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Nvidia não convence e ações de tecnologia caem nos EUA. O que aconteceu?

Bom-humor dos mercados não dura e bolsas americanas apagam ganhos; o que parecia ser um rali se transformou em um dos dias mais voláteis dos últimos meses

Mercados dos EUA: bolsas americanas caem nesta sexta-feira, 21 (mikolajn/Getty Images)

Mercados dos EUA: bolsas americanas caem nesta sexta-feira, 21 (mikolajn/Getty Images)

Publicado em 21 de novembro de 2025 às 06h10.

Última atualização em 21 de novembro de 2025 às 06h27.

A quinta-feira, 20, foi uma roda-gigante de emoções para o mercado externo. Nos Estados Unidos, o dia começou com forte otimismo em relação às ações de tecnologia, depois que os resultados da Nvidia (NVDA) — divulgados na véspera — ajudaram a aliviar, ao menos por algumas horas, o temor de que o setor estivesse vivendo uma bolha de inteligência artificial (IA).

Mas o bom-humor não durou. No meio da tarde, o mercado virou abruptamente, e o que parecia ser um rali se transformou em um dos dias mais voláteis dos últimos meses. E a tendência é piorar, já que as bolsas globais amanheceram de mau-humor.

Wall Street vira para o negativo após forte alta pela manhã

O Nasdaq Composite, que chegou a subir 2,6%, encerrou a quinta em queda de 2,16%. O S&P 500, que avançava 1,9%, terminou o pregão com baixa de 1,56%. O Dow Jones também oscilou fortemente: houve um movimento de cerca de mil pontos, mas o índice fechou em queda de 0,84%.

A turbulência foi puxada principalmente pela Nvidia. A ação da gigante de IA iniciou o dia em forte alta, chegando a subir 5%, mas perdeu força ao longo da sessão e terminou com queda de 3,2%. O movimento contaminou outras empresas ligadas à inteligência artificial, como Oracle e AMD, que seguiram trajetórias semelhantes.

Segundo José Torres, economista sênior da Interactive Brokers, a virada foi um “retorno colossal em U”, que derrubou o S&P 500 mesmo após o índice ultrapassar  a média móvel de 50 dias pela manhã.

"A alta matinal levou o S&P 500 significativamente acima de sua média móvel de 50 dias, um indicador amplamente acompanhado, enquanto investidores otimistas e pessimistas debatiam se o setor de tecnologia estava ou não em uma bolha, mesmo com o CEO Jensen Huang tentando minimizar as preocupações com excessos. Os investidores que priorizam a redução de preços, no entanto, conseguiram uma interceptação durante o pregão, em uma reviravolta dramática digna da NFL", disse Torres ao Business Insider.

Payroll forte aumenta pressão sobre juros

Outro fator que pesou sobre o mercado foi o relatório de empregos dos EUA (payroll) de setembro — divulgado com atraso devido ao shutdown do governo americano.

Embora represente um cenário de dois meses atrás, o número foi bem acima do esperado, com 119 mil vagas criadas, mais que o dobro do consenso do mercado.

O dado reforçou a percepção de que o mercado de trabalho continua aquecido, reduzindo as apostas de um corte de juros pelo Federal Reserve (Fed) em dezembro. Segundo projeções de Wall Street, aumentou a probabilidade de que o Fed mantenha as taxas como estão na próxima reunião.

Por que a Nvidia não salvou o dia?

Mesmo com o impacto da Nvidia nos primeiros minutos de pregão, analistas apontam que a empresa sozinha não teria como sustentar o rali. David Rosenberg, economista e presidente da Rosenberg Research, afirmou que “há muitas décadas uma única ação não movia o mercado como a Nvidia”.

Ele alertou, porém, que o entusiasmo em torno da IA “continua sendo uma bolha de proporções épicas”, observando que o mercado está precificando um crescimento oito vezes maior no setor em apenas cinco anos.

Outros especialistas também mantêm cautela. Gil Luria, chefe de pesquisa tecnológica da D.A. Davidson, afirmou à CNBC que a Nvidia não é o centro do problema — e sim as empresas que estão se endividando agressivamente para construir data centers. Para ele, esse movimento é “especulativo” e pode passar por uma correção em dois ou três anos, quando a capacidade global atingirá o limite. Ainda assim, diz Luria, a Nvidia terá espaço para continuar vendendo chips.

No campo oposto, analistas como Brian Mulberry, da Zacks Investment Management, seguem confiantes no papel da Nvidia, citando sua forte demanda e redes de parcerias — entre elas, acordos bilionários com Anthropic, OpenAI, Microsoft, Intel e Nokia.

Michael Burry, famoso por prever a crise de 2008, manifestou preocupação com o alto custo energético dos chips da empresa. Ele observou que modelos antigos, como o A100, consomem até três vezes mais energia que os mais novos, e que até estes já são muito menos eficientes que a nova geração Blackwell — um desequilíbrio que, na visão dele, ameaça a rentabilidade futura do setor de IA como um todo.

Apesar das divergências, a Nvidia segue vista como protagonista da nova era de computação — ainda que, como mostrou o pregão de quinta-feira, nem mesmo ela tenha sido capaz de evitar um dia de forte aversão ao risco nos mercados globais.

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