro, trouxe a promessa de livrar-se de qualquer vigilância. Capitalismo, sim, o governo chinês quer. Mas capitalismo com rédeas na mão do Estado.

Se essa medida tivesse sido tomada há alguns meses, teria sido mais desastrosa. Mas as negociações de bitcoins, que já foram 90% realizadas na China, hoje em dia ganharam um certo equilíbrio, com o aumento de operações no Japão e nos Estados Unidos.

Não é que o endurecimento chinês não tenha sido sentido. Mas a moeda recuperou metade de suas perdas na segunda quinzena de setembro.

Isso aconteceu porque o Japão, especialmente, andou na contramão da China: a agência de serviços financeiros do país reconheceu oficialmente 11 companhias como operadores regularizados de moedas virtuais.

“O Japão está explodindo com demanda tanto dos negócios com moedas virtuais como com serviços ligados a elas”, disse Yuzo Kano, executivo-chefe de uma das operadoras, a bitFlyer, que tem mais de 800.000 usuários.

O risco ainda existe. Se o governo chinês proibir a mineração de bitcoins, pode criar um vácuo e sérias turbulências no mercado. Pelo menos no curto prazo haveria perda de liquidez e uma desvalorização grande da moeda. Mas a Mongólia e Hong Kong já se impõem hoje como alternativas para sediar as mineradoras – embora o custo da eletricidade para fazer os computadores funcionar seja até 6 vezes maior.

Há também outras ameaças, é claro. A comissão reguladora do mercado financeiro americano, SEC, acaba de anunciar uma unidade para analisar o mercado de criptomoedas. Várias instituições financeiras – como o JPMorgan e a Merrill Lynch – condenaram o Bitcoin, basicamente dizendo que essa bolha vai estourar.

Disso pouca gente tem dúvida. Mas alguns acreditam que ela ainda vai crescer muito antes disso.

 

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